De Maurício Mellone em setembro 25, 2024
Comédia de costumes que provoca reflexões sobre a vida conjugal. Esse o mote central do texto inédito de Gustavo Pinheiro, Dois de Nós, com Antonio Fagundes, Christiane Torloni, Thiago Fragoso e Alexandra Martins e direção de José Possi Netto. A montagem está em cartaz no Teatro Tuca até dezembro.
Com o cuidado de não adiantar segredos da peça (o famoso spolier), o espectador tem a chance de assistir a performance no palco de atores de gerações distintas: o casal mais experiente, interpretado por Torloni e Fagundes — que já contracenaram no cinema e na TV, mas é a primeira vez no teatro —, é questionado pelo casal mais novo, vivido por Alexandra e Thiago. Este confronto, não só de gerações, provoca uma discussão atual sobre temas que afligem a todos, como o machismo estrutural, o etarismo, papel da mulher do mercado de trabalho, sucesso e fracasso profissional, rotina nas relações amorosas, desejo sexual, além de mágoas, frustrações e limitações impostas pela idade. E tudo isto vem à tona com muito humor e ironia.
Tudo começa com a chegada de Maria Helena e Pedro Paulo (Torloni e Fagundes) no quarto de um hotel, depois da festa de bodas de amigos deles. O tom é de alegria e ironia, com comentários sobre os anfitriões e a festança. Logo a conversa passa a ser sobre a vida deles mesmos e o clima deixa de ser amistoso, com as primeiras lembranças sobre o relacionamento deles e as diferenças e rusgas, já que estiveram naquele mesmo hotel anos antes.
Corte e entra em cena o casal mais jovem, que estava em uma festa de Carnaval. O ambiente é o mesmo, o quarto de hotel, assim como o clima entre eles: estão muito contentes e não se cansam de falar sobre a folia e de seus amigos. No entanto, cenas de ciúme e pequenas discussões afloram. Detalhe: o casal mais experiente assiste a tudo, assim como a plateia. No entanto, logo eles interferem no embate do casal mais novo e o cotidiano da vida conjugal passa a ser o tema central da discussão, o que aumenta ainda mais a identificação com os espectadores. O riso surge da situação vivida pelos personagens, mas também sobre as vivências de cada um de nós.
“Esta peça é uma comédia que impõe e expõe ao espelho a história de dois casais contemporâneos e essencialmente brasileiros. Noves fora as rabugices e implicâncias que nos fazem morrer de rir, assistimos o desnudar de quatro personagens revelando suas dores e mazelas, suas vitórias e alegrias. Eles atravessam, em uma hora e meia de espetáculo, uma longa noite cumprindo o exercício fundamental do teatro que é enfrentar os deuses e mudar seu próprio destino”, argumenta o diretor José Possi Netto.
Além da sintonia da interpretação e o entrosamento em cena dos quatro atores, o grande destaque da montagem é a empatia e a identificação que o texto propicia com cada um dos espectadores. Particularmente fiquei muito impactado com descrição minuciosa e verossímil sobre como o mercado de trabalho age de forma cruel com os profissionais mais velhos (o descarte aos idosos e experientes).
O trabalho de Fábio Namatame deve ser ressaltado: ele assina a luxuosa cenografia e os belos figurinos. Destaque também para a iluminação de Wagner Freire, em consonância com o desenrolar da narrativa. E a iniciativa de Antonio Fagundes em se preocupar com a formação de plateia merece todos os aplausos: ele promove a presença do público nos ensaios, permite que alguns espectadores tenham acesso aos bastidores da produção e ao final das sessões realiza um grande bate papo com os presentes. Com certeza este trabalho proporciona que um número cada vez maior de pessoas se interesse pelo teatro, além de resultar no sucesso de suas produções. A comédia Baixa Terapia, o último trabalho de Fagundes ao lado de Alexandra e grande elenco, contou com mais de 400 mil espectadores, em 600 apresentações pelo Brasil, Portugal e EUA. Outro diferencial: as temporadas das peças com Fagundes são grandes e geralmente viajam pelo país. Confira, a peça permanece em cartaz até dezembro e no ano que vem volta ao Tuca.
Roteiro:
Dois de Nós. Texto: Gustavo Pinheiro Direção: José Possi Netto. Assistente de direção: Antonio Fagundes. Elenco: Antonio Fagundes, Christiane Torloni, Thiago Fragoso e Alexandra Martins. Figurinos e cenários: Fábio Namatame. Desenho de Luz: Wagner Freire. Fotografia: Renata Casagrande e Caio Gallucci. Produção: Antonio Fagundes. Produção executiva: Alexandra Martins.
Serviço:
Teatro Tuca (672 lugares), Rua Monte Alegre, 1024, tel: (11) 3670-8455. Horários: sexta às 21h, sábado às 20h e domingo às 17h. Ingressos: R$160 e R$80. Vendas: Sympla ou na bilheteria. Duração: 90 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 15 de dezembro.
2 Comentários
Aguda Ferreira
outubro 5, 2024 @ 14:40
Surpresa ruim. Tema bom com diálogos cheio de clichês. Valeu pelas atuações de Torlone e Fagundes.
O bate papo depois da peça monopolizado pela arrogância da Alexandra.
Maurício Mellone
outubro 6, 2024 @ 09:59
Aguda:
obrigado por sua visita.
Volte sempre