Dois Papas: Zécarlos Machado e Celso Frateschi em peça inédita no país

De em março 26, 2025

 

 

Zécarlos vive o Papa Bento XVI e Frateschi, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio

 

 

Montagem inédita no Brasil, a peça Dois Papas, do produtor, escritor e dramaturgo neozelandês Anthony McCarten, traz o confronto de ideias entre Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, e o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que seria eleito o atual Papa Francisco. Com direção de Munir Kanaan, o espetáculo traz no elenco Zécarlos Machado como Bento XVI, Celso Frateschi como o cardeal argentino, além de Eliana Guttman na pele da Irmã Brigitta e Carol Godoy como a Irmã Sofia.

 

 

A peça — em cartaz até 27/04 no Sesc Santo Amaro —, adaptada do livro de McCarten, estreou em Londres/Inglaterra e em 2019 foi adaptada para o cinema, com direção de Fernando Meirelles, tendo Anthony Hopkins e Jonathan Pryce nos papéis centrais. Nesta primeira encenação no país, o diretor chama a atenção para a participação feminina:

 

 

“Ausente no filme, a voz feminina tem um peso grande na versão teatral, personificada pelas duas freiras que são as interlocutoras tanto de um como de outro ‘papa’ ao longo do primeiro ato. Além de trabalhar com grandes atrizes, este elemento redimensiona de maneira importante uma narrativa que, de outra forma, seria inteiramente masculina”, explica Munir Kanaan. 

 

 

 

Bento XVI e a Irmã Brigitta (Eliana Guttman)

 

Antes mesmo de começar o espetáculo, Zécarlos entra em cena e é auxiliado a se vestir com a indumentária papal. Já na pele de Bento XVI, ele faz uma aparição como se estivesse diante dos fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano. A cena seguinte já mostra o Papa num encontro informal com a Irmã Brigitta, que o auxiliava na edição de sua obra. É para ela que o pontífice confessa pela primeira vez sua intenção de renunciar ao papado. Assustada, a religiosa tenta dissuadi-lo e argumentar sobre sua importância para os católicos do mundo inteiro.

 

 

 

 

 

Irmã Sofia (Carol Godoy) e o cardeal Bergoglio

 

Na sequência, o então cardeal Bergoglio também se mostra sem ânimo para continuar sua missão eclesiástica, já que não concorda com as diretrizes dadas por Bento XVI para a Igreja. O cardeal fala para a Irmã Sofia de sua esperança em receber a resposta positiva do Vaticano para o pedido de aposentadoria e ela discorda veementemente desta ideia. No entanto, o cardeal é surpreendido com um convite do Papa para visitá-lo em Roma.

 

 

 

 

 

Confronto de ideias entre os religiosos

 

 

Depois de um intervalo, o segundo ato é totalmente dedicado ao encontro dos dois religiosos. Com diálogos fictícios criados pelo dramaturgo, há o confronto de ideias e visões de mundo, mas com total respeito e amizade. Além das figuras públicas conhecidas, a montagem ressalta o lado pessoal e íntimo dos líderes religiosos:

 

 

 

 

 

 

“E o mais interessante que busquei iluminar é a intimidade desses dois homens, aquilo que não vemos. A possibilidade do diálogo é o que move essa história, são duas visões de vida completamente diferentes. Apesar de Bento XVI ser mais conservador, é ele quem chama Bergoglio para a conversa, que apesar de ser um homem mais aberto, chega hesitante. São as complexidades desse encontro que conduzem o diálogo sobre a necessidade de mudanças”, argumenta o diretor. 

 

 

 

 

Zécarlos e Celso: perfeita sintonia em cena

 

 

Sem dúvida o grande destaque do espetáculo é a interação e sintonia em cena dos dois atores: Celso e Zécarlos, que já dividiram o palco na década de 1980 e na TV, transmitem verdade ao mostrar as várias facetas dos religiosos e o embate de ideias entre eles. Outro destaque fica para a cenografia de Eric Lenate: os módulos brancos de vários tamanhos se transformam em bancos, mesas, órgão e altar; nestes módulos também são transmitidas imagens com informações documentais, que reforçam a importância do encontro entre os religiosos.

 

 

 

 

 

 

No entanto, a duração do espetáculo (apesar do intervalo) é muito longa, o diretor poderia ter editado algumas cenas. Mesmo assim, hoje, que vivemos num mundo tão polarizado, é de extrema importância assistir a uma peça em que o diálogo, a convivência entre os desiguais e a tolerância com ideais distintos são a tônica. Ao sair do espetáculo, o espectador pode refletir e ampliar sua concepção diante da realidade. Temporada curta, só até final de abril. Não perca.

 

 

Roteiro:
Dois Papas. Texto: Anthony McCarten. Tradução: Rui Xavier. Direção: Munir Kanaan. Diretor assistente: Gustavo Trestini. Idealização: Munir Kanaan e Rafa Steinhauser. Elenco: Celso Frateschi, Zécarlos Machado, Eliana Guttman e Carol Godoy. Iluminação: Beto Bruel. Cenografia: Eric Lenate.  Adereços e produção de objetos: Jorge Luiz Alves. Trilha sonora original: Dan Maia. Direção de imagem e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Figurino: Carol Roz. Visagismo: Anderson Bueno. Fotografia: Ale Catan. Produtor: Eurico Malagodi. Supervisão de produção: Carol Godoy. Produção: Gengibre Multimídia e Zug Produções. 
Serviço: 
Sesc Santo Amaro (270 lugares), Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro, tel. 11 5541-4000. Horários: sexta e sábado às 20h e domingo às 18h. Ingressos: R$60, R$30 e R$18 (credencial plena). Duração: 135 min (intervalo de 15 min). Classificação: 16 anos. Temporada: até 27 de abril.

 

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