De em novembro 11, 2011
Música não pode ficar fora das indicações desse blog. Como não sou especilista da área, peço sempre que amigos e outros profissionais venham aqui nos informar sobre as novidades do mercado fonográfico. Dessa vez tive a chance de contar com a participação de Luiz Líbano, professor e amante da black music, que analisou o álbum Outro Esquema lançado recentemente pela diva Paula Lima. Confiram e deixem seus comentários!
Ela é a tal
Outro Esquema é o nome do mais recente álbum da cantora Paula Lima, lançado pela Microservice. É composto de 14 faixas inéditas, remixes e afins, como se vê na própria capa, logo abaixo de uma atrevida foto em que a felina ‘crooner’ esbanja sensualidade, envolvida pelas cacheadas melenas (uma de suas marcas registradas) e valorizada por uma maquiagem fabulosa.
Como diz o nome do samba funkeado que abre o CD: Ela é a tal. Porém, ao contrário da personagem que é cantada na música, Paula não vive na dela, divide com a banda (afinada, integrada e competente) e com os ouvintes o talento que Deus lhe deu, ou seja, o de cantar com propriedade, suingue e adequação os diversos ritmos que lhe permitem a natural negritude.
Ao apertarmos o play, não há como ficarmos imunes aos movimentos que as canções dançantes de Outro Esquema nos provocam. Flor de maracujá (João Donato/ gravada por Gal Costa em 1974 no LP Cantar) está irresistível na voz da negra gata, que incorpora black-malemolência à convidativa música.
O CD é diversão pura, até as dores de amores são cantadas com leveza e um deboche requintado, como por exemplo no samba-rock Pisou na Bola. Sem sombra de dúvidas, um trabalho musical com tanto profissionalismo Tem que Dar Certo, pois como diz a música homônima:
‘O que é do homem o bicho não come’.
Inclusive a mesma música possibilita uma comparação com o que há de melhor na black-dance-music, pois o bom gosto de Paula é equivalente ao que se nota nos trabalhos de veteranas como a britânica Lisa Stansfield ou da americana Ultra Naté, só para citar dois ícones desse gênero musical.
Em O Nego do Cabelo Bom (dueto com Max de Castro) é o que se pode chamar de samba-ode à valorização da auto-estima negra, quase num diálogo com o clássico Nega do Cabelo Duro, imortalizado por Elis Regina (1969) no álbum Aquarela do Brasil.
Ouvir o trabalho musical de Paula Lima é verdadeiramente entrar em Outro Esquema, já que nos remetemos aos fabulosos anos 70 em que parcela dos negros da comunidade paulistana iam aos famosos bailes do Chic Show. Lá arrebentavam em elegância nos trajes e nas coreografias, apesar do esnobismo com que se pronunciavam em suas expressões corporais. Entretanto, indubitavelmente, manifestavam a exuberância negra que não resistia mais se aprisionar numa camisa de força, reflexos ainda de uma ditadura, até então vigente.
Para finalizar, digamos que É Isso Aí: preparemos a pista de dança (em casa mesmo) para o baile que a ex-mas-sempre-felina Grizabella (recém saída do musical Cats) nos propõe. Ressalto um único senão: a falta (no encarte) dos créditos aos compositores e músicos, além omissão das letras para que essa invejável produção seja considerada irretocável e possamos seguramente Tirar Onda e não sair de banda, mas entrar na roda.
Luiz Líbano
Fotos: Paulo Vitale
6 Comentários
Fábia
dezembro 1, 2011 @ 14:27
Vi, aqui, um conjunto de música boa, texto bom e gente boa!
Lembrou-me uns versos do Chico Alvim, em que ele elogia a leitura sem escolhos, como toda boa música também sabe ser.
Se a Celina teve vontade de sair dançando, eu senti um impulso quase irresistível de soltar os cabelos e sacudi-los no ar, ao ver a foto da Paula Lima fazendo o mesmo, ou de sair por aí fazendo resenhas do mundo, de todas as pequenas grandes coisas de todos os dias, depois de ler as palavras do Luiz.
Parabéns.
Maurício Mellone
dezembro 1, 2011 @ 14:36
Fábia:
Que ótimo q vc se entusiasmou com a leitura, no Favo, das resenhas
do Luiz. Tb gosto do que ele escreve, é um amante da black music!
Volte sempre me visitar, prometo dicas quentinhas sobre a produção
cultural da cidade.
abr
Celina
novembro 14, 2011 @ 18:21
É isso aí, caro Luiz, vc e a Paula Lima são os caras! Dá vontade de sair dançando. Parabéns, bjs. Celina
Maurício Mellone
novembro 15, 2011 @ 15:25
Celina:
O Luiz é mesmo fã de black music, né? A resenha dele sobre o trabalho da Paula Lima é ótima!
Obrigado pela visita, volte sempre, vou adorar!
bjs
Luiz Carlos Líbano
novembro 12, 2011 @ 02:56
Maurício, fico extremamente agradecido uma vez mais pelo espaço. Ficou linda a edição da resenha. Espero que leve as pessoas a frequentarem mais o seu blog pra receberem dicas de música de qualidade, conhecerem melhor o trabalho de Paula e de outras (os) cantoras (es) maravilhosas (os). Taí um convite pra todo o mundo ‘Tirar Onda’. Tô nessa pista, digo, nesse blog e não abro!
Luiz.
Maurício Mellone
novembro 14, 2011 @ 15:14
Luiz:
Isso aí, que as resenhas de música tragam os fãs das cantoras e cantores!
obrigado