De Maurício Mellone em julho 3, 2019
A pungente interpretação da canção A Carne (Marcelo Yuka, Ulisses Cappelletti, Seu Jorge) define o musical ELZA, em cartaz no Teatro Sergio Cardoso só até o próximo dia 14 de julho.
As sete atrizes/cantoras — Larissa Luz, Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khystal, Laís Lacôrte e Verônica Bonfim — entoando o verso A carne mais barata do mercado é a carne negra e depois reforçando a mudança do tempo verbal —foi, era a carne negra — reafirma a bandeira de luta da cantora Elza Soares contra a discriminação, o racismo e o machismo! E a reação da pateia é avassaladora, como não poderia deixar de ser.
Mais do que a biografia desta cantora ímpar, o musical da diretora Duda Maia, com texto de Vinícius Calderoni, dá voz à mulher, à mulher negra por meio da trajetória de vida de Elza Soares. Além de árdua pesquisa sobre a homenageada e da obra de pensadoras negras como Angela Davis e Conceição Evaristo, o autor faz questão de dizer que o processo de criação foi coletivo:
“Hoje poderia dizer que atrizes são coautoras e colaboradoras do texto. Pedi a colaboração delas, das experiências vividas por uma mulher negra. Do mesmo jeito que a Duda propôs muitas coisas e elas também tiveram este espaço”, diz Vinícius Calderoni.
Com poucos e criativos elementos cênicos — latas, baldes e módulos com rodas que são movimentados pelo elenco —, as sete atrizes/cantoras perpassam pela vida de Elza ressaltando momentos marcantes e interpretando grandes sucessos da cantora, como Lata d’água, Se acaso você chegasse, Malandro e Cadeira vazia. Mas como não há uma preocupação com uma sequência cronológica, a exemplo de musicais biográficos tradicionais, o espetáculo também apresenta sucessos mais recentes de Elza, com canções dos álbuns Do cóccix até o pescoço (2002), A Mulher do Fim do Mundo (2015) e Deus é Mulher (2018), além de músicas inéditas compostas especialmente para o musical, como Ogum de Pedro Luís e Rap da Vila Vintém, de Larissa Luz.
A ideia de fazer com que todas as atrizes vivam a Elza em algum momento de sua trajetória é bem interessante. Mas a maneira como Larissa Luz se entrega à personagem é impactante, tanto que em alguns momentos o espectador tem certeza que está diante da própria Elza Soares, com sua voz rascante e poderosa. A concepção cênica de dar voz e vez à mulher é reforçada pela formação da banda, composta por seis musicistas de excelência, que permanecem em cena do início ao fim. Destaque, portanto, para a direção musical de Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet e os arranjos do maestro Letieres Leite. Com figurinos criativos e uma precisa iluminação, o espetáculo ganha a plateia graças ao talento das atrizes, que está à altura da homenageada, a diva Elza Soares.
Sem dúvida um espetáculo grandioso e merecedor de todos os prêmios já recebidos — Shell, Reverência, APCA, APTR e CESGRANRIO. Quem ainda não assistiu, corra porque a temporada termina dia 14 de julho (esta quinta e sexta não haverá sessões). Como aperitivo, fique com o clipe oficial de A Carne, com a grande Elza Soares:
Roteiro:
ELZA. Texto: Vinícius Calderoni. Direção: Duda Maia. Direção musical: Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet. Arranjos: Letieres Leite. Elenco: Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacôrte, Verônica Bonfim e a atriz convidada Larissa Luz. Cenário: André Cortez. Figurino: Kika Lopes e Rocio Moure. Iluminação: Renato Machado. Fotografia: Leo Aversa. Idealização e direção de produção: Andréa Alves.
Serviço:
Teatro Sergio Cardoso (835 lugares), Rua Rui Barbosa, 153, tel. 11 4003-1212. Horários: de quinta a sábado, às 20h; domingo às 17h. Ingressos: quinta- de R$ 30 a R$ 80; sexta e domingo- de R$ 50 a R$ 120; sábado- de R$ 70 a R$ 150. Duração: 140 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 14 de julho (exceto dias 04 e 05 de julho).
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