De Maurício Mellone em julho 11, 2013
Justa reverência à arte de interpretar por intermédio da brilhante carreira da atriz Myrian Muniz. Este é o mote central que levou Cassio Scapin e Cássio Junqueira a escreverem o monólogo Eu não dava praquilo, que estreia amanhã, sexta, dia 12 de julho, no CCBB-SP, com temporada prevista até final de setembro.
Tive a honra de estar na plateia da pré-estreia da peça, ontem à noite, cuja maioria era de atores e amigos de Myrian, além de jornalistas e demais convidados. A emoção ao final da apresentação foi contagiante, um aperitivo do que deve acontecer durante toda a temporada. A peça faz um breve retrato da carreira da atriz e, de acordo com Scapin — que concedeu uma entrevista exclusiva ao Favo no mês passado—, é impossível dissociar vida pessoal e profissional em Miyrian Muniz:
“Nosso monólogo, cômico dramático, faz uma homenagem ao ator através do método peculiar de se ensinar teatro criado por ela, que juntava o sacro e o profano, o drama e a comédia, com forte sabor brasileiro. Na trajetória de Myrian não se consegue descolar trabalho e vida. Seu ofício era o seu jeito de existir”, afirma Cassio Scapin.
Com simplicidade e despojamento, o ator todo de preto, de costas para o público e atrás de cortinas transparentes, inicia o espetáculo com um poema; em seguida, coloca um xale preto e com uma sutil mudança de voz incorpora a personagem. Numa cadeira giratória e só agora de frente para os espectadores, a vida da atriz começa a ser narrada.
Magia que só o teatro proporciona: as pessoas percebem que estão diante da grande atriz brasileira, que passa a narrar seus principais momentos de vida, desde a tentativa (frustrada) de se tornar bailarina, a experiência como enfermeira até sua entrada na EAD (Escola de Artes Dramáticas), os primeiros trabalhos como atriz, o ingresso no Teatro de Arena, sua vivência com grandes mestres como Dulcina de Moraes, Augusto Boal e Flávio Império e a consagração como diretora, quando esteve à frente do musical Falso Brilhante de Elis Regina, além da criação da escola de teatro Macunaíma.
Esta preocupação de Myrian com o ensino e a formação do ator é ressaltada na peça. Scapin afirma que ela “usou o ofício de ator como agente de transformação para indagar a essência do ser, na busca de entendimento”. E o diretor complementa:
“Myrian Muniz é uma sacerdotisa do teatro. Seus ensinamentos marcaram profundamente e apaixonadamente muitos artistas. Estamos realizando nosso trabalho dedicado a ela. É a nossa forma de agradecimento e reverência pelo seu encantamento”, diz Elias Andreato.
A performance admirável de Cassio Scapin — ele entra e sai da personagem de maneira sutil, só com pequenos gestos, pequena modulação de voz e o uso do xale que marca a presença da atriz— é sem dúvida o grande destaque de Eu não dava praquilo. A direção precisa e generosa de Elias, que contou com a assistência de André Acioli, deve ser realçada, assim como a iluminação de Wagner Freire, que contribui na pontuação da narrativa, e o trabalho de Fabio Namatame, que assina figurino e cenografia, simples e fundamentais para enaltecerem a grande atriz brasileira.
Espetáculo que chega ao coração tanto dos profissionais do meio artístico como do público em geral, por expressar um ensinamento de vida por meio da trajetória de Myrian Muniz.
“Com graça e, sobretudo, verdade, nosso espetáculo expressa a importância de se viver a vida como um caminho para se tornar aquilo que se é”, conclui o autor e poeta Cássio Junqueira.
Fotos: João Caldas
8 Comentários
José Edvardo Pereira Lima
julho 13, 2013 @ 17:18
Já com essas referências – Myrian Muniz, Cassio Scapin e Elias Andreato – não daria para perder esse espetáculo. Depois dessa entusiasmente e precisa resenha do Maurício, torna-se inadmissivel deixar de ver. É o que pretendo fazer o mais breve possível.
Provavelmente, a Elis utilizaria uma licença poética para endossar as palavras do Maurício alterando os versos de “Como nossos pais”, do Falso Brilhante, e cantaria: “Preciso lhe falar, meu grande amor / das coisas que aprendi com ela”
Maurício Mellone
julho 15, 2013 @ 11:12
Zedu:
sempre amável e mostrando sua verve com a palavra!
Tenho absoluta certeza q vc vai embarcar na viagem do Scapin e do Andreato
e verá no palco a grande atriz e diretora, que deve ter ensinado muito mesmo a Elis!
bjs e obrigado por estar sempre aqui me prestigiando!
Adriana
julho 12, 2013 @ 15:13
Ma, o espetáculo, pelo que mostra seu texto, como sempre impecável, é de sutileza e delicadeza ímpares. Dá vontade de sair correndo pra ir comprar o ingresso. Parabéns!!!!
Maurício Mellone
julho 12, 2013 @ 15:17
Adriana,
O Scapin me emocionou muito; a peça é para artistas
e o público em geral, pois tem ensinamentos de vida
desta grande atriz!
Bjs e obrigado pela visita e a ‘força’, SEMPRE!
ELISABETE COSMO
julho 11, 2013 @ 21:04
GOSTEI MUITO DA DESCRIÇÃO DA PEÇA SR MELLONE. ESPERO PODER ASSISTÍ-LA. UM ABRAÇO. SAUDADES.
Maurício Mellone
julho 12, 2013 @ 15:08
Bete,
se puder, venha assistir, fica até setembro.
Bjs
Fabio Mráz
julho 11, 2013 @ 17:51
Maravilha!
Maurício Mellone
julho 12, 2013 @ 15:09
Fabio, não perca, vc vai adorar!
bjs