De Maurício Mellone em janeiro 11, 2012
Se pudesse definir numa única frase a nova montagem da peça de Arnaldo Jabor, Eu Te Amo, em cartaz no Teatro Folha, seria esta: do cinema para o palco e, no palco, a interação com a sétima arte.
E não poderíamos esperar outra coisa, já que os diretores da peça, Rosane Svartman e Lírio Ferreira, são cineastas e estão debutando no teatro; por sua vez, o autor fez a primeira versão desta trama para o cinema, em 1981 com Sônia Braga e Paulo César Pereio nos papéis centrais. A trama pulou para o palco sete anos depois, com Bruna Lombardi e Paulo José.
Desta vez, Maria e Paulo, personagens frustrados emocionalmente, são vividos por Juliana Martins e Alexandre Borges. Para deixar a trama contemporânea, os diretores fizeram com que os dois se encontrassem numa sala de bate-papo da internet: Paulo é um cineasta em crise depois que sua mulher, a protagonista de seu filme, fugiu com o diretor de fotografia e Maria cansou da relação que mantém com um homem casado e resolve transar “com o primeiro homem que aparecer”. Eles mentem e no primeiro encontro ela se passa por garota de programa e ele por um cineasta famoso e premiado. As máscaras caem logo depois da primeira transa entre eles.
Tudo acontece no estúdio onde Paulo trabalha e mora. Numa das primeiras cenas o público já é agraciado com a fusão teatro/cinema: a parede de fundo do cenário vira uma grande tela, em que os pensamentos do personagem são transpostos para a película. O filme (real e imaginário) de Paulo é projeto e os espectadores unem os dois planos.
Se o primeiro encontro entre Maria e Paulo tinha somente finalidade sexual, tudo se altera porque eles se apaixonam, em função da carência e solidão que estão vivendo. O que acontece a partir daí é uma discussão sobre o amor, paixão, encontros e desencontros afetivos, traição, frustração amorosa e papéis desempenhados por homem e mulher na relação a dois.
O que mais me cativou no espetáculo foi justamente a fusão da trama vivida no palco e sua transposição para a tela: a primeira relação sexual dos personagens é delicadíssima e o casal do palco interage com o interpretado no filme (numa tomada é Maria e na seguinte é a mulher de Paulo, vivida por Ana Markun). E a paixão pelo cinema — tanto do personagem como dos diretores e do próprio autor — fica evidenciada quando Paulo diz que seu filme preferido é Pickpocket, de Robert Bresson. Tanto que uma frase definitiva do clássico do cinema é repetida pelo personagem quando eles se reencontram: ‘percorri os mais estranhos caminhos para encontrá-la’.
Eu Te Amo: cinema e teatro entrelaçados por intermédio do amor.
Fotos: Marcos Morteira
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