De Maurício Mellone em julho 1, 2019
“Pelo mundo dos olhos e das feridas das mãos/
Pelo mundo das universidades sem telhados/
Pelo mundo dos mortos e dos jornais abandonados…”
(Federico Garcia Lorca)
Estes versos do poema que dá título à peça, Fábula e Roda dos Três Amigos, sintetizam a montagem, em cartaz no Sesc Pinheiros, que retrata o período em que o artista plástico Salvador Dalí (vivido por Iuri Saraiva), o poeta e dramaturgo Lorca (papel de Oliver Tibeau) e o cineasta Luis Buñuel (interpretado por Thomaz Mussnich) se conheceram no início do século XX, em Madrid, na famosa La Residencia de Estudiantes, moradia estudantil de jovens artistas.
Com dramaturgia de Flávio Ermírio e direção César Baptista, o espetáculo mistura ficção e fatos reais para mostrar o momento do encontro dos três artistas em início de carreira, assim como a forma como tentaram trabalhar juntos, suas diferenças de personalidade, dúvidas da juventude e o rompimento da amizade. Com licença poética, a montagem também retrata a forma misteriosa como Lorca foi brutalmente assassinado pela ditadura do General Franco, supostamente por sua homossexualidade; seu corpo nunca foi encontrado.
Escrito em 1930, o poema tem como personagens três homens (Henrique, Emílio e Lorenzo) e, sem fazer qualquer referência, pode ser uma alusão à vida de Buñuel, Lorca e Dalí. O poeta faz ainda uma antecipação do próprio destino, dizendo que “haviam me assassinado. Já não me encontraram. Não. Não me encontraram”.
“Na peça os três artistas são vistos na juventude, em desenvolvimento de uma personalidade que os tornou quem foram. Não há um foco apenas na excentricidade de Dalí, no surrealismo de Buñuel e na melancolia de Lorca, mas sim em questões mais complexas, como o papel da arte, a razão para praticá-la e o processo para encontrar a própria voz como criador”, esclarece César Baptista.
Com o uso de projeções multicoloridas (em referência às obras dos artistas) e uma dinâmica movimentação corporal, os três atores não só incorporam os personagens históricos como envolvem o espectador na narrativa composta de ficção e realidade. No entanto, o texto por conter um excesso de informações e uma descontinuidade (proposital) entre os fatos, provoca falta de unidade dramatúrgica, dificultando a apreensão. Mas a performance visceral dos atores, aliada à criativa concepção cênica, encobrem a lacuna da dramaturgia. Destaque ainda para a envolvente trilha sonora e o figurino, que brinca com o antagonismo branco e preto/morte e vida.
Roteiro:
Fábula e Roda dos Três Amigos. Texto: Flávio Ermírio. Direção, iluminação e trilha sonora: César Baptista. Assistentes de direção: Arno Afonso e Patrícia Carvalho. Elenco: Iuri Saraiva, Oliver Tibeau e Thomaz Mussnich. Preparação corporal: Patrícia Carvalho. Cenário e adereços: Mirtis Moraes. Videografismo e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud. Figurino: A Equipe. Fotografia: Flávio Ermírio. Produção executiva: Nathália Gouveia.
Serviço:
Sesc Pinheiros, Auditório (98 lugares), Rua Paes Leme, 195, tel. 11 3095.9400. Horários: de quinta a sábado às 20h30. Ingressos: R$ 25, R$ 12,50 e R$ 7,50.
Bilheteria: terça a sábado das 10h às 21h; domingo e feriados das 10 às 18h. Duração: 60 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 20 de julho.
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