De Maurício Mellone em agosto 14, 2019
O novo espetáculo da Cia Elevador de Teatro Panorâmico, dirigida por Marcelo Lazzaratto, que acaba de estrear no Auditório do SESC Pinheiros, propõe uma discussão sobre os diversos significados da palavra Fronteira. Tudo acontece entre duas mulheres, interpretadas por Tathiana Botth e Thaís Rossi, num pequeno espaço entre dois territórios, onde uma delas precisa ultrapassar a fronteira e visitar a cidade natal da mãe que acabara de falecer e a outra, encarregada da fiscalização, precisa ser convencida da necessidade desta travessia. Mais do que o significado geográfico da palavra fronteira, o texto de Carla Kinzo permite olhar para outros significados da mesma palavra, como a metáfora da percepção da outra pessoa ou os limites estabelecidos entre duas pessoas.
O embate entre aquelas duas mulheres é evidente desde a primeira cena. Uma delas, sem qualquer documento, quer ultrapassar a fronteira para pesquisar suas origens, já que a mãe faleceu e ela desconhece o passado da família. Já a outra é funcionária com a obrigação de fiscalizar o translado e conferir a documentação necessária para a travessia. Como a funcionária impede a entrada da outra que não cumpre as normas estabelecidas, o impasse se repete diariamente. No entanto, com o passar do tempo e a insistência na travessia a relação entre elas se altera profundamente, evidenciando que ambas têm necessidade afeto e dependem uma da outra para sobreviver.
“Geralmente discutimos fronteira sob a ótica negativa evocada pela geopolítica, como algo que separa as pessoas e limita a liberdade de ir e vir. No entanto, também é possível interpretar fronteira como algo capaz de preservar a diversidade, uma vez que um indivíduo só existe diante da presença do outro. Nesse mundo atual em ebulição, em que as tensões vêm à tona revelando que a desigualdade talvez seja o maior problema da humanidade, nos parece que trazer à cena um olhar sensível sobre o conceito de fronteira é fundamental e necessário”, esclarece Marcelo Lazzaratto.
Com uma dramaturgia concisa, Fronteira se destaca pela direção que dá ênfase à interpretação —Tathiana Botth e Thaís Rossi têm a chance de mostrar a evolução e transformação de suas personagens . Destaque ainda para o cenário diminuto que evidencia o conflito entre as duas mulheres e a iluminação, ambos assinados pelo diretor.
Roteiro:
Fronteira. Texto: Carla Kinzo. Encenação, cenário, trilha sonora e iluminação: Marcelo Lazzaratto. Elenco: Tathiana Botth e Thaís Rossi. Figurino: Marcelo Leão e Thaís Rossi. Fotografia: João Caldos Fº. Produção: Anayan Moretto. Realização: Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.
Serviço:
Sesc Pinheiros, Auditório (98 lugares), Rua Paes Leme, 195, tel. 113095-9400.
Horários: de quinta a sábado às 20h30; feriado às 18h. Ingressos: R$ 25, R$ 12,50 e R$ 7,50. Duração: 55 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 7 de setembro.
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