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Gotas de Codeína: monólogo reflete sobre sexualidade e suicídio

De em outubro 18, 2017

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Luiz Fernando Almeida vive Cesar de 42 anos, casado, 2 filhos e que se relaciona com homens

Depois de temporadas na baixada santista — o espetáculo estreou há dois anos e meio no SESC Santos e já se apresentou por diversas vezes na região —, está em cartaz pela primeira vez em São Paulo, no Estúdio Lamina, o monólogo Gotas de Codeína, com o ator Luiz Fernando Almeida.
Com texto de Diego Lourenço e direção de Paula D’Albuquerque, o solo é sobre o drama de Cesar, um homem de 42 anos, casado, pai de dois filhos, mas que também se relaciona com homens. Ele aparenta estar bem consigo mesmo, mas na verdade vive em profunda depressão, com conflitos existenciais. Um belo dia, um dos amantes de Cesar recebe um aviso da esposa dele comunicando que ele havia se suicidado.

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O ator santista fez vasta pesquisa sobre suicidas

A montagem acontece numa sala do Estúdio Lamina, que fica num velho edifício da Avenida São João, com vista para o Vale do Anhangabaú. Os espectadores (no máximo 20 pessoas) são convidados a entrar na sala do apartamento pelo próprio Cesar, que inicia o relato de sua vida, contando sobre seu casamento, seus filhos, sua sexualidade e seus desejos por outros homens. Além de falar sobre suas aventuras sexuais, de sua vida dupla ou da impossibilidade de se viver pela metade, Cesar convida os espectadores a ir até a janela para olhar o Viaduto do Vale do Anhangabaú, grande cartão postal da cidade, mas um dos locais de maior índice de suicídio da capital paulista.
O monólogo é construído como se os espectadores fossem visitas do dono da casa: tudo é dito de forma coloquial, direta. Antes de qualquer julgamento, o espectador torna-se cúmplice do personagem, há uma identificação com a situação da vida de Cesar. Ao final, o ator abre uma discussão com a plateia, provocando uma reflexão sobre o suicídio, um tema tabu até hoje. E os dados sobre o suicídio no Brasil são alarmantes. De acordo com o Mapa da Violência/ 2017, estudo sobre dados oficiais do Ministério da Saúde, entre 1980 a 2014 houve um crescimento de 27,2% da taxa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos. Em números absolutos, o Brasil é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo, segundo ranking divulgado em 2014 pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O Mapa da Violência aponta ainda que para 100 mil habitantes, há 3,9 suicídios entre jovens de 15 a 29 anos, 6,4 entre jovens de 20 a 29 anos, 7,6 suicídios entre a população de 30 a 59 anos e 8 suicídios entre a população com mais de 60 anos. Sem dúvida um grave problema social.

O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira assistiu o solo e redigiu um texto sobre suicídio e sobre a peça. Luiz Fernando generosamente me enviou o texto em que o médico diz que suicídio é ainda um tabu em nossa cultura. “A grande maioria das pessoas tem dificuldade em reconhecer que vazio existencial, tristeza, depressão, vontade de morrer são aspectos de todos nós, em maior ou menor grau, nos visitando periodicamente no transcorrer de nossa existência. Certamente muitas pessoas recorrem ao suicídio por estarem doentes, mas há uma parte de suicidas que não se encaixa em critérios patológicos”, afirma o psiquiatra, que expõe sua opinião sobre a peça:

Gotas de Codeína nos propõe uma viagem às profundezas de nossas vísceras; sem pudor, sem piedade, a peça escancara nossos recônditos mais secretos. A história capta nuances do suicídio, vai fundo nas feridas, sempre mantendo a ternura e um profundo respeito, quase sagrado, pelo ser em sofrimento”, conclui Dartiu da Silveira.

 

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Ator recebe espectadores como se fossem visitas

Além da proposta cênica, o espetáculo é uma oportunidade para se refletir sobre o suicídio. Programe-se, a montagem fica na cidade até final de novembro.
Roteiro:
Gotas de Codeína. Texto: Diego Lourenço. Direção: Paula D’Albuquerque. Elenco: Luiz Fernando Almeida. Audiovisual: Fabiano Keller. Design gráfico: Betinho Neto. Trilha sonora: Wagner Parra. Fotos: Luiz Fernando Menezes. Produção: Luiz Fernando Almeida. Assistente de produção: Ector Caires. Realização Cafofo Produções e Eventos.
Serviço:
Estúdio Lamina (20 lugares), Av. São João, 108, tel. 11 3228-6815. Horários: segunda e terça às 20h. Ingressos: R$30 e R$15. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 28 de Novembro.


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