De Maurício Mellone em julho 9, 2024
A grandiosa produção teatral da cidade de São Paulo proporciona ao público uma gama enriquecedora de temas, motes e discussões. Ao lado de textos contemporâneos, há em cartaz clássicos da dramaturgia universal que ajudam a ampliar nossa visão de mundo. É o caso de Hedda Gabler, peça escrita em 1890 pelo norueguês Henrik Ibsen, em cartaz no Auditório MASP.
Com direção e tradução de Clara Carvalho — vencedora do grande prêmio da APCA/2024 por sua atuação como diretora, tradutora e atriz —, o espetáculo tem como foco central a vida da personagem título, papel de Karen Coelho. Ao contrário da mulher de hoje que tem uma vida atuante na sociedade, Hedda é filha única de um militar que pouco deixou de herança; sem grandes recursos, ela se casa sem amor com Jorge Tesman (Guilherme Gorski). Inconformada com a situação de vida medíocre que ela mesma criou para si, Hedda tenta desarticular a estrutura familiar em que vive e provoca um desfecho trágico. Completam o elenco Carlos De Niggro, Chris Couto, Mariana Leme, Nábia Villela, Sergio Mastropasqua e Gregory Slivar, que executa as músicas ao vivo.
O público ao entrar na sala de espetáculos já se depara com a atriz em cena, que transmite a insatisfação e o enfado de Hedda. O cenário, assinado por Chris Aizner, é a fachada de uma casa tradicional do século XIX cercada por um grande jardim. Com poucos elementos cênicos, os atores circulam pelo espaço durante as atuações. A trama começa com a chegada de Hedda e Jorge da lua de mel: enquanto ele está ansioso para retomar suas atividades, a esposa grávida tem consciência da armadilha que criou e tenta se livrar; ela conta com a cumplicidade e proximidade afetiva de Eilert Lovborg, vivido por Carlos De Niggro.
“Ibsen foi o criador de uma galeria fascinante de personagens femininas que exprimiam a opressão das mulheres na sociedade de seu tempo. Hedda talvez seja a mais enigmática e desconcertante delas. Ela é convencional demais para sair do casamento ou aceitar o triângulo amoroso proposto pelo juiz (personagem de Mastropasqua). Sem exercer uma vocação ou uma profissão, Hedda tenta manipular o jogo patriarcal, mas encurralada só vislumbra para si uma saída trágica”, argumenta Clara Carvalho.
Com um texto que revela uma personagem rica de conflitos internos e muitas nuances psicológicas, a montagem — idealizada por Rosalie Haddad e produzida pelo Círculo de Atores e Selene Marinho — se destaca pela sensível direção dos atores, pelo cenário suntuoso e ao mesmo tempo despojado, por uma iluminação que acentua o tom de conflito dos personagens e pela trilha executada ao vivo. A temporada se estende até o final de agosto, programe-se e confira.
Roteiro:
Hedda Gabler. Texto: Henrk Ibsen. Tradução e direção: Clara Carvalho. Elenco: Karen Coelho, Guilherme Gorski, Carlos de Niggro, Chris Couto, Nábia Villela, Mariana Leme, Sergio Mastropasqua e Gregory Slivar. Cenografia: Chris Aizner. Tilha sonora original: Gregory Slivas. Figurino: Marichilene Artisevskis. Iluminação: Nicolas Cartori. Fotografia: Ronaldo Gutierrez. Visagismo: Marcos Padilha. Produção: Rosalie Rahal Haddad e SM Arte Cultura. Direção de produção: Selene Marinho. Realização: Círculo de Atores.
Serviço:
Auditório MASP (374 lugares), Avenida Paulista, 1578, tel.: (11) 3149-5959. Horários: sexta e sábado às 20h e domingo às 18h.Ingressos: R$80 e R$40. Bilheteria Masp: https://masp.byinti.com/#/event/hedda-gabler. Duração: 110 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 25 de agosto de 2024.
Deixe comentário