Homem com H: filme de Esmir Filho revisita vida/obra de Ney Matogrosso

De em maio 8, 2025

 

Jesuíta Barbosa em composição primorosa de Ney Matrogrosso, no palco e fora dele

 

 

Em Homem com H, mais do que uma cinebiografia, o diretor Esmir Filho, que também assina o roteiro do filme, procura revelar o lado humano e pessoal de Ney de Souza Pereira, que aos 33 anos mostrou toda a sua versatilidade artística como integrante do grupo musical Secos & Molhados, na década de 1970, tornando-se Ney Matogrosso. O filme faz um passeio pela vida e obra deste que é considerado um dos maiores intérpretes da música brasileira de todos os tempos, mostrando sua infância e adolescência numa família tradicional (a dificuldade de conviver com o pai militar e conservador), sua passagem pela aeronáutica, os primeiros empregos e a sobrevivência como artesão, até o estouro na música e o sucesso em mais de cinco décadas de carreira.

 

 

Para viver Ney Matogrosso nas telas, o diretor escolheu o ator Jesuíta Barbosa, que teve um trabalho primoroso para compor o personagem; ele confessou que precisou emagrecer mais de 10 kg para poder subir ao palco e executar as coreografias únicas que Ney imprime em seu trabalho. A vida amorosa e sentimental de Ney também ganha força no filme, principalmente o romance com o também músico e compositor extraordinário, Cazuza.

 

 

 

Ney à frente do grupo Secos & Molhados

 

O início do filme é dedicado à infância de Ney, que já mostrava seus dons artísticos e era reprimido pelo pai, papel de Rômulo Braga, e acolhido pela mãe, interpretada por Hermila Guedes. A cena de sua expulsão de casa é marcante e em seguida o diretor expõe a trajetória daquele jovem para sobreviver. Numa narrativa linear, com a indicação da data e cidade por onde Ney viveu, o filme revela seu caminho até ser apresentado a João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), que juntos criaram o grupo Secos & Molhados, que teve uma carreira meteórica e curta, mas com um sucesso estrondoso em todo o país. Esta fase é revelada na trama por meio de fotos e repercussão na mídia, inclusive com o desentendimento entre Ney e João Ricardo.

 

 

 

 

 

Ney e Yara Neiva, vivida por Caroline Abras

 

Entre o fim do grupo e a carreira solo não demorou muito, mas Ney fez questão de marcar a diferença e surge sem a maquiagem característica que criou para o Secos & Molhados cantando Homem de Neandertal. O cotidiano dele fora dos palcos também é evidenciado no filme, principalmente sua amizade com Yara Neiva, papel de Caroline Abras, que o aproximou de Cazuza (vivido com brilhantismo por Julio Reis). O romance deles fugia dos padrões, era livre e contestador e também com atritos e rusgas, graças às personalidades fortes de ambos.

 

 

 

 

 

Cazuza (Julio Reis), Ney e Marco de Maria (Bruno Montaleone): amores e afetos

 

Se em suas entrevistas e aparições públicas fora do palco Ney Matogrosso mantém uma imagem reservada, não expondo sua vida íntima, no filme ficou impossível omitir seus amores e afetos. O diretor retrata muito bem o clima dos anos 1980 a respeito dos costumes: num momento em que o país ainda vivia um regime autoritário e conservador, sexo/amor livre e drogas eram formas para extravasar. Ney, os amigos e sua geração não fugiram à regra e Esmir, com delicadeza, mostra no filme a vida amorosa e sexual deles. Além de Cazuza, Ney manteve duradouro relacionamento com Marco de Maria, vivido por Bruno Montaleone.

 

 

 

Neste instante na trama há um espaço considerável para o flagelo que o mundo viveu naquela época, a Aids. Ney acompanha de perto a perda de vários de seus amigos e amores; a cena em que ele está na cama com Marco, já infectado com HIV, e demonstra sua incompreensão diante da doença é comovente. Outra cena de muita emoção é a conversa que Ney tem com o pai, em seu leito de morte.

 

 

 

Interpretaççao para Homem de Neandertal

Homem com H é um recorte na vida de Ney Matogrosso, nem todas as fases da carreira são revistas no filme, porém várias músicas são apresentadas, principalmente aquelas que contribuem para a narrativa que está sendo contada, como Bandido Corazón, O Vira, Homem com H e Pro dia nascer feliz. No entanto o destaque do filme é para Jesuíta Barbosa: é impressionante sua composição para Ney Matogrosso, no palco e fora dele. O olhar, os gestos, a coreografia idêntica, o jeito de falar com as devidas pausas e a postura deste artista único. O diretor optou pela dublagem das canções em razão da voz extraordinária de Ney, o que em nada diminui o trabalho de Jesuíta, pelo contrário. Sem dúvida um filme emocionante, que mostra o lado ousado, criativo e libertário de um artista extraordinário e um ser humano encantador. O filme termina com Ney interpretando uma canção de seu mais recente trabalho, Bloco na rua; fique com o clipe oficial de Eu quero é botar meu bloco na rua (de Sérgio Sampaio):

 

 

 

Fotos: divulgação

 

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