Homens elegantes: romance histórico de Samir Machado de Machado

De em julho 4, 2025

 

 

Obra do escritor gaúcho se passa em 1760, na Inglaterra, no início da revolução industrial

 

 

Um lançamento da Editora Todavia, Homens elegantes, do escritor e tradutor gaúcho Samir Machado de Machado, se passa em 1760, na Inglaterra dos primórdios da revolução industrial. O personagem central é o soldado e espião brasileiro Érico Borges, uma versão gay do famoso personagem James Bond, que é convocado pela coroa portuguesa de Dom José I, por intermédio do conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal, a ser agente secreto português junto à capital do Império Britânico, Londres. Por ser exímio militar e ao mesmo tempo um leitor voraz, Borges foi o escolhido para esta missão de espionagem, para identificar os responsáveis pela impressão e difusão de obras pornográficas no Brasil que, de acordo com Lisboa, eram inimigos da coroa e contrários aos interesses de Portugal e da Igreja.

 

 

Com requinte de detalhes e uma linguagem ágil, o autor traça um painel da alta sociedade londrina da época, descrevendo os bastidores das festas, bailes e salões e a frivolidade da corte inglesa, além de um perfil da subcultura homossexual do período. Com um enredo que mescla ação, aventura, duelos de espada, romance, paixões e mistérios, a obra traz uma crítica social ao moralismo e à repressão religiosa, numa alusão ao que se vê hoje no Brasil.

 

 

Samir Machado de Machado: tradutor e autor de vários romances

 

 

 

Formado em Comunicação Social e mestre em escrita criativa pela PUC/RS, Samir Machado de Machado nasceu em 1981 em Porto Alegre e é tradutor de obras de autores como Arthur Conan Doyle, Agatha Cristie, Aldouls Huxley e Oscar Wilde. É autor, dentre outros, dos romances Quatro soldados/2013, Tupinilândia/2018, Homens Cordiais/2021 e de O crime do bom nazista/2023, vencedor do Prêmio Jabuti/2024 de melhor romance de entretenimento. Homens elegantes teve a primeira versão em 2016 e este ano foi lançada esta edição revista e atualizada.

 

 

 

 

 

 

 

 

Ilustração de Antoine Jean Duclos

 

Em 525 páginas, o livro é dividido em Abertura, Primeiro ato: Acaso, Intermezzo I, Segundo ato: Coincidências, Intermezzo II, Terceiro ato: Ação inimiga e Epílogo.
E logo nas primeiras páginas o protagonista da história, o tenente Érico Borges, chega à embaixada portuguesa em Londres com uma carta de recomendação do Conde de Oeiras e é recepcionado por Armando Pinto, primeiro-secretário do embaixador Martinho de Melo e Castro. Armando passa a ciceronear o brasileiro, que, mesmo já tendo visitado a cidade, conhece os meandros da capital britânica e os recantos frequentados pela alta sociedade londrina.

 

 

Érico é apresentado como Barão de Lavos e desta maneira tem acesso aos bailes, festas e apresentações teatrais, sempre ao lado de Maria Fernanda Simões de Almeida, sobrinha do embaixador, de Armando e de um amigo deles, William Fribble, fidalgo londrino. Numa das festas mais esperadas por toda a sociedade, Érico participa de uma maratona de jogos de cartas e sai vencedor, derrotando o Conde de Bolsonaro, que paga sua dívida com promissórias.

 

 

 

 

 

 

 

 

Coincidência ou não, Érico em suas investigações descobre que Bolsonaro está por trás dos panfletos apócrifos distribuídos na corte (outra alusão aos dias de hoje, as conhecidas fake news) e da edição e distribuição clandestina dos livros pornográficos, alvo central de sua missão secreta. Pronto, está criado o mote central das disputas geopolíticas de então, já que Bolsonaro é um fanático que luta em defesa dos espanhóis (inimigos de Portugal) e, com sua visão tacanha e moralista, deseja eliminar tudo o que considera sodomita.

 

 

 

 

 

Paralelamente à sua missão, Érico é assíduo frequentador do Libertino da Lua, ou apenas Lua, comandado por Lady Madonna, que fez de “sua loja um porto seguro para que seus amigos bebessem, conversassem e realizassem saraus longe do olhar raivoso e persecutório dos que fiscalizam o rabo alheio.” É no Lua que Érico conhece o jovem Gonçalo, padeiro requintado, também brasileiro, e ambos vivem um apaixonado romance. Tanto o universo vivido no Lua como a relação íntima do casal Érico/Gonçalo e as festas de seus amigos — chamados na época de fanchonos — são descritos de maneira aberta e sem rodeios, por mais que o preconceito e a visão puritana e conservadora estivessem muito arraigados na sociedade.

 

 

 

 

 

Duas passagens na obra chamam a atenção. A primeira, de ordem formal, é a interferência do narrador diretamente na história:

 

 

 

“Quem sou? Sou aquele a cujas mãos inábeis, muitos anos depois desses acontecimentos, foram confiados os diários e cartas de Érico Borges, para deles extrair este romance, mentiroso e vulgar como toda ficção em prosa. Mas esta trama não é sobre mim, narradores não deveriam se intrometer demais nos enredos, aqui estou apenas de passagem e me abstenho de mais formalidades: eu narro, você lê, Érico vive.”

 

 

 

Ilustração de Jonh Gwynn

 

Outro momento marcante da obra é o discurso de Gonçalo diante da tripulação do navio (constituída de grande parte por seus amigos fanchonos) que irá lutar contra o navio inimigo que fez seu amado Érico de prisioneiro. Um grito contra a opressão e a homofobia:

 

 

“Escutem! Vocês precisam entender contra quem vamos lutar. É ele quem sempre os escolhe, nosso único e verdadeiro inimigo. Que nos odeia, e nunca poupa esforços para nos perseguir e humilhar. Ele diz que somos inferiores e indignos de nossa própria humanidade. Ele não é mais um homem, nem um navio, ele é o Ódio encarnado. Lembrem-se: ninguém aqui está sozinho! Aquele que ama nunca estará sozinho, pois há um Deus justo e bom, que é feito de Amor que lutará ao nosso lado. Vamos lutar com corações e almas e vamos prevalecer! Juntem nas mãos toda a dor e sofrimento que nos foi imposto e enfiem na garganta deles até que sufoquem! E eles serão derrotados!”

 

 

 

 

 

A descrição da batalha emociona e cativa o leitor. Mesmo a trama se passando no século XVIII, o autor dosa muito bem drama, ação e romance, além de fazer referências ao mundo contemporâneo, com críticas ao moralismo e sectarismo religioso.

 

 

 

 

 

Ficha técnica:
Título: Homens elegantes
Autor: Samir Machado de Machado
Editora: Todavia, 525 pgs
Preço: R$ 109,90

 

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