De Maurício Mellone em julho 13, 2018
Para comemorar 30 anos de existência do grupo, os cariocas da Cia dos Atores escolheram o texto inédito do dramaturgo Jô Bilac, Insetos, que acaba de estrear no CCBB-SP. Com direção de Rodrigo Portella, a montagem, constituída de 12 quadros, é uma metáfora da vida em sociedade dos dias atuais por meio da convivência entre os insetos. Partindo de um desequilíbrio na natureza em que as abelhas desaparecem, as demais espécies de insetos iniciam uma guerra pela sobrevivência, numa alusão direta aos conflitos sociais e políticos enfrentados pela sociedade atualmente.
Com cenário composto de câmaras de ar e pneus — manipulados pelos atores em cada mudança de quadro — e com figurinos de poucos elementos que remetem aos insetos, o espetáculo tem forte conotação política, mas tudo com muito humor e ironia.
O texto original de Jô Bilac, que já havia trabalhado com o grupo em 2014 na montagem de Conselho de classe, foi sendo adaptado pelo diretor e pelos atores durante a fase de ensaios e ganhou o tom de fábula, com os insetos agindo como os homens. A ação tem início com a constatação do desaparecimento das abelhas, que desencadeia o conflito geral. O louva-a-deus, com sua tendência predadora, instaura o estado totalitário e de perseguição, o que faz com que as demais espécies iniciem a luta pela sobrevivência. Assim insurgem contra o ditador a barata, o gafanhoto, a cigarra, o besouro, a mariposa, o mosquito, a borboleta, o cupim, a mosca e a formiga.
“Essa peça me permitiu trabalhar o lugar do atrito entre o cômico e o trágico, refletido no estado de guerra proposto pelo texto. Trabalhamos entre o universo microscópico e invisível dos insetos e o nosso universo”, esclarece o diretor Rodrigo Portella.
Sem referências diretas e citações nominais, a montagem se remete a fatos da vida política do país que o público facilmente identifica, como a interferência militar no Rio de Janeiro e a opção dos brasileiros de deixar o país em função da crise (na peça os insetos almejam se mudar para Portugal). Mesmo lidando com temas duros e sofridos da realidade, o espetáculo é bem humorado, com tiradas irônicas.
Além da dramaturgia que provoca uma reflexão profunda da realidade e a concepção cênica criativa, o grande destaque da montagem é a perfeita sintonia entre os atores, que se conhecem e trabalham juntos há muito tempo. A iluminação de Maneco Quinderé e o figurino de Marcelo Olinto também merecem ser realçados. A temporada se estende até agosto, não deixe de conferir!
Roteiro:
Insetos
Texto: Jô Bilac. Adaptação: Cia dos Atores e Rodrigo Portella. Direção: Rodrigo Portella. Elenco: Cesar Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Susana Ribeiro. Cenário: Beli Araújo e Cesar Augusto. Figurino: Marcelo Olinto. Iluminação: Maneco Quinderé. Preparação corporal: Andrea Jabor. Direção musical: Marcelo H. Visagismo: Marcio Mello. Fotografia: Elisa Mendes. Produção executiva: Bárbara Montes Claros. Realização: Cia dos Atores.
Serviço:
CCBB-SP (140 lugares), Rua Álvares Penteado, 112, tels. 11 3113-3651/3652. Horários: quarta, quinta, sexta, sábado e segunda às 20h e domingo às 18h. Ingressos: R$ 20. Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h. Duração: 80 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 20 de agosto.
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