De em março 22, 2011
O iraniano Abbas Kiarostami, diretor de Gosto de Cereja entre outros sucessos, agora nos brinda com Cópia Fiel (Copie Conforme), que rendeu o prêmio de melhor atriz para a francesa Juliete Binoche no último Festival de Cannes. E seu estilo permanece o mesmo: com um lento passeio de câmera, o espectador é levado a um mergulho na problemática de personagens densos. O escritor James (William Shimell) vai a uma cidadezinha da Toscana/Itália fazer uma palestra sobre seu mais recente livro, que leva o nome do filme. Entre os ouvintes, estão a galerista Elle (Binoche) e seu filho pré-adolescente, vivido por Adrian Moore. Eles deixam o recinto antes do término da palestra, sem antes ela deixar seu telefone para que o escritor a procurasse. Pouco depois, ela o convida para um passeio à comuna de Lucignano: lá acontece o inesperado, o mote do filme. São confundidos pela dona da cafeteria como um casal e logo em seguida eles reiniciam o passeio, mas agora vivendo os personagens de marido e mulher.
Os 15 anos de relacionamento desgastado vêm à tona e eles discutem o sentido de estarem ainda juntos. Paradoxalmente, ao redor do casal em crise, há diversos nubentes felizes que procuram o vilarejo para celebrarem o casamento e festejarem! O antagonismo entre James e Elle e os demais é gritante! E um detalhe me chamou a atenção: a troca de idiomas entre o casal. Se antes da cafeteria ele só falava inglês e ela inglês (com ele), francês (com o filho) e italiano com os demais, a partir do momento que vivem como marido e mulher, as brigas são em francês, o contato com os italianos, na língua nativa e o inglês para conversas formais e mais amenas.
A intenção do diretor é deixar a discussão em aberto, para que o público reflita sobre a vida conjugal. Os dois são ou não um casal de verdade? Cada um pode ter a sua leitura e entendimento do argumento de Kiarostami. O grande destaque, sem dúvida, é a atuação de Juliete Binoche, que compõe uma mulher de meia idade, bem-sucedida profissionalmente, mas que sofre para educar sozinha o filho e sente a ausência constante do amado. Em entrevista ao jornal O Globo ela discorre sobre sua personagem:
“Para dar vida ao gesto de um personagem, me pergunto por que aquela figura faz aquele gesto. Ao perguntar isso, eu entendo seu comportamento. Entendendo seu comportamento, descubro sinceridade. Descubro e imprimo. E é disso que Cópia Fiel fala: ser capaz de fabular tendo como base a percepção, o passado e a imaginação”.
Não é por acaso que a atriz brilha em todos os seus trabalhos e é agraciada com prêmios!
8 Comentários
Laura Fuentes
março 25, 2011 @ 13:25
Nossa, você me instigou e os teus leitores mais ainda. Vou assistir loguinho e volto aqui com os meus pitacos.
beijão
Maurício Mellone
março 25, 2011 @ 14:19
Laura:
Que bom q vc tb ficou aguçada para assistir!
Volte para deixar suas impressões!
Bjs saudosos e obrigado pela frequência!
Dinah
março 22, 2011 @ 19:17
Maurício,
Em geral, vou ver Juliette Binoche no cinema, seja qual for o papel que lhe deem. Desta vez, tenho dois motivos para ir conferir o trabalho dela: gosto muito do Kiarostami também!
Lembro que gerou polêmica o prêmio em Cannes e, engraçado, já ouvi uma crítica desfavorável ao filme (uma amiga viu e achou muito monótono). Esse tipo de filmagem lenta não agrada a todo mundo.
Mas, lendo sua crítica, dá pra ver que as ‘leituras’ de uma história e seus personagens variam muito de uma pessoa a outra, e isso é ótimo!
Juliette Binoche, as paisagens da Toscana e um bom enredo nas mãos do Kiarostami, a meu ver, já garantem uma boa sessão. Nem que seja de análise da vida conjugal (rsrs)!!!
Gostei da resenha! beijos.
Maurício Mellone
março 23, 2011 @ 11:28
Dinah:
O Michel Fernandes do Aplauso Brasil sempre me diz que publica várias críticas/resenhas no site sobre o mesmo
espetáculo exatamente pela razão apontada por vc: as visões e leituras que uma obra de arte pode propor para o
público.
Depois q vc for conferir essa parceria Binoche Kiarostami, continuamos nosso papo!
Obrigado pelos elogios e pela frequência!
bjs
Rico
março 22, 2011 @ 19:16
Parece muito bom…além de também adorar a Juliete, a história pelo que vc escreveu, é bem interessante! Vou conferir!
Obrigado por mais uma dica, bjo
Maurício Mellone
março 23, 2011 @ 11:29
Rico:
Vá mesmo, vc vai se encantar com a discussão do casal. É a sua “cara”!
bjs
Mario Viana
março 22, 2011 @ 18:27
Eu vi sábado o filme e gostei – embora a primeira sessão do Espaço Unibanco estivesse lotada, o casal de 60es que chegou atrasado e sentou-se ao meu lado não desligou o celular e o filme saiu do ar duas vezes, numa delas por 20 longos minutos.”A gente perdeu o sinal”, disse o rapaz. Eu não sabia que projeção digital dependia disso.
Enfim, gosto do filme, especialmente da virada e do não esclarecer pissiricas. Não sei se acho o trabalho da Juiliette tão impressionante – quer dizer, é bom, sem dúvida, mas no mesmo nível de outros ótimos trabalhos dela, a mina é foda. E é poliglota!
E tem o luxo do Jean-Claude Carriere fazendo o velho conselheiro! Chique até dizer chega.
Maurício Mellone
março 23, 2011 @ 11:37
Mário:
Que pena q houve problema técnico na projeção da sessão a q vc foi!
Deixar em aberto a relação dos personagens é bem interessante mesmo. Sobre a Juliete,
gostei muito do desempenho dela. A forma como apresenta a Elle, galerista, mãe e amante sofrida, me encantou!
A cena na porta da Pousada e ela na cama, lânguida, são sublimes!
bjs