De Maurício Mellone em maio 23, 2025
A diretora Marianna Brennand, natural de Brasília e formada em cinema na Califorina/EUA, é autora de documentários premiados, como Francisco Brennand/2012, sobre seu tio-avô- famoso artista plástico pernambucano, e O coco, a roda, o pneu e o farol/2007, sobre tradição musical do “coco de roda” em Olinda/PE.
Manas, premiado no Brasil e no exterior, marca a estreia de Marianna na direção de longa-metragem de ficção.
A trama, baseada em extensa pesquisa realizada na região da Ilha do Marajó/Pará, denuncia a exploração sexual de meninas e adolescentes. Com roteiro assinado por uma equipe — a diretora e cindo profissionais, Marcelo Grabowsky, Felipe Sholl, Antonia Pelegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides —, o foco é o cotidiano de uma família simples, moradora da Ilha de Marajó: o pai Marcílio, vivido por Rômulo Braga, a mãe Danielle, papel de Fatima Macedo, e 4 filhos, incluindo Marcielle, de 13 anos, interpretada pela jovem atriz Jamili Correa, que sofre com o sumiço de sua irmã mais velha e aos poucos vai descobrindo uma realidade dura e violenta, que ela arrisca em enfrentar.
O filme começa mostrando o dia a dia da família de Marcielle e seus irmãos; a a mãe, que está grávida, fica um tanto alheia à movimentação dos filhos, mas o pai, ao contrário, está presente e até participa das brincadeiras das crianças no rio. Marcielle pergunta para mãe sobre a irmã mais velha que foi embora e nunca mais deu notícias, mas a mãe diz que ela está melhor do que eles; a garota não entende o que ocorreu e muito menos a postura da mãe.
A vida inocente e infantil de Marcielle começa a se modificar; primeiro o pai a convida para caçar e eles vão sós no barco; aquela aproximação modifica o modo com que a garota passa a enxergar o pai, que a obriga dormir com ele na cama, à noite. Depois a menina aceita o convite de uma amiga e elas participam de uma festa num bar. O passo seguinte é um passeio na barca que passa pela Ilha. O espectador, assim como Marcielle, percebe que as barcas são o contato para a prostituição de menores.
O olhar e o semblante de Marcielle se transformam: de uma menina ingênua e alegre, ela passa a ser uma adolescente triste e introspectiva. Tudo se modifica com a chegada de uma expedição oficial do governo, que além de pronto atendimento médico, oferece documentação aos moradores. A oficial da polícia federal Aretha, papel de Dira Paes, percebe algo estranho no comportamento de Marcielle e consegue descobrir que a menina está sendo molestada pelo pai. Revoltado, Marcílio nega tudo para as autoridades, mas em casa mostra as garras e o clima violento se instaura.
O roteiro e a direção são muito bem estruturados e o espectador é envolvido ao drama das garotas e meninas da Ilha do Marajó com a evolução da história de Marcielle. O desfecho é inusitado, surpreendente e o público sai da sala de exibição como se tivesse levado um soco no estômago. Fiquei impressionado com a performance de Jamili Correa, uma revelação. Destaque ainda para a atuação de Dira Paes e Rômulo Braga, que compõem seus personagens com verdade. Filme denúncia, imprescindível para os dias atuais.
Fotos: divulgação
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