De Maurício Mellone em janeiro 19, 2017
Depois de sucesso no ano passado, está de volta ao Viga Espaço Cênico o espetáculo dirigido por André Garolli, Memórias (Não) Inventadas, baseado na peça Lembranças de Bertha e outros contos do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams.
Desta vez Fernanda Viacava divide a cena com Camila dos Anjos e Eucir de Souza e dá vida à prostituta Bertha, que no fim da vida precisa ceder o quarto do bordel onde mora para novas prostitutas. É neste momento que ela transita entre a realidade e a imaginação e dialoga tanto com as pessoas que convivem com ela no momento como com parentes e fantasmas do passado.
A montagem de Garolli se apropria muito bem do espaço cênico: ao entrar na pequena sala, o público já se depara com a Bertha confinada na cama daquele quarto de bordel; sempre tossindo, ela se revira na cama e só depois de algum tempo percebe-se que na penteadeira estão duas bonecas, uma gigante (Camila) que tem a função de ser a narradora e de fazer as vezes de outras personagens (reais e imaginárias) da velha prostituta.
Além da boneca, Bertha se relaciona com a gerente da casa (Eucir), que também encarna os demais personagens da vida dela, como o pai, o amante, o filho. A escada para entrar no quarto — também usada pelo público — tem belo efeito dramático: Eucir aparece do topo da escada e como encarna personagens masculinos e femininos tem um lado do rosto maquiado como mulher e do outro como homem. Nesta escada, o embate com Bertha é evidenciado ainda mais.
Uma das principais questões levantadas pelo espetáculo é sobre a lembrança que temos dos acontecimentos: o que nos lembramos dos fatos foi exatamente como tudo aconteceu? A fantasia e a imaginação não nos ajudam a lidar melhor com dura realidade em que vivemos? No caso da personagem central, o mundo fantástico ajuda a amenizar tanto sofrimento por que ela passa na realidade; no entanto alguns fantasmas também reaparecem para deixá-la ainda mais vulnerável.
“Após estudos sobre Tennessee Williams, nos vimos diante de uma gama de possibilidades simbólicas, líricas e imagéticas a explorar. Na peça, propomos uma viagem para dentro da cabeça da prostituta Bertha em seus últimos momentos de vida: sua condição delirante surge como uma oportunidade para abrir cortes no tempo e espaço, confundir memórias e alucinações e, acima de tudo, revelar ao espectador um mosaico de imagens colhidas na obra do autor”, detalha André Garolli.
Com um cenário (assinado por Kleber Montanheiro) extremamente condizente com o enredo e a precisa iluminação de Rodrigo Alves, a montagem de Garolli dá ênfase ao jogo dramático entre os atores, que envolvem os espectadores naquele drama vivido pela prostituta. Fernanda emociona com a dubiedade da personagem, entre a realidade e a imaginação, e Eucir e Camila, vivendo mais que um personagem, redimensionam o universo de Tennessee Williams.
Mais uma excelente produção deste início de temporada teatral.
Fotos: Paulo Fischer
4 Comentários
Ed Paiva
março 31, 2017 @ 06:40
Maurício,
Consegui assistir a última apresentação da temporada com Camila e Eucir. Estão maravilhosos! Assisti a outra temporada, também extraordinária.É incrível a magia do teatro. Como uma mesma história transforma-se aos poucos, realçando detalhes. Mas, como tudo o que resta são memórias, inventadas ou não, adorei guardar essas.
Parabéns pelo blog!
Maurício Mellone
março 31, 2017 @ 15:01
Ed,
Não tive a chance de assistir a primeira montagem
com outros atores.
Fiquei fascinado pelo espetáculo, que cumpriu uma temporada de
sucesso! Maravilhoso!
Obrigado por sua presença constante por aqui
Bjs
Fábio Mráz
janeiro 19, 2017 @ 17:44
Maravilhoso! Vou ver hoje com esse novo elenco!
Maurício Mellone
janeiro 23, 2017 @ 14:21
Fábio,
tomara q vc tb goste da peça com o novo elenco.
Eu adorei (a primeira versão eu perdi….)
obrigado pela visita
bjs