De Maurício Mellone em abril 1, 2017
Lulu Pavarin e Sabrina Greve dão vida às enigmáticas personagens da nova peça da paulistana Michelle Ferreira, Não somos amigas, que acaba de estrear no Espaço Beta do SESC Consolação. Com direção de Maria Maya, que contou com Cynthia Falabella como sua assistente, a trama revela a conflituosa relação de duas mulheres, que num pequeno apartamento próximo ao aeroporto — o ruído dos aviões é mais um elemento aflitivo — vivem entre o amor e o ódio, a atração afetiva e o sentimento de repugnância. O espectador passa a maior parte do espetáculo sem saber que relação elas mantém ou o porquê daquele encontro. Este jogo dramático prende a atenção de todos até a última cena.
O texto de Michelle tem proximidade com duas montagens recentes encenadas na cidade, O Bosque Soturno e Ponto Morto, em que dois personagens vivem em permanentes conflitos. Se nas outras duas as relações são nítidas — a primeira o duelo é entre dois irmãos e a segunda entre pai e filho —, nesta o enigma permanece quase até o final: quem são aquelas mulheres e qual a razão daquele encontro. Elas poderiam ser simplesmente amigas, mas também amantes ou até parentes. Para a diretora, o importante não é perceber qual a relação entre elas, mas como tudo se estabelece, podendo ser tanto um relacionamento familiar como simples amizade.
No pequeno e aconchegante espaço cênico, o público entra e as duas mulheres já estão em cena: uma de pé, ansiosa tentando tirar um anel do dedo e a outra paralisada e com o olhar fixo para frente. Com o início, elas revelam como se relacionam, neste misto de carinho e ojeriza.
“O espetáculo fala da vida e da morte, emociona o público e o leva à reflexão. É um tratado de memória, de conflito e de amor, com o qual é possível dialogar com as sensações de quem assiste”, diz Michelle Ferreira.
Além de um texto recheado de enigmas (o espectador não desvia a atenção da trama) e a direção de Maria Maya que enfatiza a nebulosidade entre as personagens, a montagem é muito cuidadosa, com a sonoplastia (Aline Meyer) e a iluminação (Aline Santini) bem conectadas e um belíssimo figurino de Tatiana Brescia. No entanto o grande destaque fica para a simbiose em cena de Lulu e Sabrina: com frases entrecortadas, num ritmo alucinante das falas, as atrizes passam a dimensão, a profundidade e a conexão exata daquelas mulheres.
Uma curiosidade: a ficha técnica da peça é praticamente composta apenas de mulheres, o que talvez tenha redimensionado a proposta da dramaturga, de esmiuçar o universo feminino nos dias atuais.
Roteiro:
Não somos amigas. Texto: Michelle Ferreira. Direção: Maria Maya. Diretora assistente: Cynthia Falabella. Elenco: Lulu Pavarin e Sabrina Greve. Figurino: Tatiana Brescia. Desenho de luz: Aline Santini. Sonoplastia: Aline Meyer. Cenografia e design gráfico: Amanda Vieira. Fotografia: Ligia Jardim. Produção Executiva: Fernanda Moura e Renata Araújo. Idealização e Direção de Produção: Lulu Pavarin.
Serviço:
Sesc Consolação, Espaço Beta (50 lugares), R. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000. Horários: segunda e terça às 20h. Ingressos: R$ 20, R$ 10 (estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência) e R$ 6 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). Duração: 60 minutos. Classificação: 14 anos. Temporada: até 18 de abril.
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