Novas diretrizes em tempos de paz: outra versão da peça de Bosco Brasil

De em novembro 3, 2025

 

 

Eric Lenate e Fernando Billi protagonizam embate entre ex ator com ex torturador, em 1945

 

 

Premiada peça de Bosco Brasil, Novas diretrizes em tempos de paz — já encenada em diversos países —, volta a ser montada, desta vez pelas mãos do ator e diretor Eric Lenate, que divide o palco com Fernando Billi. A trama se passa em 1945, no final da segunda guerra mundial e da ditadura de Getúlio Vargas, quando Clausewitz (Lenate), um judeu/polonês, tenta entrar no Brasil e é submetido a um interrogatório comandando por Segismundo (Billi), um funcionário da alfândega do Rio de Janeiro.

 

 

A primeira montagem da peça foi em 2002, dirigida por Ariela Goldmann, com Tony Ramos (Segismundo) e Dan Stulbach (Clausewitz). E, com direção de Daniel Filho, o texto recebeu em 2009 versão para o cinema, com os mesmos atores (Tony e Dan). O texto, mais do que jogar luz aos horrores do totalitarismo mundial e brasileiro, é uma forma de enaltecer a arte e o teatro como formas de resistência. A comovente montagem acaba de estrear no Teatro Estúdio, com previsão de ficar em cartaz até fevereiro de 2026.

 

 

 

 

 

 

Clausewitz (Lenate) é interrogado por Segismundo(Billi)

 

 

O público ao entrar já se depara com o palco (giratório), em formato arena, que representa o escritório de um órgão burocrático dos anos 1940, do governo GV, localizado no porto do Rio de Janeiro. É lá que acontece o embate entre os dois personagens: de um lado o imigrante europeu, ex ator, que está fugindo do terror nazista e vem buscar novos ares na América; no lado oposto, o funcionário federal, ex torturador, é obrigado a se submeter aos novos rumos do governo que assinara anistia aos presos políticos. Ele acredita que o imigrante é um espião e propõe a ele um inusitado desafio. No programa da peça, o diretor é enfático ao definir o texto de Bosco Brasil:

 

 

 

 

 

 

“Uma reflexão sobre a dificuldade de representar o horror extremo e convertê-lo em testemunho dotado de sentido compartilhável. Uma reflexão sobre o papel (im)possível da arte no mundo que emerge da barbárie. Uma tentativa de verificar, ainda, se a vida, teimosa e imperfeita, encontra espaço para se manifestar”, exclama Eric Lenate.

 

 

 

 

Num cenário composto de uma rica coleção de objetos de época, Clausewitz é interpelado de forma autoritária por Segismundo, que, para encerrar a investigação, propõe que o judeu o faça chorar com seu depoimento. O imigrante aceita a provocação e inclui em sua história pessoal trechos de peças que interpretou no palco. O salvo-conduto depende da retórica e da performance do ex ator. Exatamente neste embate final que o texto de Bosco Brasil ganha maior vitalidade, pois torna-se uma celebração ao teatro, uma ode à arte.

 

 

 

Interpretação vigorosa dos atores

 

Com a direção voltada à interpretação, a montagem tem forte carga emocional, graças, justamente, ao vigor da atuação, tanto de Fernando Billi como de Eric Lenate. Outros destaques ficam para a trilha original e a iluminação que contribuem para o fluxo narrativo. Único senão: a movimentação constante do palco provoca certo distanciamento. Acredito que o palco giratório impede a imediata aproximação do espectador à história retratada. Porém, os atores revertem a situação. Não percam e sigam a peça no Instagram:

 

 

 

 

@emtemposdepaz

 

 

Roteiro:
Novas diretrizes em tempos de paz. Texto: Bosco Brasil. Direção artística: Eric Lenate. Codireção artística: Vitor Julian. Elenco: Fernando Billi e Eric Lenate. Trilha sonora original: L. P. Daniel. Desenho de luz: Aline Sayuri e Eric Lenate. Figurinos: Jocasta Germano. Visagismo: Leopoldo Pacheco. Cenografia: Eric Lenate. Produção e confecção de objetos e adereços: Jorge Luiz Alves e Eric Lenate. Fotografia: Leekyung Kim. Direção de produção e administração: Mauricio Inafre. Idealização e gestão de projeto: Fernando Billi e Eric Lenate. Produção: Uma Arte Produções Artísticas.
Serviço:
Teatro Estúdio (158 lugares), Rua Conselheiro Nébias, 891, tel. 11 97474-1912. Horários: sexta e sábado às 20h e domingo às 16h. Ingressos: R$ 80 e R$ 40.Vendas: Sympla. Duração: 80 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 8 de fev/2026.

 

4 Comentários

Adriana Bifulco

novembro 6, 2025 @ 14:51

Resposta

Felizmente, um tema tão complexo foi abordado de forma magistral pelos atores. Acredito que o palco giratório, como foi mencionado, tenha tumultuado um pouco o enredo. Mas o conjunto – com trilha sonora, iluminação e os detalhes do cenário – se destacaram. Que bom!!

Maurício Mellone

novembro 6, 2025 @ 16:32

Resposta

Adriana:
A peça do Bosco Brasil é extremamente atual e provoca uma
reflexão sobre a difícil relação entre os homens.
Esta nova montagem propicia que um número maior de pessoas
possa ter acesso a este texto sensível, já que permanece em cartaz
até o início do próximo ano.
Beijos e obrigado pela visita.

Csrlos Ferreira Villares

novembro 3, 2025 @ 20:02

Resposta

Grande obra e grande elenco !

Maurício Mellone

novembro 4, 2025 @ 14:41

Resposta

Carlos:
O texto do Bosco Brasil é mesmo sensacional
e a nova montagem é criativa, sensível.
Obrigado pela visita, volte mais vezes
Abraços

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