De Maurício Mellone em novembro 2, 2012
Exemplo de entrega absoluta à arte e ao teatro. Este é o retrato de Elias Andreato, revelado em cada trabalho a que se propõe. E em O And@nte, em cartaz no Teatro Eva Herz, esta entrega só se evidencia: o ator encara seu oitavo solo, é o responsável pelo texto, pela direção, compartilhada com André Acioli, além do cenário e figurino. E tudo isto para dar vida a um andarilho, que ao invés de catar objetos e quinquilharias por onde passa, recolhe palavras, pensamentos e reflexões em busca do conhecimento.
Ontem pude vivenciar um momento de elevação e contentamento: depois de assistir à peça O And@nte, Elias Andreato voltou ao palco e conversou com a plateia sobre a composição e elaboração do espetáculo. Disse como costurou pensamentos de diversos autores, como poetas, escritores, dramaturgos e filósofos e como foi buscar inspiração em artistas como Arthur Bispo do Rosário assim como em andarilhos e mendigos das nossas ruas para compor o personagem. Ele dividiu ainda com os espectadores suas angústias, anseios e expectativas diante do mundo atual:
Neste momento dramático do mundo, este personagem da peça vem confirmar que a alma humana é um manicômio de caricaturas fragmentadas. Uni todos estes textos para ir ao encontro do conhecimento e dizer como é importante o livro na vida de todos nós. E é dever dos poetas e artistas chorar e rir com seu povo,” diz o ator.
O andarilho da peça foge do estereótipo padrão de mendigo: usa figurino branco, limpo e os objetos que carrega no carrinho, assim como os adereços de seus trajes, são de prata e ouro, reluzentes. As ideias e pensamentos que ele expõe em cena também refletem lucidez, clareza e profundidade. Não é à toa que O And@nte de Elias bebe da mesma fonte e pertence ao mesmo universo de artistas como Bispo do Rosário, Van Gogh, Oscar Wilde, Antonin Artaud, Jean Genet e até do mendigo da peça Chorinho, de Fauzi Arap.
Este é um andarilho que percorre o universo poético das almas dos imortais falando da solidão entre o caminhar e o pensar. O que ele fala são reflexões ou delírios sobre a vida como lugar de mera passagem. Um carroceiro que recicla palavras catadas nos livros”, afirma Andreato.
A trilha sonora de Daniel Maia seguiu os mesmos moldes da composição do roteiro, cenário e figurino: de acordo com Elias, cada música foi escolhida e colada lado a lado, ao compasso das palavras. Destaque ainda para a iluminação de Wagner Freire e o logo, criado pelo irmão do ator, Elifas Andreato.
Um espetáculo pra deixar o espectador de alma lavada, em estado de êxtase. Não perca e fique atento: a peça é apresentada só às quintas-feiras, até 13 de dezembro.
Fotos: João Caldas
2 Comentários
André Acioli
novembro 5, 2012 @ 18:43
Maurício, com muita sensibilidade, vc captou tudo que quisemos passar no espetáculo.
Durante o processo, nossa preocupação era essa comunicação com o espectador.
Ler seu texto me confirmou que sim. Nosso “And@nte” comunica, sensibiliza e toca o coração das pessoas.
Isso me acalenta muito.
Agradeço muito, tudo.
Maurício Mellone
novembro 6, 2012 @ 17:10
André:
Que honra receber o retorno do diretor da peça!
Fico muito contente que tenha gostado da minha visão
sobre o emocionante espetáculo O And@nte!
Parabéns a todos da equipe, em especial ao Elias!
bjs