De Maurício Mellone em janeiro 7, 2025
Nada melhor do que escrever sobre um filme brasileiro, O Auto da Compadecida 2, no dia da consagração da atriz Fernanda Torres, que acaba de receber o prêmio Globo de Ouro pelo filme Ainda estou aqui, de Walter Salles, por sua comovente interpretação de Eunice Paiva.
Viva Fernanda Torres! Viva Fernanda Montenegro! Viva o cinema e a cultura do Brasil!
Se em 2000 o diretor Guel Arraes adaptou para o cinema o clássico da literatura de Ariano Suassuna, desta vez, quase 25 anos depois, ele, em parceria com Flávia Lacerda, revisita os personagens icônicos de Ariano, João Grilo e Chicó, interpretados por Matheus Natchtergaele e Selton Mello, num tom de fábula e comédia. Depois de 20 anos desaparecido, João volta a Taperoá e revê seu fiel escudeiro, que passou a viver contando a história do milagre de Nossa Senhora de ter ressuscitado o velho amigo. As confusões e aventuras da dupla recomeçam.
A cidade Taperoá (desta vez reproduzida em estúdio) está sob uma tremenda seca e Chicó sobrevive contando a história da ressureição de João Grilo. Por isto que ao reencontrar o amigo ele se assusta, pensando que está diante de um fantasma. Por sua vez, João também se surpreende ao saber que o povo o reconhece como um santo ou pelo menos como uma celebridade.
As confusões recomeçam quando o dono da rádio, Arlindo, vivido por Eduardo Sterblitch, e o coronel Ernani, papel de Humberto Martins, líderes políticos da cidade, utilizam da popularidade de João Grilo como trampolim para vencer as eleições locais. Logicamente que o esperto sertanejo tenta tirar vantagem de ambos os lados.
Para elucidar o espectador, em alguns momentos a trama é entrecortada com cenas do primeiro filme. No entanto, as personalidades dos personagens centrais são as mesmas: Chicó é o eterno medroso que conta suas histórias mirabolantes e João, o aventureiro, que cria todo o tipo de trambique para se dar bem. Outra personagem que volta é Rosinha (Virgínia Cavendish), só que desta vez vive como caminhoneira e reata o romance com Chicó. O jagunço e matador Joaquim Brejeiro, vivido por Enrique Diaz, também reaparece, só que desta vez promete não falhar na execução de sua vítima.
Com roteiro assinado por Guel Arraes, Adriana Falcão, João Falcão e colaboração de Jorge Furtado, o filme tem seu ápice no outro julgamento celestial de João Grilo. A novidade é que tanto o diabo como Jesus são interpretados por Matheus Natchtergaele (as duas faces da persona do réu) e a redentora é Nossa Senhora Aparecida, interpretada por Tais Araújo.
Particularmente não sou adepto de remakes ou refilmagens — o sucesso da trama original fica no imaginário do público e dificilmente é apagado; porém, os personagens cativantes de Suassuna ganharam o gosto popular, graças ao talento de Selton e Matheus. Quero destacar a criativa trilha sonora, assinada por João Falcão e Ricco Viana, que contribui para o desenrolar da trama; Fiadeira de Juliano Holanda interpretada por Maria Bethânia e Como vai você (Roberto e Erasmo Carlos) na voz de Chico César comovem o espectador.
Aproveitando o sucesso de Ainda estou aqui, vá ao cinema assistir ao filme de Guel Arraes e Flávia Lacerda. Fique com um aperitivo, com a versão de Chico César para Como vai você.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Imad
janeiro 8, 2025 @ 17:20
Antes do apagar das luzes de 2024, assisti ao filme e me diverti em vários momentos, com as aventuras de Chicó e João Grilo. Viva o cinema brasileiro, estimado Mellone. Bom ano de cultura para nós!
Maurício Mellone
janeiro 9, 2025 @ 15:11
Imad, querido:
Que 2025 seja recheado de ótimas produções culturais para nós!
Obrigado pela visita, volte sempre!
Bjs