O céu da língua: comédia de Gregorio Duvivier homenageia a poesia

De em maio 13, 2025

 

Solo com Gregorio Duvivier, autor do texto, estreou em Portugal e está em turnê pelo país

 

 

Comédia cujo conteúdo é a língua portuguesa. A princípio pode parecer estranho que uma peça cômica tenha como foco principal a palavra, mas é exatamente o que Gregorio Duvivier apresenta em O céu da língua, espetáculo solo dirigido por Luciana Paes que presta uma homenagem à poesia e ao nosso idioma português.

 

 

Em pouco mais de uma hora, num palco vazio, somente com a ajuda da designer Theodora Duvivier (irmã do comediante) que faz projeções de palavras, termos e expressões num telão e da interferência do instrumentista Pedro Aune, Gregorio encanta a plateia com gags e tiradas hilárias sobre nossa língua. O espetáculo estreou em Portugal, está em turnê pelo país e permanece no Teatro Sergio Cardoso até 1º de junho.

 

 

 

As armas e os barões assinalados/
Que da ocidental praia lusitana/
por mares nunca de antes navegados…

 

 

Ator é auxiliado pela irmã Theodora e pelo músico Pedro Aune

 

Com uma entrada de impacto e declamando os primeiros versos do poema épico de Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, Gregorio, num figurino ao estilo do poeta lusitano, inicia o espetáculo. Mas logo quebra o clima com uma piada sobre as próprias vestes. E diz que invariavelmente a gente se utiliza da poesia sem se dar conta. E enumera uma série de exemplos, que provocam o riso dos espectadores. Pronto, o envolvimento da plateia já se deu e permanece até ao final. Esta química é confirmada pela diretora:

 

 

 

 

 

 

“O stand-up comedy aqui é uma pegadinha pra falar de literatura. O Gregorio comediante está no palco ao lado do Gregorio intelectual com seu fluxo de pensamento ininterrupto e, por isso, a plateia embarca na proposta”, afirma Luciana Paes.

 

 

Gregorio brinca com palavras e expressões

 

São inúmeras as tiradas que ele faz sobre alguns termos, como por exemplo as palavras que perderam o trema no último acordo ortográfico: ele cita muitas delas, enfatizando a diferença da pronúncia, o que deixa tudo muito engraçado. Outra passagem bem divertida do espetáculo são os termos antigos que tinham um significado e foram recuperados pelos jovens com outra conotação, como sinistro ou irado. Gregorio também brinca com a sonoridade de alguns termos e o que elas significam, como azia, afta, enjoo, além de diarreia, gonorreia — estas também perderam o acento no acordo ortográfico, mas seus sentidos são um tanto desagradáveis!

 

 

 

 

“Escrevi uma peça que pode ajudar alguém a enxergar melhor o que os poetas querem dizer e, pra isso, a gente precisa trocar os óculos de leitura. A peça fica na esquina do poema com a piada”, diz Gregorio Duvivier.

 

 

 

Ator comove por sua rapidez do fluxo mental

O espetáculo é muito divertido e ao mesmo tempo faz com que o espectador reflita sobre o nosso jeito de falar e como é bela e rica a língua portuguesa. O ator comenta ainda sobre como a poesia chega à grande massa da população por meio dos compositores de música popular; cita entre outros Orestes Barbosa (Chão de Estrelas/1937) e Caetano Veloso (Língua/1984).
Fiquei impressionado com a verve e a rapidez do fluxo mental de Gregório. Ele deve chegar ao final exausto, mas não transparece. No dia em que assisti, no final ele ainda chamou ao palco as duas filhas pequenas e conseguiu brincar com elas e a imensa plateia que lotou o teatro. Imperdível!
@ceudalingua
@pevi56

 

 

 

Roteiro:
O céu da língua. Texto e interpretação: Gregorio Duvivier. Direção e dramaturgia: Luciana Paes. Assistência de direção e projeções: Theodora Duvivier. Direção musical e execução da trilha: Pedro Aune. Cenografia: Dina Salem Levy. Figurino: Elisa Faulhaber e Brunella Provvidente. Iluminação: Ana Luzia de Simoni. Visagismo: Vanessa Andrea. Fotografia: Demian Jacob, Joana Calejo Pires e Raquel Pellicano. Produção executiva: Lucas Lentini. Produção: Pad Rok.
Serviço:
Teatro Sérgio Cardoso/sala Nydia Lícia (827 lugares), Rua Rui Barbosa, 153,  tel 11 3882-8080. Horários: de quinta a sábado às 19h e domingos às 16h. Ingressos: R$ 140 e R$ 100. Vendas: Sympla. Duração: 85 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 1º de junho.

 

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