De em novembro 30, 2011
Você é fisgado desde a primeira cena de O Garoto da Bicicleta com o drama vivido por Cyril, interpretado pelo excelente Thomas Doret, de apenas 11 anos, que está grudado ao telefone tentando localizar o pai Guy Catoul (Jérémie Renier), que o abandonou num orfanato, mudou-se de endereço e não deixou qualquer informação de seu paradeiro.
Para a emotividade do brasileiro é até estranho o modo frio e distante do francês de lidar com o problema do garoto, que sem compreender o que está acontecendo tem surtos de violência e rispidez. Auxiliado por Samantha (Cécile de France), uma cabeleireira que aceita receber o menino nos finais de semana em sua casa, Cyril localiza o pai, mas nada poderia ser pior para ele. Refazendo a vida e trabalhando em outra cidade, Guy não quer mais cuidar do filho.
Os diretores e roteiristas do filme não esclarecem a ausência da mãe (provavelmente tenha morrido), mas sabe-se que a avó de Cyril acabou de falecer quando o pai o deixa no orfanato por algumas semanas, como ele fora avisado. Afastado de tudo e de todos (nem a bicicleta que venera ele tem mais), Cyril perde o controle e quer de todo o jeito entender o que se passa. Daí a importância de Samantha na trama: vizinha do antigo apartamento do garoto, ela se comove com a situação e compra a bicicleta de volta para o garoto. Ao receber “o presente”, a aproximação deles é inevitável.
Sem maniqueísmo ou apelar para o melodramático, O Garoto da Bicicleta mostra a tênue separação que existe entre a marginalidade e a vida honesta, principalmente na adolescência. Cyril é facilmente cooptado pelo líder de uma gangue de rua e se envolve numa grande confusão. Aliado ao drama que já vivia, Cyril é posto em cheque pela própria situação criada e decide de que lado deseja ficar.
Claro que as diferenças de realidade entre a França e Brasil são gritantes, mas em diversas passagens do filme não tive como pensar nos nossos garotos que são levados à Fundação Casa, a antiga Febem. Sem justificar crimes ou outro tipo de delito, em grande parte esse meninos não tiveram oportunidade em suas vidas. E a falta de afeto e amor de pais ou responsáveis gera violência e o embotamento de sentimentos dessas crianças. Quantos garotos como Cyril não existem jogados nessa vida?
Saí extremamente emocionado da sala de exibição e com a certeza de que ainda posso ter esperanças na humanidade! Adoraria saber a sua opinião sobre O Garoto da Bicicleta de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne: deixe aqui seu comentário.
Fotos: divulgação
6 Comentários
Marta Saba Mackeldey
dezembro 24, 2015 @ 02:29
É realmente um filme muito bonito, que nos toca com sentimentos de perplexidade, confusão e esperanca…muitas esperancas.
Maurício Mellone
dezembro 28, 2015 @ 14:28
Marta,
obrigado pela visita e por seu comentário
volte sempre
abrs
Léa Ribeiro
janeiro 19, 2012 @ 20:04
Adorei o filme, a realidade da rejeição mostrada sem excessos e sem julgamento. É assim que deveríamos proceder; amparar e amar sem denegrir ou apontar o outro. Parabéns!
Maurício Mellone
janeiro 20, 2012 @ 15:12
Léa:
Este filme francês é realmente profundo e encantador. A relação que a manicure estabelece com o garoto
é da maior dignidade, o que se espera das pessoas.
Obrigado pelos elogios e pela visita; volte sempre!
abrs
Fátima Albiero
dezembro 3, 2011 @ 21:55
Na falta de um cinema aqui em Porto, vou me deliciando através de seu olhar. Beijos Fátima Albiero
Maurício Mellone
dezembro 5, 2011 @ 18:25
Fafá (não consigo te chamar de outra forma!):
Que delícia receber sua visita. Fico muito contente de poder ajudá-la a se inteirar das novidades
cinematográficas! Mas tente sair da Terra das Monções às vezes para se deliciar com cultura!
Bjs saudosos e volte sempre!