De Maurício Mellone em fevereiro 27, 2020
O fanatismo religioso e a visão deturpada do islamismo constituem o cerne da trama de O Jovem Ahmed, filme dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, vencedores de melhor direção no Festival de Cannes/19. O roteiro, assinado pelos diretores, é centrado nas ações de Ahmed, interpretado por Idir Ben Addi, um jovem de 13 anos que, influenciado pelo sacerdote que dirige as preces na mesquita, o imã Youssouf (Othmane Moumen), e por vídeos veiculados na internet, acredita que sua professora Inès (Myriem Akheddiou) é uma pecadora e resolve matá-la. A câmera segue todos os passos do adolescente e o filme, desta forma, traz em primeiro plano a visão do garoto sobre o mundo, por mais deturpada que seja, tornando assim o espectador cúmplice de suas ações.
Desde as primeiras cenas os diretores evidenciam que o ponto de vista da trama será dado pelo garoto: depois de receber as orientações de Inès em sala de aula, Ahmed sai sem se despedir da professora, que o questiona e ele é taxativo: um muçulmano de verdade não dá as mãos a uma mulher. Em seguida, ao chegar em casa, Ahmed é repreendido pela mãe por sua atitude na escola e ele a enfrenta e também a desacata. Mais do que rebeldia de adolescente, Ahmed tem uma leitura radical (e até deturpada) do Alcorão, em razão dos discursos que ouve na mesquita e principalmente pelos vídeos que acompanha pelo computador. O menino incorpora o fanatismo religioso, o que o leva a agredir a professora.
Mesmo estando numa instituição de reeducação, Ahmed não demonstra arrependimento, pelo contrário: de forma dissimulada, participa das atividades e não revela sua contrariedade. No entanto, à noite em seu quarto/cela mantém o plano de executar a professora em nome de Alá. O roteiro até traz ideias que se contrapõem ao fanatismo e à postura radical do garoto, mas a intenção dos diretores é provocar uma reflexão profunda sobre o fundamentalismo religioso, sem apresentar uma solução ou uma fórmula pronta.
Isto fica evidente na sequência final do filme, em que o espectador é obrigado a imaginar qual será a reação de Ahmed, o que realmente se passa na cabeça daquele adolescente. Será que depois de tudo por que passou Ahmed se arrependeu? Será que o garoto consegue ter um mínimo de empatia pela mãe e pela professora? A lavagem cerebral porque Ahmed e tantos outros jovens que se alistam em grupos terroristas é realmente eficaz? Ou podemos ter esperança que haja bom senso e tolerância na convivência entre os povos? Estas e outras questões é que rondam as cabeças dos espectadores ao assistirem ao filme dos Dardenne. Vá ao cinema e depois deixe aqui sua opinião sobre a trama e o destino do garoto Ahmed.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Dinah
fevereiro 27, 2020 @ 17:15
Oi, Maurício, esse ainda não vi, mas estou colocando em dia o meu cinema.
Parece bem interessante o roteiro desse filme, vou colocar na minha lista, valeu a dica!
beijo,
Dinah
Maurício Mellone
fevereiro 28, 2020 @ 11:10
Dinah, querida:
Bem interessante, com uma questão que precisa ser
discutida e refletida (os jovens que se envolvem com teses
deturpadas e fundamentalistas).
O final os diretores belgas deixaram em aberto justamente para
que o público repense e tire as próprias conclusões.
Obrigado pela visita (sempre e constante) e pelo incentivo!
Beijos