De Maurício Mellone em dezembro 13, 2019
Terror e suspense, gêneros consagrados na década de 1960 pelo veterano José Mojica Marins — dirigiu os clássicos À meia-noite levarei sua alma/1964 e Esta noite encarnarei no teu cadáver/1967 — voltam a ganhar destaque nas produções brasileiras ultimamente. Tanto que neste ano foram lançados alguns filmes de terror, como O clube dos Canibais, do cearense Guto Parente, Morto não fala, do gaúcho Dennison Ramalho, A noite amarela, do paraibano Ramon Porto Mota e O cemitério das almas perdidas do capixaba Rodrigo Aragão.
Seguindo esta tendência, Andrucha Waddington acaba de lançar O Juízo, que mescla suspense e mistério para contar a história de Augusto, papel de Felipe Camargo, que, desempregado e sofrendo de alcoolismo, resolve se mudar com a esposa Tereza (Carol Castro) e o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington) para a fazenda que herdou do avô, no interior do Rio. Mas ao chegarem à fazenda em que a mansão está abandonada, eles são envolvidos num clima sinistro: antigos escravos, vividos pelo cantor Criolo e Kênia Bárbara, desejam vingança e irão perturbar a vida deles.
Com roteiro da atriz e escritora Fernanda Torres (casada com o diretor), o filme desde o início é marcado pelo mistério. No prólogo passado em tempos remotos, Couraça (Criolo) pede ao dono da fazenda abrigo para ele e a filha; o fazendeiro permite que fiquem, mas logo chama os capatazes que matam a garota. Corte e a família de Augusto está na estrada, a caminho da fazenda, que fica no meio da mata cerrada; a mansão está abandonada e cheia de entulhos. No meio desta bagunça que Marinho encontra uma bateia (objeto usado no garimpo) e no dia seguinte ele e o pai vão até a cachoeira, onde Augusto começa a garimpar à procura de diamantes.
Sempre misturando sonho e realidade, o roteiro vai envolvendo o espectador naquele clima de suspense, já que vira e mexa Couraça aparece para Augusto, assim como sua filha passa a acompanhar os passos de Marinho pela fazenda. Augusto esconde da esposa seu interesse pelos diamantes, que causaram atritos e mortes na vida de seus antepassados, e, na ânsia para descobrir pedras preciosas, ele se envolve ainda mais com Couraça, que deseja vingar a morte da filha.
Para intensificar o suspense, Augusto quer decifrar os enigmas da família; assim procura por Costa Breves (Lima Duarte), amigo de seu avô, que confirma que há diamantes na fazenda. Depois é a vidente Marta, papel de Fernanda Montenegro, que quer ajudá-lo, mas ele evita contato com ela. Já o psiquiatra Lauro (Fernando Eiras) tenta fazer com que Augusto aceite se tratar. Porém Tereza, amedrontada, quer deixar a fazenda, mas o marido e o filho são contra essa ideia. Cada vez mais Augusto sente-se pressionado por Couraça e o desfecho da história é recoberto de magia e de um tom sobrenatural.
Gênero de filme que pode não agradar a todos, O Juízo traz uma fotografia e trilha sonora condizentes com o mistério da trama. Destaque para a grande atuação de Felipe Camargo; interpretações de Carol e de Criolo também merecem ser ressaltadas. Pena que os personagens dos veteranos Lima Duarte e Fernanda Montenegro são pouco explorados.
Fotos: divulgação
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