De Maurício Mellone em agosto 20, 2024
Após participar de festivais de cinema pelo mundo, inclusive Festival do Rio/2023 e ser premiado no México e em Portugal, o filme de Lucia Murat, O Mensageiro, está em cartaz na cidade.
Com roteiro assinado pela diretora em parceria com Tunico Amancio, a trama se passa em 1969 e conta a história de Vera, uma jovem militante de esquerda que é presa e torturada nos porões do exército brasileiro. Um soldado resolve interferir e leva notícias da garota para sua mãe, que não mede esforços para livrar a filha dos horrores e sofrimentos causados pela ditadura militar brasileira. O elenco é encabeçado por Valentina Herszage, Shi Menegat, Georgette Fadel, Floriano Peixoto, Javier Drolas e Bruce Gomievsky.
Depois de realizar Que bom te ver viva/1989 e Quase dois irmãos/2004, ambos sobre aquele período obscuro na nossa história, a cineasta Lucia Murat, presa pelos militares na época, volta à carga e traz novo olhar sobre os horrores cometidos pela ditadura no Brasil. Além de focar o enredo na história de Vera, uma jovem militante vivida por Valentina Herszage, o filme discute temas filosóficos como perdão, culpa e questiona a anistia promovida no país, que não puniu os militares ao contrário do que ocorreu na Argentina, em que os responsáveis por tortura e mortes foram julgados e devidamente punidos.
Mesmo cooptado pelos ideais fascistas dos militares, o soldado Amando, papel de Shi Menegat, fica sensibilizado com o sofrimento de Vera e resolve colaborar, levando notícias dela à Maria, interpretação brilhante de Georgette Fadel, que passa a intensificar sua luta para descobrir onde a filha está presa.
O pai da jovem, o médico Henrique, interpretado por Floriano Peixoto, tenta colaborar por meio de seus contatos, mas prefere evitar confronto com os governantes. A desavença entre o casal fica evidente.
O roteiro, além de desvendar as entranhas da ditadura, também aborda a participação da igreja na época, por meio da atuação do padre João (Javier Drolas), covardemente torturado. Contradições da classe média e da família tradicional, assim como do ideário de esquerda também são questionados na trama, que poderia ter um ritmo mais ágil.
No entanto, o desfecho traz esperança por meio de uma discussão acadêmica. As teorias libertárias de Hannah Arendt (1906/1975) trazem uma luz para conceitos como perdão, culpa e política, justamente num mundo polarizado em que vivemos hoje. Dica: fique até o final da projeção. A canção Dores de amores é interpretada no filme por Virginia Rosa; fique aqui com a interpretação do autor, Luiz Melodia:
Fotos: divulgação
2 Comentários
Nanete Neves
agosto 20, 2024 @ 20:20
Gosto do trabalho dessa diretora e agora, lendo tua resenha, ficoy urgente assistir.
Maurício Mellone
agosto 21, 2024 @ 14:45
Nanete, querida:
A Lucia Murat já filmou sobre o período da ditadura militar, mas
desta vez ela foca na prisão de uma jovem militante que foi torturada
nos porões do exército (ela tb foi presa política, na época)
e discute questões como o perdão. Bem interessante, vc vai curtir.
Georgette Fadel emociona na pele da mãe da garota.
Beijos, saudades!