De Maurício Mellone em janeiro 6, 2015
Com direção do estreante Geraldo Motta e codireção de Gisella de Mello, o filme O Senhor do Labirinto conta a história de vida de Arthur Bispo do Rosário, um sergipano que, após ter alucinações e visões místicas e ser diagnosticado como esquizofrênico, foi internado na instituição psiquiátrica do Rio de Janeiro, Colônia Juliano Moreira, por mais de 50 anos, até sua morte em 1989. Bispo, como era mais conhecido e chamado, dizia-se um enviado de Deus (muitas vezes dizia ser Jesus Cristo), e produziu um acervo artístico de bordados, estandartes, barcos, miniaturas e uma infinidade de objetos (com sucatas e material obtido de lixões) de estimado valor, reconhecido mundialmente.
Vencedor pelo júri popular como melhor filme do Festival do Rio de 2010 e depois de ter participado de festivais pelo mundo — incluindo a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, finalmente O Senhor do Labirinto está em cartaz na cidade, pena que em poucas salas e em reduzidas sessões.
O filme começa com a narração sobre o início da vida do sergipano — vivido brilhantemente por Flávio Bauraqui —, que foi da marinha, onde lutou boxe, e já no Rio de Janeiro fez pequenos biscates, foi preso injustamente e defendido por um advogado (vivido por Eriberto Leão), que anos mais tarde o empregou em sua casa (ele fazia um pouco de tudo para a família). Exatamente neste período que Bispo teve suas primeiras visões e alucinações místicas, sendo preso e depois internado na Colônia Juliano Moreira. Lá, por se mostrar violento mas firme em suas convicções, foi condecorado com a alcunha de xerife local: com a cobertura e apoio do carcereiro Wanderley, interpretado com maestria por Irandhir Santos, Bispo tinha liberdade para sair da Colônia para buscar material nos lixões e criar suas obras artísticas.
Baseada no livro homônimo de Luciana Hidalgo, que assina o roteiro ao lado do diretor, a trama dá ênfase aos mais de 50 anos em que Bispo esteve internado e o espectador acompanha sua evolução como artista (sua cela vira um grande ateliê, com os objetos sendo produzidos e expostos). Muito preso ao seu mundo particular, Bispo só se relacionava com pessoas que ‘enxergam minha aura’; ele abre uma exceção para a estagiária em psicologia, Rosângela, interpretada por Maria Flor; ele considera a moça como uma provável namorada. Outra concessão de Bispo é para o cineasta (Odilon Esteves), que o entrevista para um documentário e depois consegue com que o artista ceda algumas obras para uma exposição.
Com um personagem de extrema riqueza e complexidade, a cinebiografia de Bispo do Rosário é modesta, ficando aquém da figura retratada. Um dos deslizes que chama a atenção é para a maquiagem exagerada, que deixou os atores pouco à vontade em cena. No entanto, Flávio Bauraqui e Irandhir Santos — que repetiram a dobradinha na telenovela global Meu Pedacinho de Chão — superaram as deficiências da produção e imprimem verdade e emoção para seus personagens. O Senhor do Labirinto presta uma homenagem ao grande artista, que merece ainda outro filme que dê conta de sua magnitude.
Fotos: divulgação
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