De Maurício Mellone em setembro 23, 2016
Escolhido pela crítica como o melhor filme do Festival de Gramado deste ano, O Silêncio do Céu, do brasileiro Marco Dutra, retrata o drama de um casal em que a mulher Diana, interpretada por Carolina Dieckmann, é, já na cena inicial, violentada por dois homens em sua própria cama. O inusitado deste ato abominável é que o marido, Mario, vivido pelo ator argentino Leonardo Sbaraglia, presencia tudo e, com medo, não reage imediatamente para impedir tamanha violência contra a esposa; quando resolve atacar os agressores, eles já haviam deixado a casa. Ambos, Diana e Mario, adotam atitude semelhante, ou seja, não conversam sobre o acontecido, criando desta maneira um vazio silencioso entre eles, que encoberta segredos da vida íntima de cada um deles que o espectador vai descobrindo com o desenrolar da trama.
O romance Era el Cielo do argentino Sergio Bizzio serviu de base para o roteiro do filme, escrito pelo próprio Bizzio em parceria com Caetano Gotardo e Lucia Puenzo e rodado totalmente em Montevideo, capital do Uruguai.
O que chama a atenção e faz com que o espectador se ligue à história desde o início é a forma de narrar: a cena do estupro e a reação tanto de Diana como de Mario diante do fato são mostradas duas vezes, evidenciando o ponto de vista de cada um dos cônjuges. Evitar tocar no assunto, silenciar diante do ato violento têm razões distintas tanto para a mulher como para o marido e aos poucos o espectador vai montando o quebra-cabeça da trama e descobrindo os segredos não revelados tanto de Diana como de Mario.
Utilizando do recurso narrativo em off, o diretor mostra o mundo interior dos personagens, principalmente o de Mario, que se debate com tantos medos diante da vida; para tentar superar alguns destes medos é que ele passa a investigar os atores do crime. No entanto, a opção do casal pelo silêncio diante do estupro — com reações distintas, ele em tentar descobrir os criminosos e ela em omitir o período em que estiveram separados — provoca um distanciamento e não uma aproximação entre eles.
Além do modo criativo de narrar e um roteiro instigante, o filme se destaca pelas interpretações, tanto dos atores centrais (Carolina e Leonardo) como dos coadjuvantes, a veterana atriz uruguaia Mirella Pascual, o argentino Chino Darín (filho de Ricardo Darín) e a brasileira Paula Cohen. Não perca!
Fotos: divulgação
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