De Maurício Mellone em outubro 17, 2025
A atriz Ana Lúcia Torre vive um momento especial: para marcar seus 80 anos de vida e 60 de carreira ela resolveu festejar no palco. No monólogo Olhos nos Olhos, com dramaturgia e direção de Sergio Módena, ela relata fatos pessoais e profissionais entrecortados com letras de canções de Chico Buarque, que se referem tanto à sua trajetória de vida como à história recente do Brasil. Em curta temporada, a atriz divide o palco do Teatro Santos Augusta com o pianista Diógenes Junior. As músicas incluídas do roteiro não são cantadas, mas faladas pela atriz:
“O espetáculo é como uma conversa olho no olho com Ana Lúcia Torre, como se estivéssemos na sala de sua casa ouvindo suas histórias de vida. E tudo entremeado com as letras de Chico Buarque, nesse exercício de abdicar de suas melodias para descobrir uma nova maneira de apresentá-las ao público”, explica Sergio Módena.
Num cenário criativo de André Cortez — somente com colunas de espelhos, algumas com fotos da atriz em cena , Ana Lúcia entra, estabelece um contato informal com a plateia e começa a contar momentos de sua vida e o início profissional, ainda na PUC/SP. Em 1965, aos 20 anos, ela participa do grupo teatral da universidade que encenou o clássico de João Cabral de Melo, Morte e Vida Severina, com direção de Silnei Siqueira e Roberto Freire e música de Chico Buarque.
A atriz conta que este foi seu primeiro encontro com o compositor, que anos mais tarde compôs a canção Suburbano Coração para o espetáculo do mesmo nome, de Naum Alves de Souza. Os fatos relatados mesclam a vida pessoal da atriz com sua carreira, tendo como pano de fundo a história das últimas décadas do nosso país: golpe militar, prisão e tortura, anos de chumbo da ditadura até a redemocratização do país. E claro que as canções de Chico pontuam toda esta narrativa e se adaptam às reflexões da atriz. A interpretação vigorosa de Ana Lúcia para Cálice (de Chico e Gilberto Gil), por exemplo, emociona profundamente os espectadores.
“Ana Lúcia fala sobre amor, separação, resistência, esperança, maternidade, a paixão pela arte e outros tópicos. É o retrato de uma grande atriz, mas também, em certa medida, do nosso país”, acredita Sergio Módena.
Para cada tema desenvolvido por Ana Lúcia ou passagem de sua vida, há uma canção do grande compositor carioca que se encaixa perfeitamente ao que foi dito. Por exemplo: quando ela fala de amor e relações afetivas, as letras de Pedação de mim, Atrás da porta, Tatuagem e Olhos nos Olhos, que dá título ao solo, são o encaixe perfeito. Quando se trata da sociedade brasileira com seus abismos e diferenças, a interpretação da atriz para Meu guri e Geni e o Zepelim, funcionam como análise sociológica.
Sem dúvida um espetáculo irretocável. O trabalho de Módena está em consonância com o de Ana Lúcia Torre, que comove a plateia com sua atuação brilhante. Destaque ainda para a direção musical, assinada por Pedro Lobo, filho da atriz, o elegante figurino de Fábio Namatame, a iluminação precisa de Gabriele Souza e a presença marcante do pianista Diógenes Junior. Programe-se, o espetáculo permanece em cartaz só até o início de novembro. Siga a página deles no Instagram:
Roteiro:
Olhos nos Olhos. Dramaturgia e direção: Sergio Módena, com letras de Chico Buarque. Elenco: Ana Lúcia Torre. Direção musical: Pedro Lobo. Pianista: Diógenes Junior. Cenário: André Cortez. Figurino: Fábio Namatame. Iluminação: Gabriele Souza. Fotografia: Priscila Prade. Produção: Morente Forte Produções Teatrais.
Serviço:
Teatro Santos Augusta (240 lugares), Al. Santos, 2159, tel. 11 4420-5444. Horários: sábado às 20h e domingo às 18h. Ingressos: de R$ 160 a R$ 60. Duração: 75 minutos. Classificação: 12 anos. Temporada: até 09 de novembro.
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