Prontuário 12.528: peça revê a sombria trajetória histórica do país

De em outubro 24, 2024

 

Elenco: Clara Carvalho, Helio Cicero, Mariana Muniz e Pedro Conrado

 

 

 

De grande impacto plástico desde a entrada na sala de espetáculo, a peça Prontuário 12.528, da Cia Mecenato Moderno, tem como proposta rever  momentos sombrios da história brasileira. Com dramaturgia de Cesar Riberio, que reuniu textos próprios e de outros autores, a trama retrata, com recursos da linguagem de história em quadrinhos e desenhos, desde a colonização exploratória dos portugueses, o massacre indígena, o racismo, a homofobia até a nefasta passagem dos militares pelo poder, de 1964 a 1985.

 

 

O título do espetáculo é retirado da lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade, que investigou a violência, as arbitrariedades e os desmandos cometidos pela ditadura militar durante os 21 anos de sua existência. O elenco é formado por Clara Carvalho, Helio Cicero, Mariana Muniz e Pedro Conrado.

 

 

 

 

 

Clara Carvalho abre a peça com um texto corrosivo sobre vida e morte

 

 

 

Ao entrar, o espectador se depara com um ambiente hospitalar estilizado e em ruínas, onde dois pacientes (Mariana e Pedro) numa maca, cobertos com lençol, relatam os fatos obscuros da história brasileira. No entanto, o prólogo, proferido por Clara Carvalho, é por meio de um texto contundente, em que se enfatiza a facilidade de se tirar a vida; o difícil é o que fazer com o corpo, que passa a ser um lixo, um transtorno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pedro e Mariana vivem pacientes de um hospital

 

 

Os fatos descritos pelos pacientes, numa mescla de sonho e realidade, incluem referências à carta de Pero Vaz de Caminha sobre a chegada dos portugueses ao continente, relatos sobre a inquisição, até o assassinato do indígena Tibira em 1614, considerado o primeiro crime por homofobia no país, além dos depoimentos das pessoas que foram torturadas pelos ditadores militares.

 

 

 

 

 

“No espetáculo, é traçada uma linha histórica do Brasil a partir de elementos presentes desde a colonização e que foram reforçados com a nova ascensão da extrema-direita, como o genocídio indígena, o racismo, o machismo e o autoritarismo, passando pelo centro na defesa de interesses econômicos acima do bem-estar coletivo”, esclarece Cesar Ribeiro.

 

 

 

 

 

Helio Cícero: atuação comovente

 

 

A parte derradeira do espetáculo fica para os depoimentos das pessoas que passaram pela tortura nos anos de chumbo da nossa história: os quatro atores sentam diante da plateia e dão os tristes e doloridos relatos. Interpretação comovente, que revela a sintonia do elenco.
Além da cenografia de J.C.Serroni que envolve o público no ambiente narrativo, o figurino, o visagismo e a iluminação convergem para a proposta cênica. No entanto, a dramaturgia, por ser uma reunião de textos de autores diversos, apresenta falta de unidade e coesão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Roteiro:
Prontuário 12.528
. Dramaturgia, trilha sonora e direção: Cesar Ribeiro. Elenco: Clara Carvalho, Helio Cicero, Mariana Muniz e Pedro Conrado. Cenografia: J. C. Serroni. Figurinos: Telumi Hellen. Iluminação: Domingos Quintiliano. Visagismo: Louise Helène. Produção: Edinho Rodrigues e Marisa Medeiros.
Serviço:
Teatro do Núcleo Experimental (50 lugares), Rua Barra Funda, 637, tel.11 3259-0898. Horários: sexta, sábado e segunda às 20h e domingo às 19h. Ingressos: R$ 40 e R$ 20. Vendas: bilheteria e Sympla. Duração: 105 minutos. Classificação: 12 anos. Temporada: até 25 de novembro.


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