De Maurício Mellone em maio 13, 2016
O novo trabalho do mineiro Gabriel Villela, a comédia musical Rainhas do Orinoco — encenação da peça Orinoco do mexicano Emilio Carballido, em cartaz no Teatro Vivo — convida o espectador a fazer um passeio para o mais profundo da alma e da cultura latino-americana. Por meio da trajetória de duas atrizes mambembes, a pessimista Mina vivida por Walderez de Barros e a otimista Fifi interpretada por Luciana Carnieli, que percorrem o rio Orinoco representando seus amores, aventuras e desventuras, a trama é uma reflexão sobre a existência humana, sobre o nascer, o viver e o morrer.
E o pano de fundo desta reflexão é a América Latina de Gabriel García Marquez, “esta pátria imensa de homens alucinados e mulheres históricas, cuja tenacidade sem fim se confunde com a lenda”. O programa da peça traz trechos do discurso do escritor colombiano ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, indicando que enredo do mexicano Carballido (que faleceu em 2008, aos 83 anos) retrata este universo cultural latino-americano.
A peça original é um teatro musicado, que ganha na montagem de Gabriel Villela o colorido do nosso circo-teatro, com trilha sonora criada por Babaya e Dagoberto Feliz (que divide o palco com as duas atrizes), composta por canções latinas interpretadas pela dupla paulista Cascatinha e Inhana.
A bordo do velho barco Stella Maris, Mina e Fifi fazem uma viagem imaginária pelo rio Orinoco e, além de representarem seus números musicais, discorrem sobre suas experiências de vida e o destino de serem obrigadas a se apresentar nuas num prostíbulo decadente. Além das diferenças de humor das duas personagens, o espectador percebe como são distintas as experiências e expectativas de vida destas mulheres.
“A peça é um depoimento humanista de alguém que enxerga através da comédia e do melodrama a existência de dois seres humanos desprotegidos na carne e nos grotões da América Latina. Colocamos em cena esse texto usando a linguagem estética do circo-teatro”, explica Gabriel Villela.
Com cenário de William Pereira, adereços e objetos de arte de Shicó do Mamulengo, a plástica do espetáculo encanta, envolve a plateia e denota o universo barroco, característica da obra do diretor mineiro, que também assina os figurinos. A discussão sobre as razões da existência humana — o novo e o velho, o ingênuo e o experiente, o idealista/otimista em contraposição ao realista/pessimista — é o que mais me emocionou no espetáculo. A performance em cena da grande atriz Walderez de Barros (que se despoja para dar vida à decadente e velha atriz Mina) é outro destaque da montagem, que se completa com os encantadores números musicais de Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz. Não perca esta comédia musical, que permanece em cartaz até o início de julho.
Fotos: João Caldas Fº
4 Comentários
Antoune Nakkhle
junho 2, 2016 @ 17:14
Com certo atraso,
reitero o que Maurício Mellone registrou nessa bela resenha aqui no Favo. Além de tudo o que Maurício diz, é uma emoção sem igual assistir uma atriz como Walderez de Barros se entregar ao universo de Gabriel Villela com tanto depojamento. Que ela é maravilhosa, todos sabem, mas manter o frescor na atuação é coisa rara. Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz mandam muito bem e estão tendo um mega privilégio de aprender com uma das maiores atrizes vivas do nosso País. Valeu pela resenham, Maurício, o público agradece!
Maurício Mellone
junho 3, 2016 @ 14:47
Antoune,
obrigado pela força e incentivo!
e concordo: trabalhar ao lado de Walderez de Barros é
um privilégio e uma honra!
Bjs
Ed Paiva
maio 14, 2016 @ 15:39
O universo circense e barroco de Gabriel Villela encanta! Já o vimos o que sua sensibilidade é capaz de fazer com as obras de Shakespeare. Agora fico curioso para conferir como a latinidade e as reflexões sobre vida e morte serão tratadas.
Obrigado pela resenha, Maurício!
Maurício Mellone
maio 16, 2016 @ 14:16
Ed,
tenho certeza q vc vai curtir.
Além do trabalho do Villela (q vc bem conhece),
ter a chance de assistir a atuação brilhante da
grande Walderez de Barros é o que mais irá te
motivar a conferir ‘Rainhas do Orinoco’
Obrigado pela presença constante aqui no Favo e pelo
incentivo, sempre!
Bjs