De Maurício Mellone em julho 10, 2013
O Museu da Língua Portuguesa acabou de inaugurar a exposição Rubem Braga- O Fazendeiro do Ar, um lúdico, interativo e delicioso passeio pela vida e obra daquele que é considerado o criador da moderna crônica brasileira. A mostra — uma homenagem ao centenário de nascimento do capixaba Rubem Braga, que faleceu aos 77 anos, em 1990 — é dividida em cinco módulos: Retratos com fotos do escritor em várias fases da vida, Redação reprodução do ambiente de trabalho em que ele foi redator, repórter político, policial e também de artes plásticas, Guerra que relembra o período que ele foi correspondente de guerra, Passarinhos um ambiente que traz a grande paixão do escritor e Cobertura numa reprodução do famoso apartamento dele em Ipanema, com o jardim suspenso projetado por Burle Marx.
Logo ao entrar no primeiro andar do Museu, local das exposições temporárias, o público é recepcionado com um grande painel com fotos de Rubem Braga de várias fases de sua vida e um texto assinado pelo curador, o escritor Joaquim Ferreira dos Santos:
“Uma exposição sobre o centenário de Rubem Braga traz em suas entrelinhas uma ode ao prazer de ler. Suas crônicas falam dos detalhes, das cenas cotidianas, dos consensos da humanidade e são embrulhadas uma a uma com um texto que veste a roupa da língua comum. O gênero crônica já existia, mas foi ele quem lhe acrescentou lirismo poético e a influência, bem humorada e coloquial, dos modernistas de 1922. É o formato que a gente conhece hoje”, explica o curador.”
A primeira sala da mostra reproduz uma redação de jornal, com teto, paredes e piso recobertos por jornais que Rubem trabalhou, como Correio da Manhã e Diário Carioca; nas mesas, velhas máquinas de escrever com toques da atualidade: no lugar do papel há iPads e ao acionar uma tecla da máquina os textos do escritor aparecem no visor dos iPads. Ao abrir as gavetas destas mesas o visitante se depara com fotos, exemplares de revistas da época, livros e documentos do escritor, além de crônicas famosas impressas e que podem ser levadas pelo público.
“Ai de ti Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fonte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.” ‘Ai de ti Copacabana!’, 1958
Na segunda sala, também toda recoberta de jornais, é dedicada ao período em que Rubem foi correspondente de guerra, na Itália: de um lado há um grande painel em que imagens são projetadas e de outro a reprodução de uma crônica dele; no meio da sala um balcão com telefones antigos que reproduzem músicas antigas, jingles, edições de programas de rádio e noticiários sobre a segunda guerra mundial e a participação dos brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira).
Outro destaque da exposição é um espaço dedicado a uma grande paixão do escritor, os pássaros: em tom azul e com diversas aves em origami dispostas no ambiente, o visitante passa e ouve os gorjeios.
Ao final da exposição, a reprodução da famosa cobertura localizada em Ipanema, onde o escritor morou por mais de 30 anos, até a sua morte. Com poltronas e um painel com fotos do local (mostrando o jardim suspenso projetado por Burle Marx), o destaque desta sala é a mesa de centro; nela há o painel com fotos de personalidades e amigos do escritor, como Fernanda Montenegro, Danuza Leão, Maria Lúcia Rangel, Zuenir Ventura, Ana Maria Machado, Lygia Marina, José Hugo Calidônio e Ziraldo. Ao clicar na foto da pessoa, o vídeo é acionado com os depoimentos e trechos das crônicas de Rubem sendo lidas por eles.
O escritor Zuenir Ventura, em seu depoimento, lembra que Rubem “não era poeta porque tinha pudor de fazer versos”. Mas suas crônicas revelam a poesia das coisas do cotidiano, da vida:
“Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse — e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria.”
Meu ideal seria escrever… (1957)
Em outra crônica de 1956, Uma tarde, em Buenos Aires, sua veia poética é ainda mais explícita:
“Minha longa tarefa é outra, é não ser infeliz e me proteger e guardar, ser forte dentro de mim, forte, quieto, sereno. Essa tarefa me distrai”.
E dois anos antes de sua morte, em ‘Águas de leste e Papai Noel’, Braga profetizava:
“É curta a vida, curto o dinheiro, o tempo escasso e o mar imenso. Se minha vida não tivesse escolhos eu ria, neste Verão dos abrolhos nos refolhos, matar peixes e sereias. Em vez, ponho a gravata sem fé e vou ao Centro”.
Uma visita ao Museu da Língua Portuguesa é sempre um mergulho no mundo das palavras, com muita interatividade e momentos de instrução aliados à diversão. E com a exposição temporária Rubem Braga- O Fazendeiro do Ar, que permanece em cartaz até 1º de setembro, esta marca do Museu está reforçada. Não perca e vá com a galera de todas as idades!
Fotos: divulgação
Roteiro:
Rubem Braga – O Fazendeiro do A. Exposição em comemoração ao centenário do cronista capixaba. Curadoria: Joaquim Ferreira dos Santos. Projeto cenográfico: Felipe Tassara. Concepção: Instituto de Inovação do Estado e da Sociedade (IIES) e Empório Empreendimentos Artísticos. Produção executiva: Luciana Vellozo Santos e Robson Outeiro. Realização: Gov. do Estado do ES/ Sec. Est. Cultura/ Min. Cultura. Realização em SP: Gov. Estado de SP, Sec. Est. Cultura, Museu da Língua Portuguesa.
Serviço:
Museu da Língua Portuguesa, Pr da Luz, s/n, tel.: (11) 3322-0080. Horário: de quarta a domingo, das 10h às 18h (fechado segunda; terças o museu fica aberto até às 22h). Ingressos: R$ 6 e R$ 3, com entrada gratuita as terças e sábados (a bilheteria fecha às 17h). Temporada: até 1º de setembro de 2013.
4 Comentários
Imad
julho 27, 2013 @ 17:21
Preciso ir ver essa exposição. O Rubem Braga merece a homenagem. Tenho um livro com 200 crônicas escolhidas por ele, que é um verdadeiro presente na biblioteca; obra que sempre vale a pena revisitar em busca de belas frases, inspiração e graça.
Maurício Mellone
julho 29, 2013 @ 14:06
Imad:
Não perca mesmo: a mostra está muito bem cuidada, com destaque para a sala em que
uma redação de jornal é reproduzida e a outra, a sala da casa do cronista,
com uma mesa interativa deliciosa!
bjs e obrigado pelas visitas constantes e carinhosas!
bjs
José Edvardo Pereira Lima
julho 13, 2013 @ 17:23
Esta aí outra imersão que não posso deixar de fazer. Pretenso (ou pretensioso) cronista, preciso ver e sentir o simples encantamento desse mestre Rubem Braga.
Maurício Mellone
julho 15, 2013 @ 11:08
Zedu:
Vc vai amar a mostra sobre Rubem Braga, o grande mestre da crônica!
A exposição tem interatividade, o que deixa tudo mais próximo.
Vá e depois comente aqui.
bjs e obrigado pela presença constante ao Favo!