De Maurício Mellone em julho 14, 2015
Depois do sucesso arrebatador pelo mundo com Intocáveis, os diretores e roteiristas franceses Eric Toledano e Olivier Nakache repetem a dose e convocaram o ator Omar Sy para protagonizar Samba, filme que faz um retrato da tumultuada situação da imigração na França. Em tempos de intolerância e discriminação, a trama mostra como Samba Cissé, vivido por Omar, um senegalês que vive ilegalmente no país há 10 anos, tenta sobreviver trabalhando como pode, desde lavador de pratos em restaurantes finos, a segurança em shopping ou faxineiro dos espigões parisienses. Mesmo assim é preso e precisa urgentemente regularizar sua situação; para isto conta com a ajuda de Alice, interpretada por Charlotte Gainsbourg, que trabalha como voluntária numa ONG que assessora e conduz os processos dos imigrantes junto à justiça francesa.
A cena inicial já revela a imensa distância que separa a elite da sociedade francesa dos inúmeros imigrantes do país: a câmera caminha por uma festa de casamento num restaurante requintado até chegar à cozinha e aos lavadores de prato, onde Samba trabalha. A sequência mostra o protagonista voltando para casa e em seguida sendo preso. Aos poucos o espectador percebe a realidade daquele senegalês: há 10 anos na França, Samba ainda não possui documentação e precisa sobreviver com bicos e trabalhos menores. E pior: para permanecer no país, precisa ocultar sua cultura, seus trajes e seu modo de viver — a cena em que Samba com terno e gravata entra no metrô e é observado com discriminação por todos é reveladora da realidade de intolerância de que tanto a Europa como todo o mundo vive atualmente.
Paralelamente, o roteiro mostra o trabalho voluntário de Alice: depois de ter se licenciar do emprego em razão de um surto psicológico (estressada, agrediu um colega), ela passa a trabalhar na ONG que presta serviço de atendimento aos imigrantes. É lá que conhece Samba e, mesmo orientada para não se envolver nas histórias dos imigrantes, sente-se atraída e eles passam a se encontrar. Num dos apuros porque passa durante o período em que está em liberdade, Samba recorre a Alice. As angústias e dificuldades são divididas entre eles.
O contraponto do drama da imigração é protagonizado por Wilson (Tahar Rahim), um árabe que se diz brasileiro: bem humorado e divertido, ele ajuda Samba nas dificuldades com os subempregos, além de ser uma espécie de cupido entre Samba e Alice. A descontração ganha força com a opção da trilha sonora: músicas de Gilberto Gil, Jorge Benjor e Bob Marley embalam as festas promovidas pela ONG, que reúnem voluntários e imigrantes.
Sem pretender dar uma resposta ou solução à questão da imigração, Samba faz uma crítica a esta realidade ao mostrar os bastidores e os mecanismos como a França lida com a situação da imensa legião de imigrantes do país.
Fotos: divulgação
4 Comentários
jaime cheia
fevereiro 15, 2023 @ 11:18
historia muito bem retratada, que revela os verdadeiros meandros da falta de sensibilidade no velho continente numa altura em que maisde 16 000 angolanos imigraram para +portugal so em 2022, sem nocao da realidade das condicoes de adaptacao e documentacao para viver na europa, muito procupante para quem ja viveu essa dura realidade.
Maurício Mellone
fevereiro 15, 2023 @ 15:21
JAIME:
a questão de imigração é sempre muito difícil, envolve
vários condicionantes.
Quem deixa a Pátria vai em busca de sobrevivência, necessita de
apoio e condições para esta nova vida.
A resenha sobre o filme Samba faz tempo que postei no Favo, fico
feliz q tenha lido agora e deixado seu comentário.
Um abraço, espero q vc esteja bem neste momento,
depois de ter passado por este tipo de situação tão delicada.
nilton tuna
julho 30, 2015 @ 10:06
Fazia tempo que eu não dava uma passadinha por aqui. Fiquei feliz de ver que o blog continua de vento em popa, com textos precisos e gostosos de ler.
Felicidades!
bjs.
Tuna
Maurício Mellone
julho 30, 2015 @ 15:27
Tuna,
que honra recebê-lo aqui no Favo. Obrigado pela palavras de incentivo.
Volte sempre!
bjs