De Maurício Mellone em maio 6, 2025
Classificada entre as peças míticas do repertório do dramaturgo Nelson Rodrigues, Senhora dos afogados ganha nova versão produzida pelo Teatro Oficina, com direção de Monique Gardenberg. A montagem reúne 23 atores e 4 músicos e conta a história incestuosa de uma família tradicional do Rio de Janeiro da década de 1950. Num clima de mistério, a trama revela como a filha mais velha do casal, que guarda um amor doentio pelo pai, artimanha um plano para se tornar a única mulher daquela família.
Leona Cavalli, Marcelo Drummond, Lara Tremouroux e Roderick Himeros lideram o grande elenco do espetáculo, que permanece em cartaz até 11 de maio no Sesc Pompeia e de 30/05 a julho na sede do Teatro Oficina.
A montagem utiliza todo o espaço do teatro de arena do Sesc Pompeia: o público se acomoda dos dois lados da sala e o elenco, além do palco, se move pelas galerias e as escadas, passando pelo centro da cena. Tudo começa com um grande cortejo fúnebre de uma das filhas do casal Drummond, Eduarda e Misael (interpretados por Leona e Marcelo), que morreu afogada no mar, ninguém sabe se por acidente, suicídio ou assassinato. Mas a cerimônia também marca os 19 anos do assassinato da prostituta (papel de Sylvia Prado) que teve um caso com o juiz Misael, acusado desta morte. Neste ambiente de velório, vem à tona a rivalidade entre Eduarda e Moema (Lara), a filha mais velha: elas se parecem, principalmente pelas mãos, e a jovem confessa ter provocado a morte das duas irmãs, para se tornar a única mulher na casa. Eduarda, por sua vez, chora a perda das filhas e lamenta as traições do marido, além de nutrir uma atração pelo noivo de Moema, interpretado por Roderick. Eduarda recebe ainda forte oposição da sogra, vivida por Regina Braga.
Tudo o que acontece na casa dos Drummond é presenciado pelas vizinhas (Cristina Mutarelli, Giulia Gam, Michele Mutalon e Muriel Mutalon), que são uma espécie de coro da trama. Em paralelo, o noivo de Moema, fruto do romance de Misael e a prostituta morta, arma um plano para se aproximar dos Drummond, seduzindo Eduarda.
O programa da peça traz frases de Nelson Rodrigues que define bem a estrutura da trama. Para o dramaturgo, “o homem normal, com sua amena transparência, não oferece nenhuma teatralidade”. Para ele, “esta peça está varrida de suicidas, incestuosos, adúlteras e insanos”. Daí o vigor de Senhora dos afogados, que causa impacto (até hoje) no espectador.
A diretora Monique Gardenberg, com extensa atuação em produção cultural e musical, é também cineasta, autora de Jenipapo/1996, Benjamim/2003, Ó paí ó/2007 e Paraíso perdido/2018, além de ter dirigido as peças Os sete afluentes do Rio Ota/2018, e Trágica.3/2023. Por isto que sua direção é recheada de elementos audiovisuais: uma tela gigante traz imagens do mar (personagem do enredo) e cenas gravadas ao vivo durante a sessão. As músicas também enriquecem a narrativa.
Além do polêmico universo rodrigueano retratado em cena, a montagem se destaca pelo mise-en-scène (conjunto de cenário, iluminação e atuação do elenco) e pelas performances viscerais das atrizes Leona Cavalli e Lara Tremouroux e Sylvia Prado e atuações marcantes dos atores Roderick Himeros, Marcelo Drummond e Marcelo Dalourzi. O único senão fica para a duração do espetáculo: tudo poderia ser realizado de forma mais enxuta. Depois desta primeira temporada, a peça retorna no Teatro Oficina. Prestigie e siga o grupo:
@senhoradosafogados.oficina
Roteiro:
Senhora dos afogados: Texto: Nelson Rodrigues. Direção: Monique Gardenberg. Direção de vídeo: Igor Marotti Dumont e Ciça Lucchesi. Elenco: Leona Cavalli, Marcelo Drummond, Regina Braga, Lara Tremouroux, Kael Studart, Clarisse Johansson, Larissa Silva, Cristina Mutarelli, Giulia Gam, Michele Matalon, Muriel Matalon, Roderick Himeros, Sylvia Prado, Vick Nefertiti, Marcelo Dalourzi, Alexandre Paz, Danielle Rosa, Kelly Campêllo, Mariana de Moraes, Selma Paiva, Zizi Yndio do Brasil, Tony Reis, Victor Rosa; Banda- Carlos Eduardo Samuel, Felipe Botelho, Pedro Gongom Manesco. Arquitetura cênica: Marília Piraju. Figurino: Cássio Brasil. Visagismo: Sonia Ushiyama Souto. Desenho de luz: Wagner Pinto e Sarah Salgado. Direção musical: Felipe Botelho. Direção de cena: Elisete Jeremias e Rafael Bicudo. Direção de produção: Tati Rommel. Produção executiva: Andeerson Puchetti. Fotografia: Igor Marotti. Realização: Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona.
Serviço:
Sesc Pompeia, Rua Clélia, 93 Pompeia, tel (11) 3871-7700. Horários: de terça a sábado às 20h, domingo e feriado às 18h. Ingressos: R$ 70, R$ 35 e R$ 21. Duração: 2h50, sendo 20 minutos de intervalo. Classificação: 18 anos. Temporada: até 11 de maio; de 30/05 até julho temporada no Teatro Oficina.
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