De Maurício Mellone em junho 27, 2014
O polêmico cineasta Sérgio Bianchi volta à carga e, exatamente quando o golpe militar de 1964 completa 50 anos, faz duras críticas tanto à esquerda quanto à direita (estes conceitos são postos em cheque). Em Jogo das Decapitações, Leandro, vivido por Fernando Alves Pinto, é um jovem sem grandes perspectivas na vida, mas faz mestrado em que o tema é sobre a memória e a ditadura militar brasileira; além da pressão de seu orientador para que dê andamento à tese, ele recebe apoio de Marília (Clarisse Abujamra), sua mãe que foi torturada e hoje dirige uma ONG e espera sua indenização pelos maus tratos recebidos na prisão. Durante a pesquisa, Leandro encontra um filme censurado de seu pai, Jairo Mendes (Paulo César Peréio), justamente quando sabe que Jairo foi degolado numa rebelião no presídio. O rapaz fica obcecado pela notícia e tenta descobrir os mistérios que envolveram a vida do pai.
Cenas do filme de Jairo Mendes, um cineasta maldito que fazia críticas a todos — o jovem diretor, vivido por João Velho, filho de Peréio, diz de forma profética que no futuro ‘direita e esquerda jogarão o mesmo jogo’ — são intercaladas com o filme de Bianchi, em que Leandro está pesquisando e convivendo com o grupo de amigos de sua mãe, todos ex-militantes da esquerda durante a ditadura, que hoje estão no poder e lutam pelas indenizações.
Como em Riocorrente, longa metragem de estreia do diretor Paulo Sacramento, Bianchi também tenta analisar a sociedade brasileira deste início de século XXI, principalmente depois das manifestações de junho de 2013 e dos casos de linchamento ocorridos recentemente. Em Jogo das Decapitações, Leandro e seu amigo Rafael (Sílvio Guindane) presenciam cenas de manifestação estudantil com repressão violenta da polícia, assim como brigas banais de trânsito com finais trágicos. No entanto, o diretor faz alusões a estes acontecimentos e não aprofunda a análise; sua verve e críticas funcionam com uma arma giratória, atinge a todos, indistintamente: grupos de esquerda, de direita, movimentos estudantis e de rua, acadêmicos, políticos, jornalistas e artistas.
Saí do cinema com certa amargura, mas ao mesmo tempo contente pelas críticas ácidas a segmentos da chamada esquerda brasileira, que precisa urgentemente rever seus conceitos.
Fotos: divulgação
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