De Maurício Mellone em maio 1, 2025
O premiado diretor Lírio Ferreira acaba de lançar mais um longa-metragem, Serra das Almas, ambientado em Recife e interior de Pernambuco. A trama construída de flashbacks mostra a saga de um grupo de amigos que se vê inserido num arriscado roubo de pedras preciosas. Duas jornalistas são convocadas pelo editor/chefe para investigar o caso, que envolve um político corrupto. No dia da negociação das pedras há um confronto com a polícia e as jornalistas são sequestradas pelos bandidos e levadas para um sítio, longe de Recife.
Confinados, tanto bandidos como vítimas, o clima é de tensão até o desfecho sombrio e sangrento. No elenco, Julia Stockler, Ravel Andrade, Mari Oliveira, Pally Siqueria e Davi Santos, entre outros.
Diretor de diversos e premiados filmes, dentre eles Baile Perfumado/1997 e Árido Movie/2005, Lírio Ferreira novamente ambienta a produção em sua terra natal, Recife. Com roteiro assinado por Paulo Fontenelle, Audemir Leuzinger e Maria Clara Escobar, a trama é construída de forma não linear, com flashbacks, o que obriga o espectador a estar atento a detalhes (como cor de cabelo ou penteado dos atores) para saber qual a época a que aquela cena se refere.
O início do filme começa numa fuga desesperada, com os personagens numa van, com som no último volume. Duas moças (as jornalistas, vividas por Julia e Pally) estão aprisionadas e os dois bandidos (papéis de Ravel e Davi) tentam se livrar da polícia; há ainda no veículo outro homem que foi baleado e morreu. Corte e a cena seguinte é num clima oposto, em outro momento da história. É desta maneira que a narrativa se constitui, de idas e vindas no tempo.
Dentro deste roteiro não linear, as cenas são justapostas: a chegada da van ao sítio, onde mora um casal (Mari e Jorge Neto); as reuniões festivas dos personagens de Ravel, Davi e Jorge, que aconteciam neste mesmo sítio, anos atrás; a jornalista participando de um evento em que o político, vivido por Bruno Garcia, dá entrevista e tenta provar sua isenção no tráfico das pedras, assim como as cenas românticas do casal e o take sobre a negociação com os traficantes, que termina num confronto policial. Nesta justaposição de cenas (de vários períodos) o espectador vai montando o quebra cabeça até o instante em que estão todos confinados no sítio: as jornalistas, os ladrões, o casal e outro refém (Vertin Moura) capturado durante a fuga. A partir deste momento é que o conflito entre eles se acirra, culminando num final sangrento, numa verdadeira carnificina.
Antes do final, no entanto, o diretor mescla cenas de drama, ação, suspense policial com outras de melancolia e tédio naquele sítio longínquo, no sentido físico e onírico. Por mais que o formato possa atrair, o excesso de informações e a troca incessante do tempo narrativo cansa e prejudica a compreensão, além do uso de violência em demasia. Entretanto as interpretações viscerais de Ravel Andrade, Davi Santos, Julia Stockler e Mari Oliveira devem ser ressaltadas.
Fotos: divulgação
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