De Maurício Mellone em outubro 10, 2025
O diretor luso-grego Paolo Marinou-Blanco, para falar de um tema delicado e que provoca polêmicas como a eutanásia, resolveu utilizar o humor. Em Sonhar com leões, a trama conta a saga de Gilda, vivida por Denise Fraga, que é vítima de um câncer inoperável e tem pouco tempo de vida. Ela já tentou várias vezes o suicídio e tem um objetivo:
“Eu quero ir embora enquanto ainda sou eu.”.
Gilda resolve então se inscrever numa instituição clandestina, a multinacional Joy Transition International, que promete ensinar a seus clientes a morrer sem dor. Lá ela conhece o jovem Amadeu, interpretado por João Nunes Monteiro, que também tem pouca perspectiva de vida, e passam por todo o processo da empresa. Como não obtêm resultados, partem por caminhos alternativos para a alcançar o objetivo final.
‘Tem multinacional pra tudo. Até pra morrer!”
Com roteiro do próprio diretor, o filme, que se passa em Lisboa/Portugal, começa com as várias tentativas de suicídio de Gilda, para desespero de seu marido Lúcio (Roberto Bomtempo). Num tom jocoso, Gilda narra sua saga, relembra o doloroso processo de morte do pai e, ao mesmo tempo, provoca o espectador: quebrando a quarta parede, ela olha diretamente para a câmera e incita o público a refletir sobre a morte, a finitude e o direito de morrer com dignidade.
Cansada das tentativas frustradas de suicídio, Gilda recorre, então, à multinacional da morte. Ao lado de Amadeu — que trabalha numa funerária e conversa com os defuntos durante a preparação para o enterro —, eles participam das palestras, workshops e aulas da Joy Transition International. Eles se irritam com a falsidade e o caráter mercantilista da instituição, além de suas promessas vãs (“Nossa vida, nossa morte”) e buscam alternativas reais. Com a intermediação de Isa (Joana Ribeiro), uma funcionária da Joy, eles compram um pacote e viajam para a Espanha para concretizar o objetivo.
O roteiro provoca uma reflexão profunda sobre vida e morte, tanto que durante o desafio para se chegar à eutanásia, Gilda e Amadeu têm uma inesperada aproximação afetiva.
O grande destaque do filme, sem dúvida, é para a tocante interpretação de Denise Fraga.
Sonhar com leões participou do Festival de Gramado/2025, onde recebeu Menção Honrosa, e em entrevistas durante o festival a atriz é enfática na defesa do filme:
“Na verdade, ao falar de morte você cria uma urgência de vida. Se você falar da morte, da finitude, você vai ver que sua vida é uma passagem, uma passagem rápida, uma jornada que precisa ser aproveitada. O filme não é sobre a morte, o filme é sobre a vida”, arremata Denise Fraga.
Fotos: divulgação
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