Teatro da Vertigem encena espetáculo nas ruas do Bom Retiro

De em junho 22, 2012

Roberto Audio vive um morador de rua/terrorista poético

Mais uma vez o Teatro da Vertigem em seu novo espetáculo, Bom Retiro 958 metros, reafirma sua proposta dramatúrgica experimental, em que as montagens nunca são encenadas em teatros tradicionais. Se eles já se apresentaram em igreja (Paraíso Perdido), em hospital (O Livro de Jó), em presídio (Apocalipse 1,11), em hotel abandonado (em Lima, Peru) e até no rio Tietê (BR-3), desta vez a inovação perdura. Durante duas horas o público percorre as ruas do bairro paulistano do Bom Retiro, conhecido por seu comércio voltado para moda, acompanhando os atores que desenvolvem esquetes sobre os personagens e o ambiente da região. Se durante o dia o bairro é supermovimentado, durante a noite parece terra de ninguém, um local fantasma, com as ruas vazias e todas as lojas e galerias fechadas. É neste ambiente que o diretor Antônio Araújo focou seu novo trabalho. Com dramaturgia de Joca Rainers Terron, as histórias e esquetes retratam desde o dia-a-dia de costureiras, faxineiras e trabalhadores das lojas, o burburinho de consumidores ansiosos por produtos e lançamentos até o mundo particular de manequins, que se humanizam e passam a dividir a cena com os compradores e vendedores do bairro.
Tudo é diferenciado nesta montagem: os ingressos não são vendidos no local da apresentação (já que não existe um local fixo), somente por telefone ou pelo site. Ao chegar ao ponto de encontro — as oficinas Oswald de Andrade —, o espectador checa seu nome na lista e recebe a instrução de se locomover até à rua onde a peça deve começar (isto não é nada animador se a pessoa for sozinha como eu fui, pois tem de percorrer alguns quarteirões a pé, num local ermo e escuro…).

Esquetes apresentados nas ruas, com as lojas fechadas

O desconforto só acaba com a chegada dos atores: os primeiros são empregados que chegam para abastecer os estoques. A galeria é aberta e tem início propriamente dito o espetáculo: o público é conduzido para dentro da galeria e os esquetes são apresentados. Uma faxineira explica a uma candidata a um emprego que a seleção só começa pela manhã; em seguida há cenas de manequins que dançam, mas são interrompidos por um morador de rua que insiste em ser atendido. A noiva (sempre em locais muito altos e acima do público) quer saber como se locomover pelas ruas do bairro; há ainda a costureira que, quase em sistema de escravidão, conta as agruras e os bastidores da moda, sempre vista como glamourosa mas que no fundo encobre injustiça e exploração da mão de obra. A todo o momento os espectadores precisam abrir espaço para que consumidores ávidos possam se locomover para poder fazer suas infindáveis compras. Os esquetes são apresentados em diversos locais da galeria e em seguida ganham as ruas: os personagens, já conhecidos, continuam suas histórias e o público passa a ser também elemento da montagem, já que os transeuntes param para observar tudo o que está acontecendo. Em cruzamentos das ruas, a produção consegue interromper o trânsito e algumas cenas acontecem ali mesmo! As cenas finais acontecem no Teatro Taib, que está abandonado: primeiramente no saguão e depois na sala de espetáculo; os espectadores ficam na plateia e depois sobem ao palco. O final acontece novamente na rua, enfrente ao velho teatro.

Sofia Boito interpreta uma manequim defeituosa

 

Bom Retiro 958 metros tem como ponto de partida o desejo de fazer do espaço urbano um campo de experimentação artística. O que agora se compartilha com o público é uma criação dramatúrgica e cênica resultante da experiência de imersão do Teatro da Vertigem no bairro do Bom Retiro”, afirma o diretor no encarte da peça.

 

Por percorrer os ditos 958 metros do título do espetáculo, o público passa a ser mais um elemento da montagem, o que por si só é uma experiência enriquecedora. No entanto, senti uma dispersão das pessoas, exatamente pela estrutura proposta pelo grupo: muito do que é dito e encenado se perde. Mas a plateia paulistana deve prestigiar mais este trabalho instigante do Teatro da Vertigem. A encenação permanece em cartaz até setembro, não havendo espetáculo em dias chuvosos.

Fotos: Flavio Morbach


4 Comentários

JOHNY OLIVEIRA

agosto 26, 2012 @ 15:13

Resposta

EU ASSISTI A ESSA PEÇA E AMEI DEMAIS,GOSTO DAS MSGS SUBLIMINARES QUE ELES PASSAM EM CENA,E QUE SO PRESTANDO MUITA ATENÇAO VC ENTENDE O QUE ELES QUEREM DIZER !!! EU RECOMENDO INCRIVEL =D

Maurício Mellone

agosto 27, 2012 @ 16:48

Resposta

Johny:
O grupo Teatro da Vertigem mantém um nível
hiper-elevado de suas produções.
E Bom Retiro não foge à regra: produção bem cuidada e
proposta inovadora, a de percorrer o bairro paulistano
encenando o espetáculo.
Adorei sua visita aqui, volte sempre!
abr

Adriano Sod

junho 22, 2012 @ 14:55

Resposta

Parabéns pelo texto. Através deste blog tenho conseguido informações sobre como aproveitar melhor a cidade de SP, e sempre ter em mente uma boa pedida de peça, show ou cinema.

Ótimo trabalho Mellone!

Maurício Mellone

junho 22, 2012 @ 16:06

Resposta

Adriano:
Que bom q estou conseguindo atingir meus objetivos, que são exatamente estes
apontados por vc! Dicas culturais da cidade de Sampa!
Obrigado e não deixe de assistir a este novo trabalho do Teatro da Vertigem.
bjs

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