De Maurício Mellone em maio 15, 2018
Parodiando o título de um dos filmes que Paulo José protagonizou (Todas as mulheres do mundo/1966 de Domingos de Oliveira), o documentário Todos os Paulos do Mundo presta uma homenagem ao ator gaúcho de 82 anos e ao mesmo tempo faz um perfil da produção audiovisual do Brasil, já que ele tem uma carreira de mais de 60 anos.
De forma ousada e criativa, Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira, responsáveis pela montagem e direção do filme, contam a vida e a carreira de Paulo José Gómes de Souza por meio dos filmes, peças, novelas e séries de TV que ele participou. O texto (escrito pelo ator e pelos diretores) conta esta história e é narrado tanto pelo próprio Paulo José como pela família e pelos seus companheiros de cena, como Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Joana Fomm, Fernanda Montenegro, Helena Ignez, Marieta Severo, Matheus Natchergaele, Selton Melo, Mariana Ximenes, dentre outros.
O filme começa com a câmera seguindo, de costas, os passos do octogenário Paulo José e, em seguida, pula para o ator andando na mesma posição num filme dos anos 60. É desta forma inusitada que os diretores criam a narrativa do documentário: imagens de Paulo José dos mais de 50 filmes, 26 novelas, 18 séries de TV, além das produções que dirigiu, são interligadas para contar sua história de vida.
Por intermédio de fragmentos destas produções, o filme conta a trajetória do ator, desde os primeiros tempos no Rio Grande do Sul, sua carreira em São Paulo onde ajudou a criar o lendário Teatro de Arena (atuou dentre outras peças em Os Fuzis da Senhora Carrar/1962, de Bertolt Brecht e A Mandrágora/1963, de Maquiavel, em que ganhou o prêmio Molière) e sua transferência para o Rio de Janeiro, onde sua carreira no cinema e na TV deslanchou. Paulo participou de produções fundamentais para a evolução do cinema brasileiro, como O homem nu/1968, Os marginais/1968, Macunaíma/1969, O rei da noite/1975 e de novelas de grande sucesso como O primeiro amor/1972, Gabriela/1975, O casarão/1976 e o seriado Shazan, Xerife e Cia, que consagrou a dupla formada por ele e Flávio Migliaccio.
Sem se ater a cronologia, o filme, com esta colagem de imagens, faz um grande painel da produção audiovisual do país, já que, ao cobrir a extensa carreira de Paulo José, apresenta também grandes filmes do período, incluindo os mais recentes, como Benjamin/2004, Quincas Berro D’água/2010 e O Palhaço/2011. E outro dado inusitado do documentário é que, na maioria das vezes, quem narra o texto está na tela contracenando com Paulo, com exceção das que já faleceram, como Leila Diniz (que dividiu a cena com ele nos primeiros filmes da carreira), Dina Sfat (sua primeira mulher e mãe de suas três filhas, Bel, Ana e Clara) e Marília Pêra (juntos na novela Super Manoela /1974 e no filme O rei na noite).
O documentário termina mostrando a festa dos 80 anos do ator (que mesmo sofrendo de mal de Parkinson há anos nunca abandonou a carreira) e de um show em que Paulo divide o palco com Jards Macalé e interpreta um poema do também gaúcho Mário Quintana. Belo e comovente registro da vida e obra de um dos grandes artistas brasileiros.
Fotos: divulgação
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