De Maurício Mellone em outubro 25, 2018
Numa mistura de realidade e ficção, o monólogo Trajetória Sexual, do ator carioca Álamo Facó, reconta as mais variadas experiências sexuais e afetivas de X (a cada sessão o ator pede sugestão à plateia do nome a ser dado ao personagem). O espetáculo, em cartaz no SESC Ipiranga fecha a trilogia criada pelo ator; os outros dois solos, Mamãe e Talvez , também serão encenados em novembro, dentro do projeto Teatro Mínimo, do Sesc Ipiranga, dedicado a espetáculos intimistas de autores contemporâneos.
Com direção coletiva (de Facó, Renato Linhares e Gunnar Borges), o solo reúne as experiências amorosas e sexuais do personagem, que é uma junção das vivências do próprio ator, de seus amigos e de pessoas que ele conheceu pela vida. O espetáculo é constituído destes relatos de sexo com homens, mulheres e pessoas transexuais, questionando, desta maneira, tabus e preconceitos da sexualidade humana ainda arraigados entre nós em pleno século XXI.
Depois da entrada da plateia, as luzes são apagadas e o ator faz a primeira narrativa totalmente no escuro; ele relata como na infância teve sua iniciação amorosa/sexual com o primo, quando dormiam juntos na casa da tia nas férias escolares. A lembrança da respiração do primo a seu lado e das primeiras sensações táteis ele levou consigo para toda a vida. Os relatos se sucedem, acompanhando o crescimento do personagem, com seus envolvimentos com a namorada, com outros homens, com o primo já adulto, com uma transexual, com mulheres mais experientes.
As descrições sobre as relações sexuais são diretas, sem qualquer tipo de pudor; no entanto estes relatos não se restringem apenas ao sexo. O personagem fala tanto de seus envolvimentos amorosos, sua entrega com as pessoas que conhece, assim como sobre a rejeição e a recusa a uma relação afetiva mais próxima e duradoura.
“A peça deseja diminuir barreiras e quebrar tabus sobre temas delicados da sexualidade. O mundo está mudando de forma veloz e, para isso, é preciso uma sociedade que reflita e debata essas mudanças. Enquanto escrevia este texto, vi o conservadorismo avançar no país. Junto com ele, vi uma juventude, expansiva e libertária, que luta pra não morrer e faz isso brilhando. Por que as pessoas se metem no corpo dos outros?”, questiona Álamo Facó.
Muito adequado ao projeto do Sesc (Teatro Mínimo), o espetáculo envolve o espectador, que chega a sentir a pulsação do ator em cena. E este é o grande destaque da montagem: a entrega, a coragem, o despojamento e a atuação visceral de Álamo Facó. Literalmente nu, o ator faz as últimas confissões com a porta aberta da sala de espetáculo, o que enfatiza o tom libertário da peça.
Assisti ao solo na estreia e a trilha, um pouco alta, em alguns momentos atrapalhou e encobriu a fala do ator. No entanto, este problema (facilmente sanável) não prejudicou a tocante e envolvente performance de Facó. Programe-se, a temporada vai só até 11 de novembro.
Roteiro:
Trajetória Sexual. Texto e atuação: Álamo Facó. Direção: Álamo Facó, Renato Linhares e Gunnar Borges. Direção de movimento: Marcia Rubin. Cenário: Adriano Carneiro de Mendonça e Antonio Pedro Coutinho. Figurino: Ticiana Passos. Direção musical: Rodrigo Marçal. Trilha sonora: Álamo Facó e Rodrigo Marçal. Iluminação: Bernardo Lorga. Videografismo: Pedro Cadore. Preparação vocal: Sonia Dumont. Fotografia: Rodrigo Ricordi. Produção executiva: Sara Machado e Thamires Trianon. Produção: Álamo Facó e 9 Meses Produções.
Serviço:
Sesc Ipiranga, Auditório (30 lugares), Rua Bom Pastor, 822, tel. 11 3340-2000. Horários: quinta e sexta às 21h30, sábado às 19h30 e domingo às 18h30. Ingressos: R$ 20, R$ 10 e R$ 6. Venda: portal Sesc e suas bilheterias. Classificação: 18 anos. Duração: 70 min. Temporada: até 18 de novembro.
Mamãe: de 15 a 18 de novembro; quinta às 18h30, sexta 21h30, sábado às 19h30 e domingo 18h30.
Talvez: de 22 a 24 de novembro; quinta e sexta às 21h30 e sábado às 19h30.
Deixe comentário