De Maurício Mellone em janeiro 3, 2012
Assim como o CineSESC que, depois de apresentar a Retrospectiva do Cinema Brasileiro em dezembro, abre a programação 2012 com um filme envolvente, tenho a grata satisfação de começar o ano aqui no Favo com a resenha sobre este filme, Triângulo Amoroso, do diretor alemão Tom Tykwer, que dirigiu em 1998 o premiadíssimo Lola rennt (Cora Lola Corra). Numa discussão extremamente contemporânea, Tykwer revê conceitos da relação amorosa quando apresenta o casal Hanna e Simon (Sophie Rois e Sebastian Schipper ) em crise depois de 20 anos juntos tendo experiências inovadoras com Adam (Devid Striesow); tanto Hanna como Simon se apaixonam por Adam sem nem desconfiar em que armadilha estavam entrando.
O ambiente em que o diretor insere a trama de Triângulo Amoroso não podia ser melhor: a efervescente Berlim de hoje, símbolo da modernidade, com personagens muito bem adaptados a esta realidade. Hanna, uma apresentadora de programas de entrevistas na TV, vive há 20 anos com Simon, um curador de arte em corporações, mas não são casados formalmente. Com a relação desgastada, Hanna conhece Adam, um cientista/geneticista, num congresso médico e de cara há uma eletricidade e/ou química entre eles. Simon, por sua vez, além da crise conjugal é arrebatado com a doença e morte da mãe e em seguida sabe que está com câncer em um dos testículos. Depois da cirurgia, ele recomeça a vida e num de seus treinamentos na piscina (uma linda academia de vidro, com a piscina tendo um espaço de comunicação externa), conhece Adam. Eles disputam na piscina e nos vestiários há a primeira experiência homossexual de Simon.
Sem saber, o casal divide a cama com o mesmo homem, Adam; ele vive só (já foi casado e tem um filho) e não se envolve com ninguém com quem se relaciona. No entanto, assim como Hanna e Simon, o cientista fica perturbado com este envolvimento e confessa à ex-mulher estar apaixonado.
Com uma linguagem ágil e dinâmica — em determinados momentos a tela se divide em vários quadros, com cenas complementares acontecendo simultaneamente —, Tykwer também assina o roteiro, cuja temática no fundo põe em cheque o tradicional modelo de relação romântica, em que se exige exclusividade no amor e a possessividade é a tônica da relação. Hoje em dia acredito que poucas pessoas defendem este tipo de casamento, no entanto estamos ainda procurando a melhor alternativa para que o amor se expresse sem dominação ou castração.
A proposta para o amor no século XXI está muito bem defendida em Triângulo Amoroso. Basta saber se a gente consegue colocá-la em prática ou se não passa de uma experiência de laboratório proposta pelo diretor e roteirista.
Para juntar-se a Tom Tykwer nessa discussão, Arnaldo Antunes e Marisa Monte apresentam o mesmo tema, na canção Amar Alguém:
“Amar alguém só pode fazer bem/
Não há como fazer mal a ninguém/
Mesmo quando existe um outro alguém/
Mesmo quando isso não convém./
Amar alguém e outro alguém também/
É coisa que acontece sem razão/
Embora a soma cause divisão/
Amar alguém só pode fazer bem”…
Elementos para reflexão sobre a relação amorosa que queremos hoje em dia estão aí dispostos, resta a cada um de nós escolher o caminho que mais o satisfaça!
14 Comentários
Cláudio Messias
julho 5, 2013 @ 19:12
Vi esse filme em um canal pago no final de semana (não recordo-me qual canal). Na abertura o nome do filme aparece como “3”. É isso mesmo? Pergunto por entender que a relação exposta no filme vai além de um triângulo amoroso.
Um abraço, e parabéns pelo site! Gostei muito!
Maurício Mellone
julho 8, 2013 @ 12:20
Cláudio:
Este filme esteve nos cinemas de Sampa no início de 2012; não tenho informação
se o diretor já tinha realizado outras histórias sobre o casal
(acredito que não).
O final é surpreendente, fiquei apaixonado pelo filme!
Obrigado pelos elogios ao meu blog, volte outras vezes.
abr
julia
janeiro 30, 2013 @ 10:50
Desculpe-me Mellone, foi mais uma brincadeira que qualquer outra coisa, quando disse que você entrega o filme todo, foi na boa, não era uma crítica, perdão! É fato que em todas as críticas acaba-se contando muito dos filmes, e até mesmo por isso é que as leio somente depois de assisti-los.
No comentário que fiz faltou dizer que uma das coisas legais no cinema alemão é a escolha de atores, que, ao contrário de Hollywood, não é feita privilegiando a beleza física, eles buscam por tipos genuínos e comuns, aqueles com os quais a gente realmente cruza nas ruas de Berlin. Hollywood faz crer que o amor e os acontecimentos são um privilégio dos belos, e muitas pessoas passam a acreditar que cinema só pode ser feito com protagonistas perfeitos. Gostei muito do filme e da direção também.
Maurício Mellone
janeiro 30, 2013 @ 14:05
Júlia:
Adorei sua participação, mas me preocupo muito, ao escrever,
em não afastar leitores e sim cativá-los a voltar a me visitar!
Se vc puder ler a resenha sobre o filme Amor (umas das últimas publicadas),
vai perceber que não falo como o diretor propõe a solução do problema
do casal de idosos da trama. Mas não posso deixar de mencionar a relação
deles e o problema de saúde da velhinha.
Obrigado por sua visita e vou esperá-la mais vezes.
Abr
julia
janeiro 29, 2013 @ 08:00
Gostei muito do filme.
Se as pessoas fossem honestas, consigo mesmas e com seus parceiros, haveriam muitos mais encontros desse tipo. Muitos homens amam suas mulheres e escondem sua bissexualidade porque as convenções sociais assim os obrigam. Ou seja, vidas duplas existem aos montes e a torto e à direito por aí, já a vidas triplas é mais rara porque envolveria a verdade sobre cada um. Mentimos muito e vivenciamos muito pouco do que realmente somos.
Ainda bem que assisti ao filme antes de ler sobre ele aqui, pois você entrega o filme todo! rs.
Maurício Mellone
janeiro 29, 2013 @ 13:00
Julia:
Um ano depois de ter sido publicada a resenha, recebo seu comentário.
Confesso que já tinha me esquecido do que escrevi sobre o Triângulo Amoroso,
precisei voltar a post.
Fiquei muito assustado com o que vc disse (“você entrega o filme todo!”):
me policio sempre para não estragar a fruição estética dos meus leitores.
Mas vc tem de convir: como falar sobre o filme (que no título e no cartaz já
mostram o tipo de relação afetiva de que a trama vai desenvolver) sem mencionar
o envolvimento dos três personagens?
Sinto muto se vc achou q eu “entreguei” o filme…
Gostaria muito de contar com sua participação aqui: outro olhar sempre nos enriquece.
abr e até mais
Alison
janeiro 12, 2012 @ 19:52
Achei mto interessante, pois mostra um lado que achamos que nunca acontece.
Qdo se descobre que o marido é gay.
Ninguem imaginava que eles iriam ficr todos juntos, e ainda mais os gemeos são dos dois. PQ isso pode acontecer tbm.
Maurício Mellone
janeiro 13, 2012 @ 14:42
Alison:
A proposta do diretor/reteirista é mesmo inusitada; já a paternidade dos gêmeos
não podemos ter certeza, pois na vida real, um único espermatozoide pode gerar
no óvulo gêmeos. Na ficção pode-se tudo e, como vc sugere, cada um dos fetos pode
ser dos dois “pais”!
Obrigado pela visita e volte sempre!
abr
Mario Viana
janeiro 10, 2012 @ 17:29
Maurício, eu gostei do filme também. Ao contrário da Mari, não acho que ele imponha um ponto de vista, um receituário. Ele conta uma história possível, dentre milhões de histórias que acontecem o tempo todo.
Achei o trio charmoso, dentro de suas imperfeições físicas – o dentão do marido, o ar cansado da mulher, o ar de galã do médico…
Há cenas hilárias – quando o casal avista o amante no vernissage…
E sabe o que mais? Aquela piscina existe mesmo!!!!
Maurício Mellone
janeiro 11, 2012 @ 14:16
Mário:
Conversei com um amigo q morou em Berlim: ele disse q no verão
aquela piscina é a maior “azaração”! Uau!
Não quis comentar na resenha o último taque (a lâmina de laboratório) para não
entregar o “ouro”, como vc uma vez me orientou. Acho q a solução do diretor/roteirista
pode muito bem ser uma ‘experiência de laboratório’. Tentemos, cada um a sua, pra
sermos felizes em nossas relações afetivas!
Obrigado pela visita e pelo incentivo!
Bjs
Mari
janeiro 6, 2012 @ 23:52
Achei a trama enrolada – deixando a impressão de que se conseguiria dizer o mesmo com muito menos – e os diálogos previsíveis.
Só se consegue salvar de um completo marasmo porque faz enquadramentos ousadíssimos (e o tempo todo, diga-se de passagem).
A atriz que interpreta a mulher sedutora no triângulo é uma senhora insossa desinteressante e com voz de bruxa. O galã é uma espécie de Edson Celulari versão germana (completamente trabalhado no botox). Mas os sorrisos insinuosos dele me deram altas crises de riso durante o filme – realmente patético. rsrs
Além disso, o filme praticamente empurra a idéia de que a bissexualidade e a poligamia é a verdadeira solução para os problemas de relacionamentos humanos. No relacionamento dos três não existem coadjuvantes, todos desempenham o papel principal e lidam com isso de forma amigável e desembaraçada no fim. Arram, vai nessa…
Gostei mais dos “Amores Imaginários”.
Maurício Mellone
janeiro 9, 2012 @ 14:30
Mari:
É sempre bom qdo um filme (ou qq expressão artística) provoca visões diferentes.
Vc não gostou de Triângulo Amoroso, mas eu adorei!
A proposta que o diretor/roteirista deu para a relação daqueles três vc não concorda.
Mas no mínimo ele (o diretor) questiona o modelo tradicional de relação romântica
(exclusividade aliada a possessividade); só isto é uma grande contribuição para a
discussão contemporânea de uma vida afetiva!
Adorei seu comentário, volte sempre q puder!
Obrigado, bjs
Laura Fuentes
janeiro 6, 2012 @ 11:25
Curioso como vêm aparecendo vários filmes com essa temática. Deles, o que mais gostei foi o francês “Para poucos”. Agora vem você com sua doce provocação, e vou ter que assistir a este…rs Por essas e por outras é que adoro vir aqui te visitar. Beijão
Maurício Mellone
janeiro 6, 2012 @ 14:17
Laura:
Tenho certeza q vc vai adorar. O diretor é tb o responsável pelo roteiro e
a proposta dele para o Triângulo Amoroso é convincente.
Talvez não seja a decisão que a maioria das pessoas teria, mas vale conferir!
Bjs e obrigado pelas visitas constantes e pela força!