De Maurício Mellone em julho 1, 2013
Usando e abusando da tecnologia mais sofisticada de comunicação existente hoje em dia — tablet, smartfone, notebook, câmeras, celular— o dramaturgo alemão Falk Richter discute na peça Deus é um DJ o eterno dilema do ser humano: como a relação de amor entre duas pessoas se estabelece e se sustenta.
A montagem, dirigida pelo escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva, traz dois artistas que foram contratados para ficarem confinados numa galeria de arte. Ele um DJ, interpretado por Marcos Damigo, e ela uma VJ, vivida por Guta Ruiz, ficam cercados de câmeras e o material produzido por eles mesmos sobre esta experiência é vendido e veiculado pela internet. Vida e arte, realidade e ficção se misturam e o espectador torna-se cúmplice da relação do casal graças ao grau de proximidade que a montagem proporciona entre palco e plateia. A peça fica em cartaz no MIS somente até este domingo, dia 07 de julho.
A sala onde é apresentada a peça no MIS tem capacidade só para 60 lugares e, ao entrar, as pessoas são cumprimentadas pelos dois atores que já estão do palco. A descontração e a intimidade são logo estabelecidas e o que me chamou a atenção foi a maneira sutil como Marcos Damigo passa a viver o personagem ficcional. Por meio de uma canção que ele mesmo coloca para ser ouvida, a história do DJ vem à tona e o público percebe que aquele local é o confinamento dele e da VJ, que se conheceram anos antes e que agora vivem esta inusitada experiência profissional e pessoal.
O texto, até então inédito no país, faz uma análise do comportamento do jovem que hoje vive nas grandes metrópoles e está inteiramente conectado ao mundo por meio da tecnologia. O vício à tecnologia e seu uso mais consciente são mencionados pelo dramaturgo alemão: em carta enviada especialmente para a montagem brasileira ele enfatiza:
“Acredito que com as novas tecnologias estamos começando a ter uma nova geração de pessoas trabalhando em rede. Espero que todos percebam que eles não têm só de postar um vídeo engraçado no You Tube. Eles podem usar essas redes para lutar por seus direitos: um bom trabalho, um governo melhor, melhores salários e melhores maneiras de lidar com o meio-ambiente e equilibrar o poder econômico em um mundo mais justo”, avalia Falk Richter.
Mais do que o aparato tecnológico e a proposta de veiculação de suas intimidades na rede de computadores, o casal confinado na verdade checa seus mais íntimos sentimentos e até que ponto o amor que sentem um pelo outro será capaz de se sobrepor aos traumas e limitações de cada um deles diante da vida.
Com ritmo e dramaticidade muito bem dosados, Deus é um DJ encanta e envolve a plateia. Destaque para a direção de Marcelo Rubens Paiva, que deixa Marcos Damigo e Guta Ruiz em perfeita sintonia em cena. A iluminação de Tomás Ribas, a cenografia de Ana Kalil e a direção musical de Nado Leal também merecem ser ressaltadas, pois trabalham em conjunto para ressaltar o caráter de confinamento dos personagens.
Não deixe de conferir: em cartaz somente neste final de semana!
Fotos: Kelson Spalato
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