Última semana para conferir O Filho Eterno, adaptação do sucesso literário de Cristovão Tezza

De em abril 2, 2012

Charles Fricks protagoniza o monólogo baseado na obra de Cristovão Tezza

Depois de uma temporada de sucesso no Rio, os paulistanos só têm até o próximo domingo para conferir no Teatro Anchieta/SESC Consolação O Filho Eterno, adaptação teatral do premiado livro de Cristovão Tezza que retrata a difícil relação de um pai com o nascimento de seu primeiro filho, portador de síndrome de down.
A transposição de qualquer obra artística de um veículo para outro é sempre delicada. Quando se trata de um livro que venceu diversos prêmios nacionais e internacionais (inclusive o prêmio Jabuti/2008) a tarefa é ainda mais árdua. No entanto Bruno Lara Resende foi feliz na adaptação da história de Cristovão Tezza para os palcos: optou por um monólogo, o que acentuou ainda mais o drama do pai que é obrigado a lidar com suas próprias limitações diante do nascimento do primogênito, portador de síndrome de down. Sob direção de Daneil Herz, Charles Fricks é este pai em crise, o que já lhe rendeu o prêmio Shell/RJ 2012 de melhor ator.
Além da precisa iluminação de Aurélio de Simoni, o ator dispõe de uma única cadeira como cenário para viver o drama daquele pai, que de uma alegria e euforia inicial com a notícia do nascimento de seu primeiro filho é obrigado a encarar a frustração e a dor com a constatação que o garoto possui uma deficiência mental congênita, chamada de  trissomia do 21, em que a criança nasce dotada de três cromossomos 21, e não dois, como é normal. É a chamada síndrome de down, que além de alterações faciais provoca dificuldades de aprendizado, retardo intelectual, doenças no coração e dificuldades na audição. No entanto, a criança com esta síndrome deve ser estimulada com fisioterapia, fonoaudiologia e educação especial para o desenvolvimento e integração social. Todo este processo é amplamente vivenciado na obra do escritor, que dá ênfase à relação que se estabele entre pai e filho.
No livro, fiquei com a impressão que a transformação de sentimentos do pai é muito mais sofrida do que no monólogo teatral. Além da passagem da euforia para a frustração depois de constatar a anomalia do filho, há, principalmente, o nascimento do afeto entre o adulto e a criança. Como toda a história é narrada pelo pai, a revolução interior fica mais evidente no palco, graças é claro à interpretação visceral de Charles Fricks.

Na pele do pai em crise, Fricks já faturou o prêmio Shell-RJ de melhor ator

O ator, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, acredita que mais do que a dificuldade em lidar com um filho portador de síndrome de down, o texto de Tezza é sobre relacionamento humano: “Pra mim, o livro é sobre a dificuldade de aceitar o diferente. O que está em questão é, sobretudo, a intolerância; queríamos que a adaptação tivesse esta abrangência”, argumenta Fricks.
O Filho Eterno, em cartaz somente até o dia 8 de abril, próximo domingo, é uma das grandes montagens teatrais da cidade. Pena que a temporada foi tão pequena.

Fotos: Dalton Valério


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