De Maurício Mellone em março 19, 2019
O cinema argentino é surpreendente. De temas corriqueiros e do cotidiano saem roteiros bem elaborados e filmes edificantes. É o caso de Um amor inesperado, do diretor estreante em longa-metragem Juan Vera, filme sobre a relação amorosa entre Marcos e Ana, interpretados brilhantemente por Ricardo Darín e Mercedes Morán, que depois de 25 anos casados e após a saída de casa do filho único, resolvem se separar.
A crise do ninho vazio, quando o casal volta a ficar sozinho após a saída dos filhos, desencadeou a reflexão sobre a vida a dois entre Marcos e Ana; eles não brigaram, estavam bem, se amavam, mas havia um vácuo em suas vidas. A separação proporcionou a ambos vivenciarem novas experiências e, principalmente, reavaliarem o que cada um sente pelo outro.
A trama começa com Marcos numa biblioteca contando um pouco o que aconteceu com seu casamento. Corte e a cena seguinte é com o casal no aeroporto se despedindo do filho que vai estudar na Espanha. Já nas primeiras horas Ana se debruça sobre as fotos de família e Marcos tenta reanimá-la; mas a melancolia que ela sente é mais do que a falta do filho (eles conversam pelo computador constantemente); há um vazio em sua vida que ela não sabe explicar a razão. Marcos, um pouco depois, também começa a sentir-se diferente e, sem qualquer discussão ou atrito, eles optam pela separação.
Ambos iniciam a idealizada ‘feliz vida de solteiro’: com ajuda de aplicativos de relacionamentos, vão a boates, bares e conhecem todo tipo de parceiro. Cada um a seu modo, depois de várias tentativas, refaz sua vida amorosa. Ana é a primeira a se casar novamente com um conhecido do trabalho e Marcos também estabelece novo relacionamento. No entanto, depois de mais de três anos da separação, tanto Ana como Marcos voltam a estar sós. Numa conversa virtual (a tela se divide em dois, um de cada lado em suas casas) o espectador percebe a eterna ligação entre eles; um encontro marcado pode ser definitivo para este caso de amor. A cena final retoma os primeiros takes: eles se reencontram na biblioteca da universidade em que Marcos leciona.
Como se vê, o roteiro assinado pelo diretor e por Daniel Cúpuro, não apresenta nenhuma discussão inovadora ou original, pelo contrário, revela o cotidiano de um casal maduro que vive uma crise profunda. Entretanto, a forma como a trama é desenvolvida (a comparação entre a opção de Ana e Marcos e a vida de amigos do casal) e como os temas são discutidos (fidelidade, rotina no casamento, vida sexual na maturidade, traição, cumplicidade, visões sobre a vida dos filhos e amor sincero) são os elementos que tornam Um amor inesperado um filme cativante. E os personagens centrais, Marcos e Ana, são tão verdadeiros e profundos graças à comovente interpretação de Ricardo Darín e Mercedes Morán. Trama mescla humor com reflexão profunda sobre os relacionamentos nos dias atuais. Imperdível!
Fotos: divulgação
2 Comentários
Soraia Nunes
março 19, 2019 @ 18:38
Maurício,
A sua resenha fez isso comigo: Preciso assistir este filme urgente !!!!
Obrigada.
Maurício Mellone
março 20, 2019 @ 12:03
Soraia,
tenho certeza q vc vai gostar e
refletir muito sobre seu momento atual.
Fico na torcida por vc!
Bjs