De Maurício Mellone em março 22, 2018
O diretor argentino Diego Lerman tem uma forma bem particular de contar sua história em Uma espécie de família. Nos primeiros 15 minutos o espectador não tem a menor noção do drama que vive aquela mulher. Indecisa e preocupada, Malena, interpretada por Barbara Lennie, está dirigindo numa estrada, numa noite chuvosa. Pela manhã chega a um hospital de um vilarejo do interior da Argentina e é recebida pelo médico, Dr Costa (Daniel Aráoz), que indica o local onde está sua paciente, a parturiente Marcela, vivida por Yanina Ávila. As duas dão a impressão que já se conhecem e a grávida diz a Malena que quer comer chocolate. Aos poucos e com muito cuidado a trama vai sendo revelada: Malena também é médica e recebe a permissão de assistir ao parto. Ela fica extremamente emocionada com o nascimento do bebê, mas a mãe se recusa a vê-lo. O que está por trás deste parto é um nebuloso processo clandestino de adoção: Malena queria muito adotar uma criança, mas se vê envolvida num emaranhado de chantagens e extorsão.
Numa coprodução Argentina, Brasil, França, Polônia e Dinamarca, o roteiro (uma parceria do diretor com Maria Meira) é desenvolvido paulatinamente, com poucos diálogos e ênfase nos sentimentos, tanto da mãe biológica como da médica que deseja adotar a criança (em vários momentos estes sentimentos são antagônicos). Se por um lado Malena, que aceitou se submeter a um processo informal de adoção, não esperava ser extorquida em troca da criança, Marcela, mesmo não tendo condições de criar mais um filho, sente-se injustiçada, pois não acredita que algum dinheiro chegará as suas mãos.
Como a adoção não segue os padrões oficiais, tudo é realizado na clandestinidade, o nebuloso das ações volta à tona: quem é o vilão, quais as vítimas, quem está realmente envolvido na venda ilegal de bebês. Estas são algumas das questões que assolam o espectador, que também precisa descobrir o real envolvimento no caso do Dr. Costa, das enfermeiras do hospital e do orfanato, dos familiares de Marcela, dos funcionários do cartório de registro, da polícia e até do juiz, já que o caso de Malena vai parar na Justiça.
O filme é um misto de drama, suspense e denúncia social. Sem julgamentos aos atos das duas mulheres— tanto Malena como Marcela têm justificativas muito bem fundamentadas para se envolverem na adoção —, o diretor imprime um final surpreendente, deixando que o espectador reflita e pense numa solução para o caso. Destaque para a interpretação de Barbara Lennie e Yanina Ávila, que emocionam na pele de mulheres envoltas na maternidade. A brasileira Paula Cohen faz uma participação na pele de uma advogada de caráter um tanto duvidoso. Vale a pena conferir.
Fotos: divulgação
2 Comentários
Adriana ruiz
novembro 28, 2018 @ 18:03
Este filme me chamou muito a atenção pela sua temática de denúncia social num drama que nos prende. Neste sentido gostei muito do filme A Cordilheira que mostra o drama familiar e político vivido pelo presidente argentino (interpretado por Ricardo Darín), num dos melhores filmes de drama que assisti neste ano-apesar da produção ser de 2017. Creio que o destaque fica para a interpretação de Dolores Ponzi no papel de Marina, filha do presidente e pivô dos dilemas vividos no longa.
Maurício Mellone
novembro 29, 2018 @ 10:28
Adriana,
esta resenha sobre o filme “Uma espécie de família”
postei há tempos….
Que bom q vc gostou da trama e até indica outro filme.
Obrigado por seu comentário, volte mais vezes ao Favo.
Abr