De Maurício Mellone em julho 23, 2014
O grupo carioca, Companhia Aberta, depois de um ano e três temporadas de sucesso no Rio, finalmente chega a São Paulo com a montagem Vermelho Amargo, baseada na obra do poeta mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, que faleceu em 2012. A adaptação para o palco do livro — vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura/2012 como melhor livro do ano — é de Dominique Arantes e Diogo Liberano, que dirige o espetáculo. A temporada paulistana no SESC Pinheiros é curta, sessões somente sexta e sábado, até final de agosto.
De acordo com o diretor, o objetivo do grupo foi transpor para o palco a poesia de Bartô, como carinhosamente o escritor era conhecido:
“A montagem é um olhar nosso sobre o Vermelho Amargo. Um olhar feito por muitos olhos, tal qual um céu estrelado. Um olhar desenhado por muitas vozes e profundamente tingido pelo amadurecer do caminho”, argumenta Diogo Liberano.
A peça tem dois momentos narrativos bem distintos: no primeiro plano, à direita do palco e com figurino atual, está um homem saudoso (interpretado por Vandré Silveira) que representa o presente e revisita seu passado dolorido; já no centro do palco, com figurino feito de retalhos, estão dois garotos (Daniel Carvalho Faria e Davi de Carvalho) que encarnam a memória daquele homem na infância.
Enquanto o narrador tenta organizar seus pensamentos e lembranças, os dois garotos vivenciam aquelas memórias. Com a morte da mãe, uma mulher sensível e carinhosa, aquela família se desestrutura e os filhos tentam superar, cada um de seu jeito, a dor e a perda. O narrador lembra que não podiam contar com o pai sempre alcoolizado e sofriam com o descuido da madrasta; assim um irmão mastiga vidro, a irmã passa a miar, já que o gato era mudo, e a outra irmã só bordava.
Como uma catarse, o poeta, na epígrafe de seu livro, resume o que levou a escrever a obra:
“Foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar o seu amargor”
A montagem de Vermelho Amargo da Companhia Aberta mantém o tom lírico e poético da obra de Bartolomeu Campos de Queirós. A luz de Daniela Sanchez (intencionalmente vermelha), o figurino de Júlia Marini rico de significações, o cenário de Bia Junqueira que marca bem o presente/consciente e o passado onírico e a trilha sonora tocante (de Felipe Storino) envolvem o espectador, que viaja no tempo e nas memórias daquele personagem, que traz muito da experiência do próprio escritor. A direção precisa e a interpretação emocionada dos três jovens atores coroam de êxito a montagem. As lágrimas finais do narrador comovem a todos, saí do espetáculo em estado de graça! Coloque em sua agenda, o espetáculo é imperdível!
“Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos.”
(Trecho do livro)
Fotos: Anna Clara Carvalho
2 Comentários
Imad
julho 24, 2014 @ 18:05
Querido Mau, hoje mesmo vou tentar comprar ingresso dessa peça. Para quem quiser adquirir o bom livro, está pela metade do preço até o fim do mês, pois a Cosac Naify está com promoção de aniversário! Bjs
Maurício Mellone
julho 25, 2014 @ 14:46
Imad,
se vc já leu o livro do Bartolomeu Campos de Queirós,
vai adorar a adaptação para o teatro. Segundo Vandré Silveira
(ator da peça e que foi o protagonista de “Entremeios”, minha peça teatral
que vc teve a chance de assistir), a adaptação não fez cortes na obra.
Confira e me conte.
Obrigado pela dica da promoção para comprar o livro
bjs e fico muito contente com suas visitas constantes aqui!