De Maurício Mellone em maio 31, 2018
Num momento tão conturbado em que vivemos, em que a violência, a intolerância e o preconceito ainda prevalecem — o Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade LGBT —, nada melhor do que responder com AMOR, respeito e dignidade. Esta a proposta da peça de Antonio Ranieri, Vidros Arriados, em cartaz quartas e quintas no Espaço Parlapatões e com direção de Marcio Macena, em que dois homens, interpretados pelo próprio Ranieri e por Rogério Mendes, de vidas e temperamentos opostos se encontram e vivenciam todas as etapas de uma relação amorosa.
A troca de olhares, a ligeira paquera, o primeiro encontro, o afastamento, a ansiedade da espera, o reencontro, o ciúme, a traição, a separação e finalmente a entrega ao verdadeiro sentimento que une as pessoas, o amor. Tudo isso, que faz parte da maioria das relações entre dois amantes, é experimentado pelos dois rapazes.
Com sutileza e extrema delicadeza que o encontro entre Luiz (Ranieri) e Mario (Mendes) é apresentado na montagem. Primeiramente, o público é recebido na entrada da sala pelos dois atores, que fazem questão de cumprimentar um a um todos os espectadores. E a direção optou por dispor os dois personagens em lados opostos do palco: como eles têm experiências de vida muito diferentes — Luiz é gay e não tem problema com sua sexualidade enquanto Mario é heterossexual, casado, insatisfeito e preso a modelos tradicionais — a história é narrada alternadamente, com cada um revelando a sua versão. Até o primeiro encontro, numa festa de fim de ano na empresa em que trabalham, os personagens narram a mesma situação cada um do seu ponto de vista e no seu espaço físico do palco. A partir do primeiro e tórrido encontro deles, o espectador passa a descobrir a dificuldade de Mario em assumir seus desejos e sentimentos, ao mesmo tempo em que Luiz se frustra com a impossibilidade de realizar uma vida plena ao lado de quem ama. O encontro e o desencontro entre os dois são divididos com a plateia, que se torna cúmplice daquela relação.
“Não pretendo levantar bandeiras com essa encenação, mas brincar com os clichês da comédia romântica, falar dos estereótipos e do amor entre duas pessoas. O amor nos dias de hoje é mais do que um sentimento, é um ato político e de resistência. Meu discurso/antídoto a toda tristeza que nos assola é o amor. E o seu, qual é”, questiona Antonio Ranieri.
Além da história singela e bem articulada, o destaque de Vidros Arriados é a sintonia entre direção e equipe técnica: tanto a luz de Cesar Pivetti e Vânia Jaconis como a trilha sonora de Pietro Leal são elementos essenciais para a narrativa e o desempenho dos atores em cena. O cenário, de poucos elementos e assinado pelo diretor, também corrobora para a condução da trama.
Roteiro:
Vidros Arriados. Dramaturgia: Antonio Ranieri. Direção, cenário e direção de arte: Marcio Macena. Elenco: Antonio Ranieri e Rogério Mendes. Trilha sonora: Pietro Leal. Assistência de direção: Rodrigo Risone. Figurino: Marcio Macena. Iluminação: Cesar Pivetti e Vânia Jaconis. Fotografia: Caio Oivedo. Produção Executiva: Elder Sereni e Verônica Bondezan. Direção de produção: Antonio Ranieri. Realização: AR Produção Artísticas e A Minha Cia.
Serviço:
Espaço Parlapatões (100 lugares), Pr. Franklin Roosevelt, 158, tel. 11 3258-4449. Horários: quarta e quinta às 21h. Ingressos: R$ 40. Bilheteria: terça a quinta das 16h às 21h; sexta e sábado das 16h a meia-noite e domingo das 16h às 20h. Vendas: www.compreingressos.com.br. Duração: 70 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 28 de Junho.
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