De Maurício Mellone em julho 14, 2014
Depois do imenso sucesso estrelando o filme A Grande Beleza, Toni Servillo está de volta e desta vez em dose dupla. Em Viva a Liberdade (Viva la liberta), do diretor e roteirista Roberto Andò, o ator vive os irmãos gêmeos Enrico Oliveri e Giovani Ernani, que têm temperamentos opostos e não se veem há anos. Enrico é senador e secretário de um partido de oposição e está em campanha para se reeleger. Já seu irmão acaba de deixar uma clínica psiquiátrica, mas está recomeçando sua vida. O destino faz com que suas trajetórias voltem a se cruzar, o que acarretará mudanças na vida de ambos.
O filme começa com a chegada de Enrico a uma assembleia do partido em que fará um discurso. Mostrando-se abatido, o senador, mesmo antes de iniciar sua fala, é hostilizado por uma mulher da plateia; o político consegue discursar, mas ao voltar para casa admite sua instabilidade emocional e resolve viajar sozinho; deixa apenas um bilhete para a esposa Anna (Michela Cescon). Com o sumiço do senador, seu assessor Andrea (Valerio Mastandrea) — aconselhado por Anna — resolve procurar Giovani e propor que assuma o papel do senador. Com temperamento oposto ao irmão, Giovani aceita a proposta e tudo se inverte.
Se de um lado o político, em depressão, vai se refugiar na casa da antiga namorada Danielle (Valeria Bruni Tedeschi ) para se refazer, Giovani (sempre alegre) se dá muito bem: suas primeiras entrevistas e aparições públicas surpreendem, principalmente pelo tom desconcertante de suas falas diretas, verdadeiras e incomuns no meio político. O resultado é uma reviravolta nas pesquisas, com o senador voltando a ter chance de se reeleger. Enrico também se transforma: longe da Itália (Danielle mora na França) e dos problemas cotidianos, ele pode usufruir do anonimato e fazer um balanço de sua trajetória de vida.
Com um enredo envolvente e situações divertidas — um homem que foi tido como louco assumindo posições de liderança no país —, Viva a Liberdade faz uma sátira inteligente e corrosiva dos políticos e de seu habitat (convenções partidárias, campanhas políticas, acordos, alianças e reuniões de governantes). Ao mesmo tempo a trama traz um lado delicado e sensível, com os personagens tendo a chance de se revisitar e se reciclar. O grande destaque do filme, sem dúvida, é para a extraordinária atuação de Toni Servillo, que com pequenos gestos e posturas compõe dois personagens completamente distintos. O espectador precisa ficar atento para descobrir qual dos irmãos gêmeos está diante da tela.
Como iremos entrar num período de campanha eleitoral, saí do cinema com a ilusão de que pudesse existir um candidato a cargo público que transformasse o meio político e se apresentasse com propostas voltadas a solucionar verdadeiramente a vida de todos os cidadãos!
Só por esta reflexão, Viva a Liberdade é um filme indispensável neste ano eleitoral.
Fotos: divulgação
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