De em abril 9, 2012
O longa Xingu do diretor Cao Hamburger é lançado em boa hora: além de resgatar a história de vida dos irmãos sertanistas Villas-Bôas, o filme pode ajudar na discussão sobre o tipo de crescimento que queremos para o Brasil, justamente quando o país irá sediar em junho próximo a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável).
A discussão que se vê retratada no filme — integração e reunião dos povos indígenas na região central do país, conhecida hoje como Parque Indígena do Xingu — é atual, já que tanto os índios como os povos das florestas são invariavelmente agredidos por posseiros, grandes exploradores de madeira e até por obras monumentais, como a hidrelétrica Belo Monte, que está prevista para a bacia do Rio Xingu, no Pará. Os movimentos sociais e lideranças indígenas da região são contrários à obra porque consideram que os impactos socioambientais não estão suficientemente dimensionados.
O filme se restringe ao período anterior à criação do Parque do Xingu, com ênfase no trabalho dos três irmãos Villas-Bôas, Orlando, Cláudio e Leonardo, interpretados por Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat. No início os três se interessaram pela expedição Roncador por puro sentimento de aventura (queriam deixar a cidade para viver na floresta); mas com o avanço da expedição, iniciada em 1943, eles tiveram contato com os índios e suas culturas e ampliaram seus objetivos. Não era possível mais integrar as nações indígenas pela força, num processo de aculturação. Entenderam que era preciso preservar as várias culturas, das diferentes nações indígenas; surgiu então a ideia de reuni-los numa grande região, como uma forma de defesa e de sobrevivência de todos aqueles povos. Ao lado de líderes indígenas e o apoio de intelectuais, antropólogos, jornalistas e políticos, os Villas-Bôas criaram, em 1961, o que hoje é conhecido como Parque Indígena do Xingu.
O filme mostra toda a trajetória dos sertanistas, desde a inscrição deles na expedição, os primeiros obstáculos físicos em desbravar uma região até então inabitada pelo branco, os primeiros contatos com os índios, até a integração dos Villas-Bôas e seu grupo de apoio (médicos, enfermeiros e peões) com a causa da preservação dos índios.
Sem didatismo ou excesso de dados históricos, Cao Hamburger, que assina o roteiro ao lado de Elena Soarez e Anna Muylaert, conta a história do ponto de vista dos índios, por meio da atuação e do trabalho dos três irmãos sertanistas. Por isso que resgata a história dos Villas-Bôas, que segundo o próprio diretor, já “estava sendo esquecida”. Com as cores e o vigor da região central do Brasil, Xingu emociona, principalmente pela defesa de uma causa tão humanitária como a dos índios. Em entrevista ao site Bem Paraná Cao fala sobre o trabalho dos Villas-Bôas:
“Toda a minha percepção sobre este tema mudou depois que, como parte da pesquisa, fiquei um tempo no parque. Vi e senti os índios de outra maneira. O marechal Rondon criava reservas na periferia das cidades para integrar o índio. Já os Villas Bôas os isolavam, mas não eram contra a integração. O parque hoje tem internet: se os índios querem podem usar o tênis Nike. A escolha é deles, mas a sua cultura está preservada, e isso é fundamental”, diz.
Participam do filme os atores Maria Flor, Augusto Madeira e Fabio Lago, além de Maiarim Kaiabi, Awakari Tumã Kaiabi, Adana Kambeba, Tapaié Waurá e Totomai Yawalapiti.
Fotos: divulgação
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