Diga que não me conhece: solo de Vinicius Aguiar sobre homoafetividade

De em outubro 8, 2024

Vinicius Aguiar é o protagonista do espetáculo, uma adaptação do livro de Flavio Cafiero

 

 

É sempre muito difícil a transposição de um obra literária para os palcos ou para o cinema: cada veículo tem sua especificidade e o público pode ter expectativas frustradas. No entanto, o romance de Flavio Cafiero, Diga que não me conhece, ganhou adaptação teatral  — em cartaz no Teatro Itália até 27 de outubro —  pelas mãos de Ester Laccava e Vinícius Aguiar, ambos profissionais com profunda formação em artes dramáticas.

 

 

Ester, atriz com mais de 40 anos de carreira, dirige o monólogo de Vinicius, ator cearense há 20 anos trabalhando em São Paulo com diretores consagrados. O resultado é uma peça ágil, dinâmica sobre as aventuras e desventuras amorosas de Tato, um homem com seus 40 e poucos anos que é surpreendido com o final do relacionamento com seu grande amor. A partir desta desilusão amorosa, ele tenta refazer a vida afetiva na agitada e multifacetada vida noturna gay de São Paulo.

 

 

 

 

As andorinhas são os animais mais felizes do mundo. Muito triste ver o animal mais feliz do mundo em pedaços

 

 

 

Flavio Cafiero, Vinicius Aguiar e Ester Laccava

 

 

O espetáculo começa exatamente como  o livro, numa comparação das andorinhas com a vida amorosa dos gays: o personagem central da trama está só depois do final do namoro e totalmente alquebrado.

 

 

 

 

 

 

 

 

Além do término da relação, Tato é chamado para a realidade: ele toma consciência que está na chamada crise dos 40 anos e revê toda sua trajetória de vida. Para se reequilibrar volta para as origens (é natural do Espírito Santo), mas entende que não faz mais parte daquele universo e retoma sua vida paulistana. Tudo é narrado de forma não linear, com dinamismo, num ritmo alucinante, sem seguir uma linha cronológica.

 

 

Ator assina a adaptação com a diretora

 

Tato se vê inserido nas relações amorosas superficiais dos anos 2000 da metrópole paulistana, em que os conceitos de vida a dois estão em ebulição e transformação, em particular entre as pessoas da comunidade LGBTQIA+.

 

 

“A experiência de adaptar o livro foi de muita dedicação e respeito à obra do Flavio Cafiero. Busquei dar uma dinâmica para o palco, deixar claro a dor de quando a gente perde um amor. A ressaca de uma perda foi o fio condutor da peça”, explica Ester Laccava.

 

 

 

 

 

 

 

O palco principal onde se desenrola a história é num edifício do centro de São Paulo e as baladas e festas em que Tato frequenta também são na capital paulista. O inusitado é que o teatro onde a peça está sendo apresentada situa-se na mesma região e o público, na grande maioria, é da comunidade LGBT. A identificação é imediata, inequívoca, assim como a do próprio ator:

 

 

“Há cerca de dois anos ganhei de presente o livro do Flavio e já nas primeiras páginas tive vontade de contar nos palcos a história de Tato. Mais do que a saga de um homem gay entrando na meia idade e que perdeu um grande amor, além de suas impressões de recém chegado na São Paulo dos anos 2020 — uma história tão próxima da minha —, o que me motivou fazer a adaptação foi a inquietude que se instalou em mim, como alguém que se olha no espelho e reflete a solidão, desesperança, a superficialidade das relações destes tempos”, confessa Vinícius Aguiar.

 

 

Luz e trilha coesas com a atuação do ator

 

 

O que chama a atenção do espetáculo é a forma ágil impressa pela direção na condução da narrativa. A iluminação, aliada à trilha sonora dão a tônica exata das festas gays que o personagem frequenta. Outro destaque da peça é a interpretação pulsante de Vinicius. Saí do teatro com a impressão que o texto de Cafiero transmite, ou seja, o olhar amargo e um tanto sem esperança para as relações afetivas dos nossos dias, sejam elas homo ou hetero. Uma questão a ser refletida por todos.

 

 

 

 

 

https://www.instagram.com/digaquenaomeconhece/

 

 

 

 

Roterio:
Diga que não me conhece. Texto: romance de Flavio Cafiero. Adaptação e dramaturgia: Ester Laccava e Vinicius Aguiar. Direção: Ester Laccava. Atuação: Vinicius Aguiar. Desenho de luz: Sarah Salgado. Direção musical: Otávio Pedreira Ferraz. Figurinos: Lucas Magalhães. Fotografia: André Arthur. Visagismo: Edu Hyde.  Realização e idealização: Futuro Produções.
Serviço:
Teatro Itália (292 lugares), Av. Ipiranga, 344, tel: 11 3214 4579. Horários: domingo às 19h, terças e quartas às 20hs. Ingressos: R$ 60 e R$ 30. Vendas: Sympla. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 27 de outubro.

 


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