De Maurício Mellone em outubro 21, 2014
Um olhar minucioso para a relação amorosa dos pintores mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera. Esta a proposta da dramaturga Maria Adelaide Amaral em sua peça inédita Frida Y Diego, que acaba de estrear no Teatro Raul Cortez e deve cumprir temporada até dezembro.
Sob direção de Eduardo Figueiredo, Leona Cavalli interpreta a sofrida e intempestiva Frida Kahlo, que por mais de vinte anos esteve envolvida emocionalmente com o artista plástico Diego Rivera, 21 anos mais velho que ela. A trama faz um passeio de 1929 a 1953 (pouco antes da morte da pintora), entre o México, França e os Estados Unidos, relatando os encontros e rupturas entre os dois, numa história de amor, traições, brigas, reconciliações, mas com cumplicidade e amor incondicional.
Parte do cenário é constituída de grandes telões, em que são projetadas as obras dos dois pintores mexicanos e servem também para indicar ao público o tempo em que se passa a trama, já que a história não segue uma sequência cronológica. A cena inicial se passa em 1940, quando Frida chega ao ateliê de Diego depois de um período em que estiveram afastados; depois das rusgas iniciais, eles se reconciliam. A história tem um recuo de vinte anos, exatamente quando eles começaram o romance.
O vai e vem no tempo faz com que o espectador tenha uma noção de como era a relação afetiva entre os dois: uma atração avassaladora e um entendimento recíproco da vida, mas a possessividade e ciúme de Frida e o espírito galanteador e sedutor de Diego provocaram brigas, separações e rupturas, com consequências doloridas a ambos. As separações também contribuíram para o crescimento artístico deles, principalmente para Frida que se firmou como artista autenticamente mexicana.
A ideia de relatar a conturbada história amorosa de Frida Y Diego de maneira não linear é interessante para aguçar a curiosidade do público. No entanto, senti falta de um elo que ligasse melhor os períodos retratados, pois as cenas são apresentadas de forma estanque, por mais que o romance entre os artistas seja o pano de fundo. Nem mesmo a presença de dois músicos em cena — Wilson Feitosa Jr. (acordeão) e Mauro Domenech (baixo acústico) — ajuda na conexão entre os períodos focados e as localidades onde os personagens se encontram. Destaque para o trabalho de Marcio Vinicius, que assina cenário, figurino e adereços. A composição e caracterização de Leona Cavalli para Frida Kahlo também merece ser ressaltada.
Fotos: Gabriel Wickbold
2 Comentários
Imad
outubro 23, 2014 @ 16:23
Meu querido, renovo aqui meu agradecimento pelo privilégio de assistir ao espetáculo em sua companhia. Subscrevo integralmente suas impressões sobre a peça, principalmente quanto à confusão que geraram as datas/épocas transmitidas pelo telão. Um abraço, até a próxima!
Maurício Mellone
outubro 23, 2014 @ 18:11
Imad,
adorei poder contar com vc ao meu lado
na plateia!
Agradeço também pelas dicas com relação ao texto.
O produtor da peça não concordou com as observações
finais; justifiquei o que senti faltar (a ligação entre
as cenas e períodos históricos enfocados).
Mas este também é o papel da resenha: indicar o espetáculo
para o público (em especial os leitores do Favo)
e apontar o que discordo da montagem.
Obrigado pela frequente presença aqui e pela companhia no teatro.
bjs